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10.11.07

Tô de saquinho cheio da tal geração saúde!



Estava eu lá parado em frente à banca de jornais olhando pro nada e pensando na vida. De repente, o “nada” assumiu cores chamativas em corpos não menos chamativos pendurados em capas de revistas que iam desde “Caras”, “Boa Forma” a “Men’s Health”. Aí eu pensei (pois é, porque de tanto olhar para o nada e pensar na vida, hoje executo esse ato de “pensar” com quase nenhuma dificuldade): o negócio parece ser realmente virar um “saradão” ou uma “gostosona”, ter um corpo que chame a atenção, puxar ferro, tomar proteína, aminoácido, albumina, colocar silicone e o escambal para ficar com tudo em cima. Pensei e logo “despensei”. Eu, particularmente, prefiro puxar fumo (do liberado, Souza Cruz, ok?), tomar meu chopinho, colocar “simancol” e o escambal para ficar com tudo acima. Não que eu goste de ser essa coisinha magra, corcunda, sem bunda e de barriguinha saliente... Já até pensei em ser um sujeito saradão e tal... mas daí a chegar a “malhar”: nem fudendo!!!

Será mesmo que para ser aceito nessa sociedadezinha de merda tão preocupada com o tipo físico serei obrigado a me transformar no “incrível Hulk neguinho” de menores proporções?! Quero não, na boa. Uma rápida olhada nas páginas das citadas revistas nos mostra que essa mesma sociedade já está abarrotada de gostosona popuzuda “débiu mentau” e de bombado descerebrado. Ou seja, não precisa de mais um: posso dormir sossegado, em paz com minha consciência por não estar fugindo a nenhuma responsabilidade social, né não? E a padronização no visual desses seres estranhos? Os malhadões em suas roupas de marca, não raro, costumam cursar algo entre Administração, Educação Física ou Direito e sonham em viajar para uma praia qualquer na Tailândia. As gostosonas popozudas são siliconizadas, usam e abusam de tops "mostra-barriga" e falam com aquela vozinha arrastada e mole que deve até ser considerada sexy por alguma espécie de macho à qual eu decididamente não pertenço. A maioria delas me lembra muito aquelas coisinhas “fakes” saídas de um Big Brother Brasil: "Ai, Biaaaaaalllll........". O que foi, minha filha, tá gozando ou tá enfartando?!

Dia desses, travei um diálogo bem interessante com um camarada meu que já malha há algum tempo, faz Jiu-Jitsu, Muay Tai e o caralho e, só pra me esculhambar de vez, toda vez que o vejo e ele vem falar comigo, está sempre sem camisa (mesmo no inverno), só para me mostrar o peito rasgado e a barriguinha de tanque. Até o cachorro do sujeito (um Pitbull, como não poderia deixar de ser) entrou numas de vida saudável: faz caminhada uma vez por dia, pode?

O amigo saradão: Pô, cara, por que você fuma e bebe tanto?
Ed, o esquelético: É pra acalmar o sistema nervoso, rapaz.
O amigo saradão: Pô, cara, pára de brincar com a sua saúde! Pô, cara, vai fazer um exercício!
Ed, o esquelético: Mas fazer exercício pra quê, meu rapaz?
O amigo saradão: Pô, cara! Pra ficar sarado! (Juro que se ele repetisse esse “pô, cara” mais uma vez, eu dava um bico nos bagos dele.)
Ed, o esquelético: Mas eu não estou doente, meu querido.
O amigo saradão: Hã? (Tentar explicar pra ele o que é polissemia estava fora de cogitação, concordam?)
Ed, o esquelético: Meu rapaz, veja bem: o corpo humano foi feito para fatalmente se desgastar um dia, de uma forma ou de outra, certo?
O amigo saradão: Hã?!? (Coitado! Muito GH no cérebro, talvez.)
Ed, o esquelético: (sarcasticamente) Pois é, meu querido! Eu tento usar o meu corpo o mínimo possível para não levá-lo ao desgaste desnecessário antes do prazo de vencimento! Por isso, evito os exercícios. É a lei do menor esforço, entendeu?
O amigo saradão: Mas pô, cara! (Putz! Ele falou de novo!) Pra você ter um corpo malhado nem é preciso fazer tanto esforço. Hoje em dia tem os aminoácidos.
Ed, o esquelético: Aminoácido, rapaz??!!! Você sabia que os aminoácidos são substâncias compostas pelo grupo amino e o grupo carila (ácido carílico) em suas estruturas e que - embora sejam nutrientes que representam a fonte da vida e desempenham importante papel para a obtenção das proteínas necessárias ao bom funcionamento do organismo, sendo conhecidos 22 no total somando-se os 8 essenciais e os 13 não-essenciais - a ingestão dessas mesmas substâncias em demasia sobrecarrega os órgãos do corpo, como o fígado e rins?
O amigo saradão: Hã??!!! (Putz! Peguei pesado! Acho que acabei por destruir de vez um cérebro já comprometido.)

Confesso que uma vez, por um descuido das minhas faculdades mentais, até já tentei me tornar um saradão. Comprei uma porrada de aparelhos: mesa com supino e voador, halteres, anilhas, esteira, bicicleta ergométrica, etc. Uma parafernalha só! Mas, não sei por que, meu instinto de sobrevivência me advertiu a tempo que eu estava prestes a entrar numa furada. A parafernalha acabou cheia de ferrugem e poeira no terraço aqui de casa. Outra vez, cheguei mesmo a aventar a possibilidade de entrar para uma academia. Fiquei paradão lá na frente da mesma, olhando aquelas máquinas bonitas, aquelas pessoas saradas e suadas... Mas então, uma voz vinda do além me sussurrou ao ouvido: “Ed, tu vieste a este mundo para ser um moleirão flácido e esquelético e é assim que sempre serás. Cumpre tua sina, meu rapaz.” E desde então não desobedeço à sapiência dessa voz, que sou um sujeito que sempre primou pela sensatez e pelo bom-senso. Também já tentei parar de fumar e de tomar meu chopinho, mas devo confessar que sou mesmo um fraco que não resiste aos prazeres da nicotina, nem da cevada e do lúpulo. Mas sei bem que chegarei aos meus 90 anos tendo desfrutado de tudo que há e que ainda há de haver de mais moderno em matéria de fazer mal à saúde, e isso sem arrependimento algum. Se isso serve de conforto aos meus detratores, eu achei meu exercício ideal (e acredito que deva funcionar para a maioria também): a atividade cerebral... Garanto: essa parte do nosso corpo existe mesmo! E se for bem exercitada, nos garante um sorriso maior e até um certo ar de arrogância simpática... Quer saber? Espeta um alfinete nos saradões pra ver o que acontece! As gostosonas popozudas, invariavelmente, engordam; os saradões se mostram medíocres e mal educados. Ah, na boa... Deixem-me aqui com minha bunda flácida, minha barriguinha em cascata e meu corpinho “na capa do Batman”. Enquanto meu intelecto estiver em forma, estou cagando para os saradões e para as gostosonas popozudas. Meu esteróide predileto ainda é discernimento conquistado pelo conhecimento; meu fitness por excelência ainda são um bom livro, um bom filme e um bom papo-cabeça.

Parafraseando a nada sarada e inteligentíssima Rita Lee, nem toda brasileira é bunda; nem todo brasileiro é bundão!



Em tempo: não sei se os caros leitores repararam, mas mudei o layout do meu blog. Desisti daquele anterior azul e meio aviadado e optei por algo mais clean.

Se bem que essa história de clean é algo meio aviadado também, né? Ih, me fudi!
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