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26.7.07

Quase irmãos... Presque frères

Amanhã é meu aniversário, mas fui eu que decidi dar um presente a alguns amigos.

Em dois anos de Orkut, conheci pessoas fantásticas e maravilhosas... E algumas se tornaram indispensáveis na minha vida!...

Esse pequeno vídeo é justamente uma homenagem a alguns desses amigos. Aqui não estão todos os 400 contatos da minha lista orkutiana, é bom que se diga. Aqui estão os 10 amigos com os quais desenvolvi uma relação mais estreita, para além do virtual... Através do MSN, de telefonemas, de e-mails ou até mesmo pessoalmente, essas pessoas se tornaram mais que amigos virtuais; se tornaram confidentes... quase irmãos... Elas conhecem meus segredos, minhas dores, meus amores, meus choros e meus risos.

Obviamente que tenho outros amigos com quem também tenho esse mesmo tipo de relação (aliás, amigos estes que também estão na minha lista do orkut), mas este vídeo aqui é especialmente dedicado às relações que começaram graças ao virtual... Alguns ainda nem conheci pessoalmente, mas é como se já tivesse acontecido, tal é o grau de afinidade e cumplicidade !

Essa é a minha pequena homenagem a essas 10 almas que, de certa forma, ajudam a completar a minha!



Demain c’est mon aniversaire, mais c’est moi qui ai décidé de faire un cadeau à quelques amis.

En deux ans sur Orkut, j’ai connu pas mal de gens fantastiques et merveilleux... Et quelques-uns sont devenus indispensables dans ma vie !...

Cette petite vidéo-ci est justement un hommage à quelques-uns parmi ces amis. Ils ne sont pas là tous les 400 contacts de ma liste orkutienne, il faut que je le dise. Vous y trouverez les 10 amis avec lesquels j’ai développé un rapport plus étroit, au-delà du virtuel... Par MSN, coup de fil, mail ou même par des rencontres perso, ces gens sont devenus plus qu’amis virtuels, ils sont devenus des confidents... presque frères... Ils connaissent mes secrets, mes douleurs, mes amours, mes pleurs et mes rires.

Évidemment j’ai d’autres amis avec qui j’ai un rapport pareil (d’ailleurs, des amis qui sont aussi sur ma liste d’orkut), mas cette vidéo-ci est spécialement dédiée aux rapports qui sont issus du virtuel... Quelques-uns je n’ai pas toujours rencontrés en chair et os mais c’est comme s’il s’était déjà passé, à tel point on a de l’affinité et de la complicité !

Ceci est mon petit hommage à ces 10 âmes qui ont aidé, d’une certaine manière, à remplir la mienne !



Entretanto, é sabido que os vídeos no YouTube perdem muito em qualidade. Assim, se for do seu interesse, caros leitores, vocês podem baixar o arquivo wmv(50 MB) aqui.

Tout le monde sait pourtant que les vidéos sur YouTube perdent beaucoup de qualité, alors vous pouvez télécharger le fichier wmv (50 MB) ici, si vous y avez intérêt.

24.7.07

Temos todos duas vidas: uma a que sonhamos, outra a que vivemos

Dentre os filmes que tenho baixado da internet graças a minha novíssima, maravilhosa e super velocíssima banda-larga, hoje tirei o dia para rever o filme Quase dois irmãos, de Lúcia Murat, lançado em 2005. E falar sobre esse filme é bastante complicado, pois nele o que mais importa é a história em si... A produção, a fotografia, os atores estão excelentes, mas nada disso é maior do que a questão social apresentada. Como ser justo? Como alcançar justiça social? Eis a grande questão que parece permear toda a discussão a que o filme se propõe. Um sem número de complexidades caracteriza todos os níveis que podem servir de ponto de partida para falar sobre essa magnífica obra do cinema brasileiro: da história contada à montagem, das concepções ideológicas e políticas que afloram no filme ao balanço que nele se faz sobre a esquerda brasileira... Ah, a esquerda no Brasil... tsc tsc tsc tsc











