Seguidores

19.2.07

Oh, céus! Sou um “frutinha”!!!!!!

Estava aqui no meu cantinho, sossegado, pensando na vida e vendo a banda passar. De repente, aquela campainha irritante do MSN... Sem querer, esqueci de me esconder e sair do status "on-line"... Alguém me chamava: um chato de galochas que esqueci de bloquear.. ai ai ai... Ok, ok, não havia como fugir, tive que ir falar com a figura. Bem, quem já teve o privilégio de encontrar o Ed aqui on-line no MSN e veio papear, pôde observar que uso uma fonte rosa.... Isso mesmo: rosa. Algum problema? Pois é, mas pra tal figura isso pareceu ser um problema sim. Dei lá as minhas justificativas (não que eu me visse na obrigação de fazê-lo, mas só para ser educado) e continuei com o diálogo. Aliás, diálogo não; monólogo: já que as merdas ininteligíveis que o “péla-saco” escrevia não podiam, nem para o mais imbecil dos imbecis, ser considerado algo digno a levar alguém a considerá-lo um interlocutor. A uma certa altura do "diálogo-monólogo", a anta lança a seguinte pérola: “Ed, vc tem uma mania estranha de mandar beijos e abraços pra todo mundo nos scraps e nos posts do orkut, né?”. Reação de estupefação do Ed aqui: “Como assim estranha, rapaz?”. Pausa de longos minutos (perfeitamente compreensível: a figura devia estar fazendo um esforço enorme para concatenar as parcas palavras e idéias): “Ah, sei lá, isso de ficar mandando beijos pra outro homem me parece coisa de frutinha”... Meu mundo caiu.... OH, CÉUS! EU SOU UM “FRUTINHA”!!!!!!!!!... Hehehehehehe

Mas peraí!!! Quero aqui me rebelar contra essa definição injusta sobre minha pessoa. Por que “frutinha”? Já que é para sê-lo, que o seja pelo menos no grau normal ou no aumentativo: “fruta” ou “frutona”, porra! É isso aí: quero ser uma “fruta” sim. E se me fosse dado poder escolher, eu ia querer ser uma manga. Não uma manga qualquer, uma carlotinha bem pequenininha; mas uma bem grande: uma manga-rosa ou uma manga-espada. E por que exatamente uma manga? Para ser devorado com todo o prazer e deleite por quem me comesse. E manga é uma fruta assim, que a gente come sem culpa nem vergonha, se lambuzando todo: os dedos, as mãos, a boca e a cara... E aquele líquido a escorrer pelo canto da boca e a sujar a roupa e o chão, onde a gente senta como criança, de pernas abertas, a bacia de mangas no meio delas e se regala com o doce sabor da fruta. Se for para me comerem, que me comam assim: com prazer, chupando-me todo, até o caroço. E eu deixando meus fiapos por entre os dentes de quem me devorou tão prazerosamente... E meu caroço seria lançado ao solo, e dele nasceria uma mangueira frondosa, que daria sombra para um corpo cansado e muitos edmilsons-mangas para serem chupados e devorados por quantas bocas que se inebriassem com o sabor único de minha polpa... Que deve ser uma maravilha ser assim tão voluptosamente comido, saboreado e deglutido por alguém!!!!!
Você tem toda a razão, caro amigo-anta do MSN: eu sou não UM, mas UMA frutinha sim... E com muita honra, valeu? Vem cá chupar essa manga, vem! Aposto que você vai querer repetir e repetir e repetir. E sabe por quê? Porque sou um "moreno tropicano e todos querem meu sabor"... Eu hein, Rosa! (ou seria melhor: eu hein, manga-rosa... hehehehe)



Primeira enquete desse blog sem nexo:

Você, caro leitor, se lhe fosse dado ser uma fruta, qual você seria? E por quê?

De como chegamos ao que somos...

