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21.12.06

Oh, pedaço de mim...



Hoje eu sorri, você não viu. Hoje eu dancei, você não aplaudiu. Hoje eu cantei, você não ouviu. Hoje eu chorei, você não me acudiu. Hoje eu te beijei, você não retribuiu. Hoje eu te amei, você não sentiu. Aí eu te maldisse e te xinguei, mas você não reagiu... Porque teu coração é uma ilha a centenas de milhas daqui... Porque tu me vês, mas não me enxergas... Porque tu me escutas, mas não me ouves... Tu te tornaste um estranho no espelho... A stranger in the mirror... Strangers in the night... Miragens que combatem... Quebrou-se definitivamente esse reflexo? A imagem invertida um do outro ficou presa na aço do espelho e não mais se complementam? Verso e reverso, positivo e negativo, mais e menos anularam-se nas sombras da noite? Era para sermos espelho um do outro... espelho um do outro... espelho um do outro...


DO OUTRO GUARDADO EM NÓS

falamos de muitos assuntos
amigos construídos aos poucos
bem podíamos ser outros
indivíduos sem molduras
organizados em sensações

daria a ti minha mão
assim como quem diz: vem

cuidaríamos do sentimento
unha & carne & músculo & pêlos
nus contra o sempre estabelecido
homens sendo homens no apesar
a amizade contida toda no amor

medos apagados com a luz
espelho um do outro: eu te vejo
limpos e certos
lúdicos, companheiros, irmãos
o prazer jorrando sem culpas

(Edmilson BORRET)


Mas o espelho se quebrou... E nos cacos foi-se um pedaço de cada um de nós... E o coração de quem ama fica faltando um pedaço, que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços...
O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço


E esse pedaço de mim - de ti - arrancado faz-me falta.... Falta-me o ar, falta-me a luz, falta-me o calor do meu corpo.... Quando não estás aqui, sinto falta de mim mesmo...
És e sempre serás o pedaço de mim extirpado, arrancado, negado... distante...


Pedaço de Mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

(Chico Buarque)
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