A palavra “quase” que aparece no título é de uma exatidão impressionante (por mais paradoxal que essa minha afirmação possa parecer). Da tentativa de aproximação entre a classe média e os moradores da favela, o que sobra é apenas um planar sobre um imenso abismo. É dessa aproximação de aparência harmoniosa, porém tensa e nunca consolidada, que Lucia Murat vai construir as situações mais emblemáticas entre os personagens de Quase dois irmãos. A história – que basicamente acompanha dois personagens, Miguel e Jorginho, durante os últimos 50 anos – desenrola-se em três períodos distintos: a década de 50, época da infância dos dois; os anos 70 e o regime militar; e a época atual.


Na romântica década de 50, Miguel é filho de um boêmio jornalista branco e de classe média (interpretado por Fernando Eiras) que acompanha as rodas de samba promovidas pelo talentoso – mas nada reconhecido – Seu Jorge (interpretado por Luis Melodia), pai do negro Jorginho, amigo do filho do jornalista. Nos anos 70, os dois garotos reencontram-se na prisão da Ilha Grande. Miguel (Caco Ciocler), agora, é um intelectual de esquerda, preso por participar na luta armada, e Jorginho (Flávio Bauraqui ) é um criminoso comum. Passados 20 anos, Jorginho (agora interpretado por Antônio Pompeo), que continua na cadeia, agora no complexo de Bangu (de onde lidera o Comando Vermelho e o tráfico de drogas) é visitado pelo deputado federal Miguel (então interpretado por Werner Schünemann ) que busca autorização para implantar um projeto social no morro, numa tentativa desesperada de “afastar a juventude do tráfico” e, por tabela, distanciar sua própria filha do namorado, um “gerente” que opera os negócios de Jorginho. Não dá certo. Assim como não havia dado certo a união entre intelectuais e presos comuns 30 anos atrás. A filha de Miguel (a atriz Maria Flor) sobe o morro, mas também percebe a impossibilidade de firmar uma relação amorosa com Deley (Renato de Souza, ator do grupo Nós do Cinema), garoto de 20 e poucos anos que chefia o tráfico a mando de Jorginho.

Filmado sem continuidade temporal, e com uma fotografia lindíssima (um tom de “sépia” para os anos 50, preto e branco para a década de 70, e cores, nos anos 90), Quase dois irmãos é marcado pela maravilhosa trilha sonora de Naná Vasconcelos, entrecortada pela música “Quem me vê sorrindo”, de Cartola.

Muito bem realizado, mas com uma visão um tanto cética sobre a realidade, o filme serve como profunda reflexão sobre a necessidade de derrubarmos os muros e obstáculos para que possamos construir uma nova sociedade. E fica difícil não pensar no filme não só como um balanço político dos últimos anos da história brasileira, mas também como a reflexão um tanto quanto pessoal da própria Lúcia Murat (quase um mea culpa da esquerda), que foi dirigente estudantil, guerrilheira e presa política e que já havia discutido sobre os anos de chumbo da ditadura no seu filme Que bom te ver viva.

O filme tem como eixo central os desencontros entre esses dois mundos, cuja proximidade é ilusória. Ao metaforizar esta “realidade” a partir da dura convivência entre “morro” e o “asfalto”, Lúcia Murat reflete sobre esse gigantesco “quase” que separa os intelectuais e o povo, os negros e os brancos, os presos políticos e os comuns e, acima de tudo, a esquerda e os proletários... Pois é, meus amigos: engana-se quem pensou que alguma vez esquerda e proletariado estiveram juntos!... Marcada, de um lado, pelo ledo engano da experiência da guerrilha tupiniquim e, de outro lado, pelo aburguesamento e reformismo da “esquerda” institucionalizada dos dias de hoje (alguém aí lembrou de um José Dirceu?), essa reflexão da diretora emerge nesse alto grau de ceticismo. Assim, no filme, a gente vê esse “quase” se transformando em sólida e real impossibilidade na figura de um muro que, em dado momento, é levantado para separar os presos de uma mesma galeria da Ilha Grande.


