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26.11.06

E vou é embora pra Pasárgada antes que essa porra exploda de vez!!!!!!


Muito pouca coisa ou quase nada me comove atualmente... na boa. Portanto, senhores, não me venham falar de suas dores e de seus amores. Assim mesmo: com bastante eco pra que reverbere bem em seus ouvidos moucos. Dores eu tenho as minhas. Amores eu tive os meus. Cada um que carregue sua própria cruz e não venha encher o meu saco. E também não me venham falar das crianças famintas no mundo, dos flagelados das guerras, dos doentes nos leitos dos hospitais. Tampouco me convidem para uma marcha pela paz, pelo desarmamento, pela defesa do meio-ambiente ou o que quer que seja. Primeiro porque sou preguiçoso e sedentário pra cacete para me enfiar em qualquer tipo de marcha. Segundo porque estou realmente cagando para os problemas do mundo. Quando foi que eu me tornei esse poço de insensibilidade? Em que momento exato eu desisti da compaixão pelos meus irmãos? Difícil precisar. Deve ter sido numa tarde ou numa manhã dessas aí qualquer de pura frustração e tédio. Sei lá, porra! Não lembro nem o que comi no café da manhã de hoje. Vou lá lembrar quando foi que parei de ter solidariedade e compaixão para com as dores alheias? “Mas Ed, e o engajamento político de antes? E o perigo da destruição em massa? Do aquecimento global? Da dizimação dos povos pelas doenças e pragas? Da hecatombe nuclear?” Mas que se foda a hecatombe nuclear!!! Pouco me importa as bombas que os escrotos donos do mundo quiserem lançar um na cabeça do outro, se minha bomba interna foi ativada há tempos e sei lá quando ela vai explodir, caralho!!!! Pra mim o que vier a partir de agora é lucro. Ô Bandeira, arruma um cantinho aí pra mim em Pasárgada, valeu? Tô chegando, meu velho! Meus companheiros aqui não estão entendendo nada, coitados. E eu tô dando choque. Sou uma bomba de nêutrons ambulante. Se eu lhes ofusco a vista, senhores, coloquem-me em quarentena então, ora essa!!!!!


ALTA VOLTAGEM

Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos
(Adriana Calcanhoto)



Numa manhã cinza e inacabada
tudo ardeu em mim em segundos
E aquela presença absoluta
circulando em mim contínua
elétrica e indetectável
ricocheteando em minhas células
Como numa noite de São João
a vista turvou para o céu pontilhado
o cruzeiro de ponta a cabeça
inverteu a polaridade dos meus dias
e a festa acabou mais cedo...
Mas poeta cambaleante e fraco
ainda tentei em versos tímidos
seguir a procissão das horas restantes
visitando antigos altares
rememorando nos ex-votos
a carne trêmula e trigueira
que andava à mostra e nua
nos templos urbanos da luxúria
ora envolta em vapores de eucalipto
ora difusa pela fumaça e projetores...
Chegada a noite no entanto
não era mais uma metrópole a atravessar
mas a certeza do silêncio
da casa inabitada onde outrora
o tilintar de taças, o resvalar de corpos
davam a vã promessa de um longo caminho...
O copo d’água sobre o criado-mudo
repousa em prisma à meia-luz
antes de conduzir garganta abaixo
o milagre científico e único que
dissimula a contento essa ardência
sem contudo aniquilá-la...
De uma ponta a outra do meu corpo
em correntes de múltiplos ampères
assola-me paradoxal voltagem...
Só isolante achado da modernidade
protegerá incauto e ávido amante
a desafiar temerário e louco
a fulminância de minhas descargas.

(Edmilson BORRET – num dia qualquer de outubro de 2006)
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