O texto abaixo é um apud de um apud. Explico: nas minhas perambulações e garimpagens por blogs alheios (coisa típica de insone, que quando não está tocando punheta, está fuçando na criatividade dos outros), fui cair no blog de uma tal de Hilda, uma mineira de 23 anos lá de Montes Claros. O texto foi enviado a ela por uma tal de Vera (que não faço a mínima idéia de quem seja) e é de autoria de um jovem diplomata, amigo do filho dessa Vera. Ele (o jovem diplomata, não o filho da Vera) escreve no blog Explorador Deitado na Rede e na mesma linha do texto "De minhas origens 4: O Efeito Borboleta", podemos encontrar os textos "De minhas origens 1, 2 e 3" no arquivo de Janeiro de 2006 do referido blog. É grande o texto? Sim, é enorme. Mas, como diz a tal da Hilda, vale a pena colar no Word, imprimir e ler no intervalo da novela, se for o caso... Faz a gente pensar sobre o que é que foi que trouxe a gente pra esse exato momento que estamos vivendo...


De minhas origens 4: O Efeito Borboleta


Eu gosto da idéia de que estou no controle de meu destino. Não que eu possa fazer qualquer coisa ou mesmo tudo que eu quero, há muito mais no mundo que foge completamente a meu controle, mas gosto da idéia de que o que sou é conseqüência de minhas próprias escolhas, para o bem ou para o mal, e que, portanto, em última instância sou o único responsável por onde e como me encontro. Livre-arbítrio é isso aí, uma responsabilidade da porra...

Mas de vez em quando eu tenho que me render a evidências de que talvez a parcela de minha vida sob meu controle seja muito, muito, muito pequena para fazer qualquer diferença. Fatos importantes têm uma causa última em eventos muito, muito, muito remotos e aparentemente inocentes, dos quais ninguém jamais poderia inferir suas conseqüências no longo prazo. Como a historinha da Teoria do Caos, uma borboleta bate as asas aqui e chove em Pequim. A idéia de conseguir ver essas relações de causalidade se aproxima da onisciência, o que em última instância seria paralisante - imagine se você pudesse calcular absolutamente todas as conseqüências de cada um de seus atos, você os cometeria mesmo assim? Seja lá qual for sua resposta, conseguiria dormir de noite?


Por exemplo, a profissão que exerço é resultado da faculdade que cursei. Nem todo mundo que cursou essa faculdade fez a mesma escolha profissional, mas há uma relação direta entre minha graduação e o concurso que prestei. Essas decisões determinam o fato de eu morar em Brasília e determinarão os lugares onde viverei no futuro próximo. Tomei essas decisões consciente de tais, e outras, conseqüências, mas sei que seria um ser completamente diferente se tivesse permanecido em Santos, por exemplo. Provavelmente feliz, mas totalmente ignorante de meu alter-ego candango, da mesma forma que não consigo imaginar como seria hoje meu alter-ego santista.


Porém, essas escolhas acabaram também por determinar uma parcela considerável de meu círculo de amigos, relacionamentos pessoais e profissionais, enfim, se eu não tivesse escolhido a faculdade e a profissão que escolhi, hoje eu estaria falando, saindo, beijando, bebendo e comendo com outras pessoas. De repente, todo meu destino, cada momento do meu dia-a-dia, é resultado de uma tarde preguiçosa e indecisa lendo o Guia do Estudante.


Mas podemos ir mais longe.


A escolha daquela faculdade em particular somente tornou-se uma possibilidade real porque eu tinha domínio de uma língua estrangeira - a esmagadora maioria da bibliografia do curso era, ainda é, em inglês. Comecei a aprender inglês, no Pink&Blue, antes mesmo deste tornar-se Freedom, na mesma época em que fui alfabetizado (fui alfabetizado duas vezes, nas duas línguas, na verdade).


Tanta precocidade, obviamente, não foi escolha minha, foi decisão de meu velho. Uma parcela considerável de meu destino, portanto, é resultado do dia em que meu velho pegou seu filho remelento no colo e disse para ele "Amanhã, você vai começar a aprender inglês" - eu provavelmente sequer tinha consciência da existência de outras línguas - "Por que, papai?" - "Porque é importante, filho".


Vamos levar esse raciocínio às causas últimas.


