"Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais"
...
Porque eras assim, sob a toalha lunar
porque eras assim, sob a toalha lunar
e as estrelas debruçadas sobre ti, respirando
as tuas suspeitas noturnas. E ríamos mais
de vinte vezes por noite como
um ator antigo, que despe e veste
o próprio interior: ou como feiticeiros
com delicadas argolas de madrepérolas nos seios.
Mas também, às vezes, éramos barcas
muito pálidas, as proas perdidas no silêncio,
navegando devagar, com uma tristeza aberta e
pura por vento. E as nossas mãos abertas
eram velas, enlaçando, velejando. Nós,
finalmente, reduzidos a nós próprios
ao mesmo tempo.
(...)
e imagino agora todo o canibalismo
da tua docilidade, de onde emergia
um jardim intenso, onde teus olhos
adotavam nuvens. E eu, um alguém a serviço
dessa terra de borboletas, vivia entre
tulipas, piscinas de pólen, e me deitava
ao zumbido alado da vida intacta.
E enquanto trazias a virgem noite reclinada
sobre teus cabelos, quando a brisa
afaga as flores com doces mentiras, eu
tentava salvar-te de mim mesmo, de tua
terrível eternidade dentro
de mim. Observando. O quieto
navegar de estrelas em teus gestos revelando
que o teu sorriso é o universo
que tomba e te faz cócegas.
(Marcelo Sorrentino)
ACIDENTE DE PERCURSO
Teu mundo me veio de há pouco
e nele me perdi
Nessa one-way road impiedosa
teus faróis me iluminaram
antes que me lançasse longe
agonizante
o veículo que louco e vão
tentavas controlar...
Rastros de sangue na pista
sirenes e balbúrdia
O ar me falta e a dor consome
Pedestres se achegam
uns curiosos, outros indiferentes...
Nenhum beijo no asfalto!!!
A vida como ela é...
Sinais de vida no corpo inerte
Tum... tum... tum... tum...
- Afastem-se, senhores! Deixem-no respirar...
Tum... tum... tum... tum...
Tua imagem me vem em flashes...
Teus versos não são pra mim
Teu choro não é por mim
Nunca serei teu mundo
Não estou na tua pele
Não cuidarás desse pássaro aqui ferido
Não velarás meu sono
Não serei o fogo que te consome
Não cantarás pra mim
as músicas que te emocionam
Nem me verás nos filmes
que te encantam...
Tum... tum... tum... tum...
Tum... tum... tum...
Tum... tum...
Tum...
(Edmilson BORRET)