Não é novidade para ninguém que o atual nível de organização do tráfico, em grupos como o Comando Vermelho, é atribuído à convivência entre presos políticos e comuns. Lúcia Murat, entretanto, faz um recorte no tempo e esmiúça o exato momento em que, em menor número em relação aos presos comuns que povoam o presídio, os presos políticos já não conseguem mais impor suas regras. E, se vendo ameaçados, exigem a separação. Regras essas, aliás, que se caracterizam por três leis que merecem destaque pelo conteúdo moralista que têm: “Aqui não tem pederastia (!?), aqui não se fuma maconha, aqui não se rouba”.

Homofobia, preconceito e moralismos à parte, o tal muro é erguido em meio a uma enorme polêmica que mostra as diferenças ideológicas entre as facções políticas de esquerda da época. A discussão sobre a possibilidade ou não de aproximar o “povo” das posturas revolucionárias tem, em um militante supostamente trotskista (mostrado de forma um tanto caricata), um dos poucos defensores da busca de uma solução para a questão. Aliás, é ainda através de metáforas – com o gato desse militante (que tem o sugestivo nome de Trotsky) – que também é cruelmente mostrado o tratamento que facções da própria esquerda dão aos seus adversários (matam o gato do coitado!). O filme trata, a cada seqüência, do choque de classes. Quando Miguel tenta persuadir outros presos comuns a seguirem as tais “regras do coletivo”, quando ele passa a impor medidas goela abaixo, os amigos de Jorginho obviamente não admitem e armam a insurreição contra a ordem vigente. E aí é simbólico quando a situação foge ao controle e o muro é erguido. Jorginho fala para Miguel: “Agora, sim... branco de um lado, negro do outro.... rico de um lado e pobre do outro”.

E é assim que os desencontros dos dois amigos de infância dentro da prisão, depois metaforizados mais uma vez nas grades que os separam na cadeia, já em 2004, prenunciam a tragédia para a qual o filme deslancha. Uma tragédia que, na visão da cética Lúcia Murat, é quase que inevitável. Tragédia moderna e urbana que marca os dois lados do muro, mas particularmente o “sonho” perdido da esquerda, representado por um verso de Fernando Pessoa que pontua todo o filme: “Temos todos duas vidas: uma a que sonhamos, outra a que vivemos”.

Embora fruto das experiências da diretora e de sua avaliação sobre o momento atual (ah, a esquerda no Brasil... tsc tsc tsc tsc), essa visão, infelizmente, parece ser a que impera, quando nos damos conta da impossibilidade de se erguerem pontes entre os mundos que o capitalismo cruelmente separou.

Como bem observou o escritor Paulo Lins – co-roteirista de Quase dois irmãos – “a gente só se encontra na arte”. Talvez a manifestação artística seja o único elo cultural possível e efetivo entre esses dois mundos. A única ponte possível sobre o abismo. O morro cria, a classe média assimila e agradece: o samba, o rap, o funk, o carnaval. Quase dois irmãos começa justamente com o compositor Luis Melodia, aqui no seu primeiro papel como ator, interpretando o pai de Jorginho, a entoar um samba, e dois moleques dançando na rua. “A música no filme tem um papel fundamental. É o ponto de encontro entre os dois mundos”.

E o filme é magnífico justamente nisso. Enquanto outros filmes brasileiros se esforçam para mostrar a violência como uma forma de chocar o público (não vá esperando um banho de sangue e tiroteios à la Cidade de Deus e Carandiru), Lúcia Murat trabalha brilhantemente com um roteiro em que o problema é visto como um todo: mostrando o seu início, ou seja, a violência de ontem e procurando, em 50 anos de história do Brasil, entender a raiz da violência de hoje, enfrentada nas grandes cidades.

