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14.3.07

Por que, por quem escrevo...

Noite de Hotel

Noite de hotel
A antena parabólica só capta videoclips
Diluição em água poluída
(E a poluição é química e não orgânica)
Do sangue do poeta
Cantilena diabólica, mímica pateta

Noite de hotel
E a presença satânica é a de um diabo morto
Em que não reconheço o anjo torto de Carlos
Nem o outro
Só fúria e alegria
Pra quem titia Jagger pedia simpatia

Noite de hotel
Ódio a Graham Bell e à telefonia
(Chamada transatlântica)
Não sei o que dizer
A essa mulher potente e iluminada
Que sabe me explicar perfeitamente
E não me entende
E não me entende nada

Noite de hotel
Estou a zero, sempre o grande otário
E nunca o ato mero de compor uma canção
Pra mim foi tão desesperadamente necessário

(Caetano Veloso)




E nunca o ato mero de escrever um blog pra mim foi tão desesperadamente necessário!!!!! É catártico. Reinvento-me nas palavras. Refaço-me, descubro-me nelas. E delas me alimento. E, de certa forma, dou de comer também aos outros. É um lindo repasto.
Um antigo copidesque do jornal O Estado de São Paulo costumava dizer que uma "lauda em branco aceita tudo". Dizia isso para criticar a quantidade de sandices que se escreveu e que certamente se escreve até hoje, seja lá qual for a intenção. Talvez o meu blog seja mesmo um amontoado de sandices, talvez não... Mas isso a mim pouco importa. A lauda em branco é minha, nela eu escrevo o que eu quiser. E lê quem quiser também. De qualquer maneira, é minha terapia há alguns meses, é o meu tarja preta sem efeitos colaterais.
E aí, vieram me dizer certa vez que pouco visitavam meu blog por eu ser demasiadamente prolixo. Por serem minhas postagens muito longas. Lembrei-me de imediato de uma frase de Voltaire: "Perdoe-me, senhora, se escrevi carta tão comprida. Não tive tempo de fazê-la curta."
E por que haveriam de ser curtas e concisas minhas postagens? Como exigir concisão de um cara que é um emaranhado louco de idéias? Escrever, pra mim, sempre foi muito fácil. O fluxo vem e deixo a coisa rolar. E quando me dou conta, saiu aquela verborragia toda de sempre. Eu simplesmente não entendo por que me condenam. Sou assim e pronto. Gostem ou não. Que não me leiam então, porra!
Eu preciso escrever. É vital para mim. Aliás, acho que é a única coisa que sei fazer bem nessa minha vidinha de merda. É como disse o Neruda: "Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca idéias." E eu tenho tantas idéias... Às vezes nem sei o que fazer delas. Elas me fustigam às vezes, me mordem, me esbofeteiam. E quando finjo que não lhes dou atenção, só consigo piorar as coisas. Uma vez uma idéia me cuspiu na cara; d'outra feita, uma quase me furou os olhos. Elas exigem muita atenção as idéias. Aí a gente tem que parar o que estiver fazendo no momento para lhes ouvir. Na verdade, o ato de escrever é isso: conversar com nossas idéias. Foi Sofocleto, acho, que disse que escrever é simplesmente "uma maneira de falarmos sem que nos interrompam".
Pois é, nunca o ato mero de escrever (um blog, um diário, um poema, um recado) pra mim foi tão desesperadamente necessário. Aliás, acho que para quase todo mundo. Só que poucos se dão conta disso. Para fazer mais uma citação (como as fiz nessa postagem, não???!!!), lembrei-me agora de Saramago: "Somos todos escritores. Só que uns escrevem, outros não." E por que escrevo então? Bom, além dessa minha necessidade quase vital, escrevo porque quero ser lido. E como de muitas citações se compôs este texto...

"Escrevo para que meus amigos me amem ainda mais."
(Gabriel García Márquez)

"Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."
(Clarice Lispector)



Evohé, amigos!
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