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21.11.06

Quero ser Divina Scarpim!


Sim... mais do que John Malkovich, queria ser Divina Scarpim. E antes que o nêgo dela me olhe estranho e me entenda mal, apresso-me a me explicar. Lá naquele mesmo andar sete e meio, onde todas pessoas andam encurvadas, queria descobrir também uma tal porta que levasse direto à mente dela e onde pudesse permanecer por bem mais do que quinze minutos. Mergulhar fundo no universo (ou seria um buraco negro) dessa mulher que é a um tempo "professora, casada, mãe, que adora ler, rabiscadora em tempo livre, que odeia falta de educação, que não entende religião, chocólatra assumida", cervejeira das boas e com um domínio da palavra de fazer inveja a qualquer um...






UMA NOVA LICENÇA POÉTICA
a Divina Scarpim

licenciosamente poética
todas as adélias e clarices e hildas
acampam em seu ventre
e para o alento quando muito
chutam o pau na barraca
colhões em dor pela
puta que pariu santa
você inaugura é linguagem
e lendo-a menos que menino
me revejo homem e invejo
seu atavio de Afrodite
divina feita na escuma
do nosso corte atirado às vagas –
para o bem de toda humanidade...
sim, somos coxos sim
para muito além de todos os botticellis
de uma beleza que se nos brota
perante seu verbo de sina
de mulher desdobrável
por saber-se ser

(Edmilson BORRET – 21 de novembro de 2006)

De punheteiro a Dama das Camélias... Caráio, véio! Que viagem!... Ou será "Que viadagem" ???!!!!


Puta que pariu!Parece que apenas um dia sem blogar me fez perder a facilidade de escrever. Ou de começar, pelo menos. Vocês podem até não acreditar, caros leitores atônitos, mas tenho tantas coisas para partilhar. Não riam: é sério. Digo isso do fundo d’alma. O foda é que às vezes nem sei por onde começar. Mas uma coisa é certa: tenho de parar de tocar punheta por um tempo: vou escrever um livro. Não importa o título, não importa a qualidade, a temática ou o enredo muito intricado. Escrever uma coisa má, só para variar. Tenho que usar as mãos para algo mais produtivo, além do quotidiano e religioso “cinco contra um”. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo: isso está claro... hehehehe.. Mas é sério: se não escrevo por muito tempo, é como se algo me comprimisse o meu lobo frontal quase ao extremo e uma dor daí se irradiasse para todos os meus músculos, a espasmos. É como se as idéias desordenadas ficassem bombardeando meu cérebro, ricocheteando nas paredes do crânio. Aí, quando eu começo a escrever, parece que os pensamentos se alinham e o meu corpo se acalma – os músculos retesados retornam ao repouso inicial. Só que muitas vezes eu não tenho a mais mínima idéia de onde tudo isso vai dar. Não raro, acabo enveredando por caminhos totalmente diferentes daquele que eu havia pensado tomar no início. Mas foda-se! Pelo menos eu escrevi. E a dor passou. Adio assim o estado de choque pós-convulsão.
Por falar em convulsão, lembrei-me agora das minhas febres de quando tísico (olha aí o que eu falava há pouco sobre as idéias fugidias!). Tem umas almas por aí que odeiam quando digo que sou (ou melhor... fui) um tísico. Hoje em dia acredita-se que toda a gente é saudável, até que se prove o contrário. Desde há muito tempo, aboliu-se o uso de expressões como "fulano é um leproso ou morfético" ou "beltrano é tísico" por ser ofensivo aos portadores da lepra e tuberculose, respectivamente. Mas num tempo anterior a essa nova mentalidade “politicamente correta”, ser tísico era sinal de doença grave. Como o é hoje em dia ter câncer ou Aids. Eu, particularmente, sempre achei essa história de ser tísico não um sinal de maldição, mas um sinônimo de beleza. Sei lá, algo assim meio Dama das Camélias, meio poeta romântico, meio Manuel Bandeira. Por mais que racionalmente eu soubesse que aqueles “numerosos bacilos álcool-ácido resistentes” a corroer meu pulmão esquerdo poderiam me levar à morte (e quase o fizeram), mas sempre dentro desse meu ideal estético-fantasioso-patético-imaginário, nas minhas noites de sudorese, febre alta, delírios e hemoptises eu me via assim meio que envolto numa certa aura de poesia e beleza... “Quero morrer em beleza”: lembrava sempre desse verso dum poema do António Botto já postado aqui nesse blog.
Mas não morri. E a beleza foi-se. Por isso continuo me dizendo tísico. Tentativa de disfarçar minha feiúra atual. Puta merda! Nem pra Marguerite Gautier eu sirvo nessa minha vidinha de bosta... Tá bom. Admito. Essa história de Marguerite Gautier é meio coisa de viado. Fiquemos então com o arremedo de Bandeira, ok?


DIAGNÓSTICO

Ai essa febre
essa dor no peito
essa falta de ar
esse amargor na boca
essa vontade de chorar
essa tristeza sem fim
- É grave, doutor?
- Tens o pulmão esquerdo
perfurado
morto
necrosado.
- E o coração, doutor,
o coração, o coração?...
- Ir-re-me-di-a-vel-men-te
perdido, meu rapaz...
Também
quem mandou abusar?
Quem mandou
não lhe saber os limites?

Quem mandou amar tanto?


(Edmilson BORRET – Setembro de 2006)
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