O filme critica certa visão ideológica da esquerda brasileira dos anos 70 e nos mostra como ela não soube entender as camadas mais baixas da população. Esquerda esta que, sempre frente a uma dificuldade, cercou-se de proteção, colocando-se à parte do resto da sociedade. Entretanto, apesar da dura crítica à burguesia e à classe média, o enredo, em momento algum, é maniqueísta, personificando os personagens em mocinhos e bandidos. E aí reside a grandiosidade do filme. Questiona, instiga, mas não traz soluções. É assim o filme de Lúcia Murat: abre uma série de críticas e não nos ajuda a resolver os problemas – mas é esse mesmo o seu propósito. Talvez o grande mérito do filme foi o de ter dado uma aula de sociologia, abordando a relação entre a classe média branca e os negros favelados, sem ser chato em momento algum. O painel sociológico criado por Lucia Murat é pungente, é uma porrada no estômago. Obviamente, como qualquer avaliação abrangente, é passível de críticas. No entanto, os seus acertos são muito, muito maiores.

Belíssimo filme! O bonequinho Ed aqui aplaude de pé...


Assistam aqui ao trailer do filme.

Download aqui da linda canção do filme, com Luiz Melodia e Naná Vasconcelos.

20.7.07

Vôo 3054 da TAM - O dia que não acabou

Este foi, sem dúvida, o vídeo mais difícil que já fiz... Cada foto escolhida, cada palavra da letra da música, tudo me tocava profundamente. Ao terminar a tarefa, eu estava prostrado, esgotado, os olhos banhados em lágrimas...

Fico então aqui pensando que se eu, tão distante, me senti assim, o que devem estar passando os familiares e amigos das vítimas...

Não farei nenhum comentário sobre o acidente, não procurarei culpados... Minha revolta traduz-se em luto e nessa singela homenagem às vítimas, parentes e amigos.

19.7.07

Até quando esperar?

No Rio, em São Paulo, no nordeste do Brasil, em Paris, em Beirute, em Bagdá, em Nova Delhi, nos países da África ou da Ásia... é sempre a mesma violência, o mesmo descaso, a mesma tristeza, a mesma miséria... só mudam os rostos, os nomes, as cores e as línguas...


Jusqu'à quand attendre?

À Rio, à São Paulo, dans le nord-est du Brésil, à Paris, à Beyrouth, à Bagdad, à Delhi, dans les pays de l'Afrique ou de l'Asie... c'est toujours la même violence, la même indifférence, la même tristesse, la même misère.... il ne change que les visages, les noms, les couleurs et les langues...




Até quando esperar
(Plebe Rude)
Não é nossa culpa
nascemos já com uma benção
mas isso não é desculpa
pela má distribuição
Com tanta riqueza por ai
onde é que está, cadê sua fração?
Com tanta riqueza por aí
onde é que está, cadê sua fração?
Até quando esperar?
E cadê a esmola
que nós damos sem perceber
que aquele abençoado
poderia ter sido você
Com tanta riqueza por ai
onde é que está, cadê sua fração?
Com tanta riqueza por ai
onde é que está, cadê sua fração?
Até quando esperar?
A plebe ajoelhar esperando a ajuda de Deus?
Até quando esperar?
A plebe ajoelhar esperando a ajuda de Deus?
Posso, vigiar teu carro, te pedir trocados, engraxar seus sapatos?
Posso, vigiar teu carro, te pedir trocados, engraxar seus sapatos.
Se não é nossa culpa
nascemos já com uma benção
mas isso não é desculpa
pela má distribuição
Com tanta riqueza por ai
onde é que está, cadê sua fração?
Com tanta riqueza por ai
onde é que está, cadê sua fração?
Até quando esperar?
A plebe ajoelhar esperando a ajuda de Deus
Até quando esperar?
A plebe ajoelhar esperando a ajuda do divino Deus

15.7.07

Educação sentimental: estupre-me (ah Colbain, o que fizeste dessa geração?)


