Seguidores

30.3.07

Por que, por quem escrevo... II





Adoro nomes
Nomes em ã

De coisa como rã e ímã...


(Caetano Veloso)








De novo o Caê. Ele diz gostar dos nomes em ã... Eu já gosto dos nomes em ente... Não sei por que, essa terminação me fascina. Uma palavra que adoro é premente: o que não permite demora, o que é urgente. Premente rima com gente. Gente pra mim é premente... Adoro gente. Amizade pra mim é premente. Consideração pra mim é premente. Premente é o afeto, o companheirismo, a dedicação ao outro. Disse em outra postagem que escrevo para ser lido e para que meus amigos me amem ainda mais, citando García Marques. Quem escreve descreve-se, é bem verdade. Mas também descreve outros. Descreve os seus pares. Esse retorno ao mesmo tema é para dizer que os entes que fazem a minha escritura é que me dão a minha verdadeira dimensão. Aproveito para pedir desculpa por não estar escrevendo nada tão premente assim nessa postagem. Não que o tivesse feito antes. Mas neste momento menos ainda. Vim aqui hoje mesmo só para comentar sobre os entes queridos. E isso pra mim já é muito...
Nas últimas 48 horas, cedi ao premente de rimar gentes. Já fazia algum tempo que tava querendo escrever esses entes, mas não sabia por onde começar. Havia o desejo, mas faltava a iniciativa, a motivação, o conteúdo… E sobejava a preguiça. No entanto o premente se impunha. Era preciso me dividir. Isso! Escrevo para me dividir... e para me multiplicar. Dividir para multiplicar. Escrevo para dividir com os entes coisas nem sempre tão prementes que vivencio, sentimentos, fatos marcantes, e muitas outras coisas… Enfim, para dividir com e nos entes algo do que eu sou… Nesse dividir-me, nesse partilhar de mim mesmo, espero que esses entes também se sintam motivados a dividir algo de si mesmos, efetuando-se assim a multiplicação da divisão… Sinto que uma onda de gozo me preenche quando me divido em entes… Me preenche tanto, que simplesmente não cabe só em mim… Também quero que o máximo possível de entes possam ter esse gozo premente de serem preenchidos desse jeito, ou de algum outro jeito parecido… Vamos aos entes!!!! Presentes... sempre...



GABRIEL’S HYM(e)N
a Arlete Gabriel

na feminilidade do arcanjo no nome
vem essa mulher de muitas luas
por entre ruas traçadas nos ares
anunciar-nos o gozo das horas
os pés nus a flutuar alçados em asas
por sobre as casas de uma terra outra
refletindo na janela de uma casa estranha
sua própria face desconhecida
ouvindo as vozes de carinhos ausentes
na propulsão de cada gota de sangue
sussurrante como a chuva
a queimar-lhe as veias mudas
que esbravejam para o céu acima
mas ainda assim ela sobrevive
na noite em que todos dormem
mundos encantados em sonhos despertos
em que amigos se saúdam conexos
no bálsamo de um beijo sem destino
que tem o efeito de um hino de graças
amazing grace
how sweet the sound that saved me

from the streets of philadelfia


(Edmilson BORRET – 28/03/07)



ESSA MULHER
a Miriam Assunção

Que me venha essa mulher irmã
nos seus sortilégios incestuosos
de impenetrável castidade pagã
eu menino dos olhos curiosos

Que me venha essa mulher amiga
em seus véus de nudez invisível
de entendimento claro que intriga
eu poeta do verbo raro e risível

Que me venha essa mulher fada
em encantos de bruxa nos dedos
de sorte em vôo de ave lançada
eu mortal de muitos arremedos

Que me venha essa mulher inteira
em suas várias caras e quases
de perícia esbelta e certeira
eu homem de certezas fugazes

Ela tem a magia de um rito druída
Ela tem o colo da casta madona
a flor da pele de Almodóvar assumida
o instante eterno das mulheres da zona

Ela tem o erotismo barroco dos anjos
tem o silêncio esclarecedor dos sábios
de scarlets, gildas e barbarellas os arranjos
de clarices, hildas e anaïs os alfarrábios

(Edmilson BORRET – 30/03/07)
Related Posts with Thumbnails