O que eu só vim a saber muito tempo depois é que eu não fui colocado em uma escola de inglês "porque é importante". A grande frustração da vida de meu velho é o fato de que ele não fala outra língua - fui levado a aprender inglês a fim de sanar um pouco essa frustração. Pais fazem isso, projetam nos filhos suas falhas e frustrações e tentam criá-los de forma que não as repitam - quase sempre dá errado, mas pais fazem isso.


E a frustração de meu pai decorre de um único evento que se passou no Guarujá.


Meu tio foi o primeiro membro da família a viajar para o exterior. Arranhava o alemão e foi mandado pela empresa para a Deutschlândia. No vôo de volta, sentou-se ao lado de uma jovem alemã que vinha para o Brasil sozinha morar com uns parentes e não sabia absolutamente nada de português. Essa menina se perdeu no aeroporto e, solidário, meu tio a ajudou a achar seus familiares, que ficaram extremamente gratos. A demonstração dessa gratidão veio em um convite para passar um dia na casa de veraneio da família alemã, no Guarujá.


O Guarujá então era o balneário da elite paulista, a patuléia se banhava em Santos. Hoje a elite seguiu para o Litoral Norte, Guarujá é sinônimo de farofada e ninguém tem coragem de se banhar em Santos.


Meu tio chamou meu velho, que tinha carro. Pegaram o fusquinha (cuja buzina soava como "Acorda, Maria Bonita") com suas então respectivas namoradas, ambas filhas do Seu Américo, e tocaram para o Guarujá. Estacionaram debaixo de um Chapéu de Sol, bem longe da enorme e intimidadora casa dos alemães, que tinha de tudo: churrasqueira, piscina, mais quartos do que meu velho podia contar, e até mesmo um campinho de futebol.


Tava a alemãozada toda lá, inclusive a menina perdida. Os alemães foram muito gentis, receberam muito bem os quatro. A conversa rolava animada, com um único porém: meu tio era o único que falava alemão.


"Wie geht's?"

"Mir geht's gut, danke sehr! Das buch ist auf der Tisch!"
"Ach so!"

E meu velho foi se sentindo pequenininho, com uma pontinha de vergonha de não poder participar da conversa, ainda que nunca tivesse tido oportunidade de aprender uma língua estrangeira. Então, a pontinha de vergonha virou humilhação quando o patriarca alemão disse com pouco sotaque:


"Que falta de educação, estamos aqui falando alemão, vocês não falam alemão...desculpem-nos... Vamos falar inglês, assim todo mundo entende"


Meu velho se sentiu um merda. Queria enfiar a cabeça na areia, pensou em se jogar na piscina, saiu de perto da alemãozada, tirou suas sandálias Havaianas e foi bater bola sozinho no campinho. Poucas embaixadinhas depois, para tornar o cenário ainda mais ridículo e humilhante, o velho pisou em um enorme monte de bosta dos rottweilers que cuidavam da segurança do patrimônio teutônico. Foi a gota, ele se mandou, puto da vida, ofendido com a humilhação que ele mesmo, sem querer, se impôs.


Naquele dia, embaixo de um Chapéu de Sol no Guarujá, cujas folhas mais macias foram usadas para tirar os últimos resquícios de cocô de cachorro de entre seus dedos, meu velho fez um juramento solene ao crepúsculo. Ainda que fosse tarde demais para ele, jamais seus filhos passariam por isso. Não, seus filhos seriam poliglotas, aprenderiam inglês, conquistariam o mundo depois, e nunca, nunca teriam que se preocupar com merda de rottweiler entre seus dedos.


Meu destino foi selado naquele fim de tarde. O Efeito Borboleta. Tudo que sou, cada instante de meu cotidiano hoje é, de certa forma, conseqüência daquele instante, fruto do fato de meu pai ter pisado na merda. Sou resultado de um monte de bosta.



Não sei por que, mas esse texto calou forte aqui em mim... O quanto o que sou hoje se deve à perseverança de uma única pessoa: minha mãe...
E aí me lembrei de um trecho do poeta Manoel de Barros que costumo usar para me definir... se alguma definição da minha pessoa for possível... hehehehehe


"(...) No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. (...)"


(Manoel de Barros)


Related Posts with Thumbnails