Não sei se estou mais para o flaubertiano Frederico Moreau, se para o enigmático e vampiresco Dalton Trevisan ("O que não me contam eu escuto atrás das portas. O que não sei, adivinho e, com sorte, você adivinha sempre o que, cedo ou tarde, acaba acontecendo.”) ou se para a fresquinha da Paula Toller; mas que ando tentando desesperadamente minha educação sentimental, isso é fato. Só sei que ultimamente venho construindo meus discursozinhos a partir de idéias que tentam assimilar um sem número de divagações que levam invariavelmente a um feixe de relações mitológicas, memorialísticas e psicológicas. Estou prenhe de mitos, memórias e psicologia barata. E isso, longe de me parecer uma riqueza, tem me deixado meio fora do ar. Não sei o que fazer de tudo isso. Há tanto o que dizer, caros leitores, e sinto que não sei por onde começar ou o que selecionar. É como se estivesse num espaço bem apertado, o in utero do Kurt Colbain, o cordão umbilical querendo me estrangular, os fórceps pressionando minha têmporas e eu no meio de muitas águas, querendo rasgar o ventre de minha mãe e vendo alguma luz no fim do túnel, onde sorrisos, lágrimas e aplausos me aguardam (Venha para a luz, Caroline!). Mas ao mesmo tempo que esse difícil parto é um rasgar de ventre e vagina maternos, é também um me rasgar. Se me exponho, me deixo rasgar, me estuprar.... Mas é isso aí, meu caro Colbain, i'm not the only one, rape me my friend, rape me again, hate me, do it and do it again, que eu pareço gostar e permitir que assim me invadam... De qualquer maneira, eu ando tão nervoso pra te escrever os versos mais profundos... ninguém vai resistir se eu usar os meus poderes para o mal... eu treino a tarde inteira o que é que eu vou falar, vai ser tão simples quanto eu vejo nas revistas... ninguém me explicopu na escola, ninguém vai me responder...


O que estou tentando dizer é que preciso pedir desculpas a vocês, caros leitores, pelos meus desvarios “umbiguistas” em recentes postagens, inclusive nesta aqui. Como está escrito acima, na descrição deste blog, “aqui vocês encontrarão considerações esparsas, algumas vezes sem nexo algum, a respeito desse meu caminhar: desabafos diários, poemas, notícias que li, trechos de livros que me tocaram”.... Certo é que ficou faltando um “etc” nessa enumeração, mas tão mais certo é que esse “etc” - e gostaria de deixar isso bem claro - que este “etc” não deveria ir, em hipótese alguma, até o delírio sentimental.


Assim sendo, faço aqui minha autocrítica, caros leitores. Aqui estou, de joelhos, a pedir-lhes clemência. Eu sei que não agi bem. Tinha o caminho reto à minha frente (ainda que “gauche”) e desviei-me. Me protegiam e me guardavam de todo mal os altíssimos desígnios deste blog e posterguei-os. Fui fraco, caprichoso, fútil e “umbiguista”. Fui enigmático, dúbio, inconseqüente e, sobretudo, incapaz de dirigir os meus esforços, a preciosa energia do meu intelecto, para a procura do bem comum. Revelei-me, em suma, lamentavelmente burguês. Por isso peço-lhes que me condenem já e com dureza, pois diante de tão horrendo crime qualquer pena será leve.
Sim, caros leitores, de cabeça baixa e mais corcunda do que já sou, eu admito: por mais que a palavra me queime os lábios ao pronunciá-la, eu fui um miserável traidor da sempiterna causa deste blog tão revoltadinho como se propunha no início. Que me venham as chibatadas, as masmorras infectas, o livrinho vermelho e as cuias de arroz mal cozido. Eu mereço isso tudo e muito mais.


