Ah, os babacas... Os babacas são seres que merecem um capítulo à parte em todo e qualquer estudo que se queira mais abrangente sobre a natureza humana. Toda filosofia, toda sociologia, toda arqueologia, toda psicologia ou qualquer outro campo do conhecimento humano que não incluir um estudo sobre a babaquice em seus anais, estará epistemologicamente fadado a uma apreciação capenga do gênero humano por conta de uma má delimitação do corpus de estudo e pesquisa.
Antes de qualquer coisa, é preciso que se saiba que babacas existem por toda parte. E há os babacas dos mais variados tipos. Tem o babaca temporário, que resvala na babaquice por alguma contingência do espírito - o que não faz dele menos babaca. Tem o babaca aliciado: aquele que teve ou tem amigos que vivem na babaquice e que o levaram a experimentar a primeira dose da mais pura babaquice. Daí por diante, foi um mergulho vertiginoso no cruel mundo da babaquice. E se ele deixa de ser babaca por algumas horas que seja, tem crise de abstinência. Tem o babaca congênito: a babaquice, nesse caso, é quase atávica. A ciência ainda pesquisa e procura desenvolver um teste do pezinho eficaz para diagnosticar esse tipo de babaca ainda nos primeiros minutos de vida.
Babacas serão sempre babacas, não importa o quanto se esforcem para que a babaquice pareça menos babaca. Aliás, é típico dos babacas quererem parecer algo que não são: donde concluímos que os babacas não são nada confiáveis. E os babacas não têm noção de limite. Eles se espalham. Podemos esbarrar com babacas onde menos esperamos. Uma amiga minha há muito tempo não faxinava a casa. Quando resolveu fazê-lo, achou (pasmem!) um babaca morto, ressequido, atrás do bufê da sala de jantar. Tomou um susto a coitada. Difícil mesmo foi convencer os parentes, amigos, vizinhos e conhecidos que ela não sabia como aquele babaca tinha ido parar ali... Cá entre nós, essa minha amiga sempre teve uma queda por babacas.
Um babaca, para ser babaca, não precisa de muita coisa: basta água, comida e luz do sol para que um babaca cresça e não desapareça. Mas não se enganem: babacas não são organismos simples, como os platelmintos ou os anelídeos. Há bastante complexidade num babaca. Não à toa, existem até mesmo babacas que escrevem ensaios sobre a babaquice...
Babacas, via de regra, se orgulham da própria babaquice. E isso chega a ser tocante... Babacas não têm problemas de baixa autoestima. Ah, e como eles estão sempre felizes os babacas! A gente nunca sabe por que eles estão tão felizes (nem mesmo eles sabem), mas perto de um babaca a gente corre até mesmo o risco de achar que o babaca encontrou a fórmula ideal do “joie de vivre”. É preciso um tremendo esforço para não sermos contaminados pelo babaca. Identificou-se um babaca, recomenda-se manter certa distância: a babaquice pode certamente ser passada por osmose.
Alguns babacas são mesmo capazes de amar. Sim, babacas também têm coração. Mas cuidado com eles quando estão apaixonados: um babaca apaixonado multiplica exponencialmente sua babaquice! Exponencialmente e geometricamente, já que babacas nada mais são do que bestas quadradas. Há tristes relatos sobre babacas que se apaixonaram e se tornaram tão mais grandiosa e transcendentalmente babacas que sumiram na própria babaquice, assim como por encanto: fez-se um clarão imenso e... ploft! Sumiram, retornaram ao Nada original.
Há quem considere que a babaquice é um estilo de vida. Estão surgindo até mesmo revistas e outras publicações especializadas no que se convencionou chamar “the babaquism way life”: uma tendência, dizem os mais descolados. Mas é complicado reconhecer um babaca na rua ou em qualquer outro lugar. Porque, diferentemente das outras tribos, o babaca não apresenta traços, adereços ou acessórios que nos permitam identificá-los assim tão facilmente: não há um tipo de cabelo específico, um tipo de roupa, um tipo de música só deles. Os babacas, justamente por isso, se misturam facilmente em todos os grupos. Para reconhecer e identificar um babaca, só mesmo travando conhecimento com o mesmo. Por isso, mais uma vez, recomenda-se cuidado. Percebeu que é um babaca, afaste-se rapidamente: olha a osmose!
Mas os babacas, algumas vezes, são até bonitinhos... Ah, e são limpinhos também.
Há, entretanto, uma característica da babaquice que eu considero super legal, que eu diria até mesmo humanista: a babaquice é uma das coisas mais democráticas que conheço. Tem babaca pobre, tem babaca rico, tem babaca negro, tem babaca branco, homem, mulher, gay, lésbica, judeu, cristão, ateu, letrado ou iletrado; tem babaca no nordeste, na Amazônia, no centro-sul, em Nova Iorque, em Taiwan, na Sibéria e na puta-que-o-pariu. Babaca não escolhe onde nem quando nascer. Na história da humanidade sempre houve babacas, desde os primórdios, desde a pedra lascada. Acredito mesmo que já havia babacas já no gênesis e em todos os outros mitos da criação de que se tem conhecimento. A babaquice, na verdade, deve ser o que os babacas chamam de pecado original.
(Edmilson Borret – 24/08/2012)