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15.7.07

Educação sentimental: estupre-me (ah Colbain, o que fizeste dessa geração?)


Não sei se estou mais para o flaubertiano Frederico Moreau, se para o enigmático e vampiresco Dalton Trevisan ("O que não me contam eu escuto atrás das portas. O que não sei, adivinho e, com sorte, você adivinha sempre o que, cedo ou tarde, acaba acontecendo.”) ou se para a fresquinha da Paula Toller; mas que ando tentando desesperadamente minha educação sentimental, isso é fato. Só sei que ultimamente venho construindo meus discursozinhos a partir de idéias que tentam assimilar um sem número de divagações que levam invariavelmente a um feixe de relações mitológicas, memorialísticas e psicológicas. Estou prenhe de mitos, memórias e psicologia barata. E isso, longe de me parecer uma riqueza, tem me deixado meio fora do ar. Não sei o que fazer de tudo isso. Há tanto o que dizer, caros leitores, e sinto que não sei por onde começar ou o que selecionar. É como se estivesse num espaço bem apertado, o in utero do Kurt Colbain, o cordão umbilical querendo me estrangular, os fórceps pressionando minha têmporas e eu no meio de muitas águas, querendo rasgar o ventre de minha mãe e vendo alguma luz no fim do túnel, onde sorrisos, lágrimas e aplausos me aguardam (Venha para a luz, Caroline!). Mas ao mesmo tempo que esse difícil parto é um rasgar de ventre e vagina maternos, é também um me rasgar. Se me exponho, me deixo rasgar, me estuprar.... Mas é isso aí, meu caro Colbain, i'm not the only one, rape me my friend, rape me again, hate me, do it and do it again, que eu pareço gostar e permitir que assim me invadam... De qualquer maneira, eu ando tão nervoso pra te escrever os versos mais profundos... ninguém vai resistir se eu usar os meus poderes para o mal... eu treino a tarde inteira o que é que eu vou falar, vai ser tão simples quanto eu vejo nas revistas... ninguém me explicopu na escola, ninguém vai me responder...


O que estou tentando dizer é que preciso pedir desculpas a vocês, caros leitores, pelos meus desvarios “umbiguistas” em recentes postagens, inclusive nesta aqui. Como está escrito acima, na descrição deste blog, “aqui vocês encontrarão considerações esparsas, algumas vezes sem nexo algum, a respeito desse meu caminhar: desabafos diários, poemas, notícias que li, trechos de livros que me tocaram”.... Certo é que ficou faltando um “etc” nessa enumeração, mas tão mais certo é que esse “etc” - e gostaria de deixar isso bem claro - que este “etc” não deveria ir, em hipótese alguma, até o delírio sentimental.


Assim sendo, faço aqui minha autocrítica, caros leitores. Aqui estou, de joelhos, a pedir-lhes clemência. Eu sei que não agi bem. Tinha o caminho reto à minha frente (ainda que “gauche”) e desviei-me. Me protegiam e me guardavam de todo mal os altíssimos desígnios deste blog e posterguei-os. Fui fraco, caprichoso, fútil e “umbiguista”. Fui enigmático, dúbio, inconseqüente e, sobretudo, incapaz de dirigir os meus esforços, a preciosa energia do meu intelecto, para a procura do bem comum. Revelei-me, em suma, lamentavelmente burguês. Por isso peço-lhes que me condenem já e com dureza, pois diante de tão horrendo crime qualquer pena será leve.
Sim, caros leitores, de cabeça baixa e mais corcunda do que já sou, eu admito: por mais que a palavra me queime os lábios ao pronunciá-la, eu fui um miserável traidor da sempiterna causa deste blog tão revoltadinho como se propunha no início. Que me venham as chibatadas, as masmorras infectas, o livrinho vermelho e as cuias de arroz mal cozido. Eu mereço isso tudo e muito mais.


Mea culpa, mea maxima culpa!



ALTA VOLTAGEM

Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos

(Adriana Calcanhoto)


Numa manhã cinza e inacabada
tudo ardeu em mim em segundos
E aquela presença absoluta
circulando em mim contínua
elétrica e indetectável
ricocheteando em minhas células
Como numa noite de São João
a vista turvou para o céu pontilhado
o cruzeiro de ponta a cabeça
inverteu a polaridade dos meus dias
e a festa acabou mais cedo...
Mas poeta cambaleante e fraco
ainda tentei em versos tímidos
seguir a procissão das horas restantes
visitando antigos altares
rememorando nos ex-votos
a carne trêmula e trigueira
que andava à mostra e nua
nos templos urbanos da luxúria
ora envolta em vapores de eucalipto
ora difusa pela fumaça e projetores...
Chegada a noite no entanto
não era mais uma metrópole a atravessar
mas a certeza do silêncio
da casa inabitada onde outrora
o tilintar de taças, o resvalar de corpos
davam a vã promessa de um longo caminho...
O copo d’água sobre o criado-mudo
repousa em prisma à meia-luz
antes de conduzir garganta abaixo
o milagre científico e único que
dissimula a contento essa ardência
sem contudo aniquilá-la...
De uma ponta a outra do meu corpo
em correntes de múltiplos ampères
assola-me paradoxal voltagem...
Só isolante achado da modernidade
protegerá incauto e ávido amante
a desafiar temerário e louco
a fulminância de minhas descargas.


(Edmilson BORRET)

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