Mea culpa, mea maxima culpa!



ALTA VOLTAGEM

Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos

(Adriana Calcanhoto)


Numa manhã cinza e inacabada
tudo ardeu em mim em segundos
E aquela presença absoluta
circulando em mim contínua
elétrica e indetectável
ricocheteando em minhas células
Como numa noite de São João
a vista turvou para o céu pontilhado
o cruzeiro de ponta a cabeça
inverteu a polaridade dos meus dias
e a festa acabou mais cedo...
Mas poeta cambaleante e fraco
ainda tentei em versos tímidos
seguir a procissão das horas restantes
visitando antigos altares
rememorando nos ex-votos
a carne trêmula e trigueira
que andava à mostra e nua
nos templos urbanos da luxúria
ora envolta em vapores de eucalipto
ora difusa pela fumaça e projetores...
Chegada a noite no entanto
não era mais uma metrópole a atravessar
mas a certeza do silêncio
da casa inabitada onde outrora
o tilintar de taças, o resvalar de corpos
davam a vã promessa de um longo caminho...
O copo d’água sobre o criado-mudo
repousa em prisma à meia-luz
antes de conduzir garganta abaixo
o milagre científico e único que
dissimula a contento essa ardência
sem contudo aniquilá-la...
De uma ponta a outra do meu corpo
em correntes de múltiplos ampères
assola-me paradoxal voltagem...
Só isolante achado da modernidade
protegerá incauto e ávido amante
a desafiar temerário e louco
a fulminância de minhas descargas.


(Edmilson BORRET)

12.7.07

Contra a maledicência e o sarcasmo, use a abundância de idéias, de amores e de risos

Então estive pensando que quando nada parece acontecer, é que coisas talvez estejam sub-repticiamente acontecendo. Quando pensamos haver uma aridez do caralho no campo das idéias, talvez o germezinho de uma puta idéia esteja se debatendo e se contorcendo justamente aí. Agora sigam meu raciocino: germe, campo... caralhos me mordam, fertilização!!!! Pois é, caros leitores, o tal germezinho fertilizou meu campo das idéias... engravidei! E como sempre fui/sou meio precoce em quase tudo, engravidei, gestei e pari.... tudo a um só tempo. Porque a grande sacação que me veio, na verdade, é que devo me forçar a ter idéias. Os lapsos deste blog estão cada vez maiores. Então apelei para a técnica da cornucópia (nada a ver com corno que trabalha com máquina de xerox, já vou logo avisando aos mais néscios!) para ter mais idéias para escrever. A partir de agora escreverei sobre tudo.... A cornucópia da abundância, segundo a lenda, é uma espiral que funciona assim: quanto mais usamos, mais riqueza vem. Na vida, isso também se aplica: aos ricos nada falta, tudo abunda. Como não sou rico de money, mas biliardário de idéias, resolvi delas fazer uso constante, só pra ver/sentir se algo em mim abunda... (caramba! adorei essa cacofonia... hehehehe)

A chave de tudo parece ser o humor. Porque o mau humor arrasta os pensamentos ralo abaixo, isso é uma verdade facilmente comprovável. E um sorriso sempre melhora tudo, gentileza gera gentileza e coisa e tal e aquele papo todo. A mais pura verdade, a gente sabe.
É que sempre se achou que o mau humor tivesse certo glamour filosófico... e até mesmo um certo charme... Pura cascata, caros leitores... Mau humor, pelo menos no campo das idéias, é uma praga. A partir do momento que resolvi cagar pro mau humor (mais uma vez, sigam meu raciocínio: cocô, o resultado da cagada, fertiliza tudo), parece-me que idéias começaram a brotar de todo canto. E cá estou para abrir esse imeeeeeenso parêntesis para discutir o impacto da extinção do mau humor e do sarcasmo para o meu ecossistema social e pessoal. Ah sim, outra praga a ser erradicada, não sem certa nostalgia, é a maledicência - esta é velha companheira, mas é fato que também nos arrasta à baixeza... Então passemos a freqüentar ambientes mais elevados: mosteiros no Himalaia, cumes nevados nos Andes, Machu Pichu ou até mesmo coberturas em Manhattan servem... mas há que se sair do rés-do-chão, do mesquinho e banal... freqüentar essas alturas onde todos parecem felizes e riem o tempo todo. Rico ri à toa, pode reparar. Os sábios também riem, embora mais discretamente. Estou treinando um riso búdico pra ver se abunda pro meu lado... (pausa para a foto)

