Apatia provém do grego clássico apatheia.
Páthos em grego, significa "tudo aquilo que afeta o corpo ou a alma" e tanto quer dizer dor, sofrimento, doença, como o estado da alma diante de circunstâncias exteriores capazes de produzir emoções agradáveis ou desagradáveis, paixões. Assim, apatheia tanto pode significar ausência de doença, de lesão orgânica, como ausência de paixão, de emoções.
O termo apatheia foi usado por Aristóteles (384-322 a.C.) no sentido de impassibilidade, insensibilidade, e, a seguir, incorporado pela escola filosófica fundada por Zenon (335-263 a.C.), denominada estoicismo, para expressar um estado de espírito ideal a ser alcançado pelo homem durante a sua existência.
Segundo o estoicismo, o sofrimento decorre das reações despertadas no ser humano por quatro classes de emoções: a dor, o medo, o desejo e o prazer.
“Muitos temores nascem do cansaço e da solidão” (Desideratha)
“Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor” (Buda)
(Apud Renato Russo)
O ideal do estóico é alcançar a apatheia, ou seja, a natural aceitação dos acontecimentos, uma atitude passiva diante da dor e do prazer, a abolição das reações emotivas, a ausência de paixões de qualquer natureza.
Quatro poetas expressam sua atitude diante da dor. Ensaiam domá-la, educá-la, acarinhá-la, iludi-la, ignorá-la ou simplesmente edulcorá-la. Meu amigo de Orkut, Paulino Vergetti, dela escarneceu e agigantou-se. Baudelaire trouxe-a ao colo. António Botto dela maquiou-se e fez-se ainda mais belo. E o poeta menor que aqui vos fala dela fez sua cama.
Independo-me
Educar minha dor faz-me homem
por saber toda a sombra que me amedronta
tirando-me o fôlego,
jogando-me contra os penedos da dor.
Faço o que quero ser
sem medo ou com medo
mas a tudo ser.
Para ser igual a mim,
basta ser assim
encorajado,
dado,
refletido.
O mundo há de aprender comigo
a viver, a amar, a mentir...
a ser doutros mundos.
(Paulino Vergetti)
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Recueillement
Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille.
Tu réclamais le Soir; il descend; le voici :
Une atmosphère obscure enveloppe la ville,
Aux uns portant la paix, aux autres le souci.
Pendant que des mortels la multitude vile,
Sous le fouet du Plaisir, ce bourreau sans merci,
Va cueillir des remords dans la fête servile,
Ma Douleur, donne-moi la main; viens par ici,
Loin d'eux. Vois se pencher les défuntes Années,
Sur les balcons du ciel, en robes surannées;
Surgir du fond des eaux le Regret souriant;
Le Soleil moribond s'endormir sous une arche,
Et, comme un long linceul traînant à l'Orient,
Entends, ma chère, entends la douce Nuit qui marche.
(Charles Baudelaire)
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A fatalidade,
Várias vezes,
No meu caminho aparece;
Mas,
Não consegue perturbar
A minha serenidade.
Somente,
No meu olhar,
Poisa e fica mais tristeza.
Não me revolto,
Nem desespero.
- Quero morrer em beleza.
(António Botto)
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CONFISSÃO
Deixo às feminis fraquezas
e aos corações traídos
a patética atitude
de morrer de amor.
Na disputa impiedosa
entre vida e morte
meu amor vai passar ileso
e vai buscar no espaço mesmo
do sonho e da ausência
a matéria com que tecer
seu corpo junto ao meu.
(Edmilson BORRET)
Ninguém me expulsou do paraíso
Eu simplesmente decidi ir embora...
Por que às vezes escolhemos o que não queremos e o Destino lava as mãos.