Porque o grande segredo mesmo dessa porra toda é o seguinte, gente: se você não é feliz (pelo menos não como gostaria de ser), finja! Aja como se fosse, sorria muito, você perceberá como é fácil enganar os outros e até a si mesmo! Veja bem que esse é um segredinho de família que estou passando em primeira mão para vocês, caros leitores... E agora eu estou assim, quem nem besta, rindo à toa... Mesmo tendo um caminhão de motivos para estar puto da vida. Ok, ok, ok... Vocês não estão entendendo xongas do que estou falando com todo esse meu papinho risonho... É que estou cá pensando com meus botões (na verdade, velcro) se devo contar ou não... (pausa para eu pensar se vou contar mesmo)

Está bem, está bem... Mas vamos combinar assim: como boa celebridade que sou, eu não falo da minha vida pessoal... então vamos falar tudo de maneira genérica, ok?

Digamos assim que há algum tempo atrás eu andei meio no osso, na capa do Batman, como se diz... Mais para tiririca do brejo do que para flor do campo. A coisa estava “sinistra”, como diz a galera aqui da área onde moro: o financeiro, o emocional e, por conseguinte, a saúde, parece que tudo resolveu subir no telhado ao mesmo tempo... Mas vamos pular genericamente essa parte, porque o importante mesmo é entrar na tal lei da abundância. Porque o que vou dizer todo mundo sabe, e isso é fato, então volto a falar em termos genéricos: quando a gente está em fase encalhada, nem os mendigos olham quando a gente passa. Mas quando arranja alguém, é batata: todos os ex-futuros-casos, ficantes eventuais, potenciais e congêneres resolvem lembrar da sua existência, aparecer, telefonar, e até se materializar do nada, por acaso, no meio do seu caminho. Nada garante que, dentre estes, esteja o amor de sua vida, mas as chances aumentam muito... hehehehe... E da mesma maneira que se pode aplicar a lei da abundância e da cornucópia no campo das idéias, o mesmo se pode fazer no campo dos encontros...

Mas aí, vocês lembram das três pragas de que falei que impedem qualquer coisa de fertilizar e germinar? Sim, o mau humor, o sarcasmo e a maledicência.... Bem, o mau humor rolava por minha conta mesmo, no tempo em que eu não sabia fingir. O sarcasmo e a maledicência vinham dos olhos da vizinhança aqui da rua. Já haviam até mesmo decretado minha morte por antecedência. Tornei-me, aos olhos da massa ignara, colheita maldita 1, 2 e 3 e todas as continuações e refilmagens possíveis e imagináveis. Se fuderam de verde e amarelo!!!! Estou mais firme que nunca.

O que posso revelar genericamente aos leitores de Caras (ops, deste blog) é que, ao que parece, os olhos maledicentes agora me perscrutam por conta do meu riso à toa e dos meus muitos encontros. Como a maldição-do-fim-do-século dos tempos das vacas magras não se confirmou, os boçais agora andam espantados com a minha cornucópia.... Só sei que estou rindo de orelha a orelha e cagando e andando para esses infelizes.... E só fertilizando os campos (tanto das idéias quanto dos encontros) por onde ando.

Mas vejam bem: tudo isso que eu disse aqui, foi assim genericamente falando, ok? Não está mais aqui quem falou... hehehehe

Bjs e abraços felizes do Ed!
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