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29.12.06
Por toda a minha vida...
Eita que a Vênus Platinada conseguiu mais uma vez... Não sei devido a esse meu estado à flor da pele ou sei lá o quê, mas a homenagem que a dona Globo fez à Elis Regina hoje à noite me deixou assim meio em estado de choque. “Por toda a minha vida” foi o título do programa em homenagem à cantora. Quase 25 anos após sua morte, Elis continua sendo a maior de todas as cantoras que o Brasil já conheceu. Sou fã de muitas outras cantoras, mas Elis é algo que não se explica... A inflexão, a respiração, as sílabas perfeitamente delineadas, a postura no palco, a mise-em-scène, a dramaticidade, tudo, absolutamente tudo fazia dela única no cenário da nossa música popular brasileira. Fiquei aqui atônito, revendo entrevistas, falas, musicais e a biografia de Elis... Se me perguntarem, não saberei dizer qual é minha música preferida na voz dela. É uma infinidade de coisas fantásticas que essa mulher gravou, sempre imprimindo seu toque único: tudo na voz de Elis assumia uma roupagem nova... a velha roupa colorida... Se tentar definir uma mulher é tarefa muito difícil, traduzir Elis é impossível. Esta mulher fenomenal tornou-se um mito. Até hoje ainda sinto a dor da falta que ela faz... Lembro-me ainda hoje de um programa na Globo chamado Elis Regina Carvalho Costa em que ela declamava um lindo poema antes de cantar “Aprendendo a jogar”, poema esse em que ela se reconhecia uma estrela... É isso: agora e sempre ela será uma estrela...
Agora o braço não é mais um braço
erguido num grito de gol.
Agora o braço é uma linha
um traço
um rastro espelhado e brilhante
e todas as figuras são assim
um agrupamento de pontos
de partículas
um quadro de luzes
de impulsos
um processamento de sinais
e assim
dizem, recontam a vida.
Agora retiram de mim a cobertura de carne
escorrem todo o sangue
afinam os ossos em fios luminosos
e aí estou
pelas casas, pelas cidades
parecida comigo
um rascunho
Uma forma nebulosa, feita de luz e de sombras.
Como uma estrela.
Agora eu sou uma estrela.
Mas se ainda assim insistirem em me perguntar que música eu escolheria para homenagear esse mito-mulher hoje, eu sem dúvida alguma escolheria “Aos nossos filhos”. Não sei, mas me parece que essa música transmite tudo o que ela não teve tempo de dizer, parece um pedido de socorro, algo que ela parecia estar querendo gritar ao levar à boca aquele maldito copo naquele fatídico 19 de janeiro de 1982... Aos 36 anos, Elis Regina, a melhor cantora do Brasil, foi achada morta, trancada em seu quarto, onde tomara a derradeira dose de cocaína...
Aos Nossos Filhos
Perdoem a cara amarrada,
Perdoem a falta de abraço,
Perdoem a falta de espaço,
Os dias eram assim...
Perdoem por tantos perigos,
Perdoem a falta de abrigo,
Perdoem a falta de amigos,
Os dias eram assim...
Perdoem a falta de folhas,
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha,
Os dias eram assim...
E quando passarem a limpo,
E quando cortarem os laços,
E quando soltarem os cintos,
Façam a festa por mim...
E quando lavarem a mágoa,
E quando lavarem a alma
E quando lavarem a água,
Lavem os olhos por mim...
Quando brotarem as flores,
Quando crescerem as matas,
Quando colherem os frutos,
Digam o gosto pra mim...
Digam o gosto pra mim...
(Ivan Lins/Vitor Martins)
O problema é que Elis era demais para seu tempo... Era demais até para ela mesma...
"Me tomam por quem? Uma imbecil? Sou algo que se molda do jeitinho que se quer? Isso é o que todos queriam, na realidade. Mas não vão conseguir, porque quando descobrirem que estou verde já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina Carvalho Costa que poucas pessoas vão morrer conhecendo".
"Sempre vou viver como camicase. É isso que me faz ficar de pé".
"Quem não deu suas mancadas?"
"Meu problema são 10 centímetros a mais; então estaria tudo resolvido".
"Me apaixonei pela minha voz".
"Neste país, só há duas que cantam: Gal e eu".
Por Toda A Minha Vida
Oh! meu bem-amado
Quero fazer-te um juramento, uma canção
Eu prometo, por toda a minha vida
Ser somente tua e amar-te como nunca
Ninguém jamais amou
Ninguém
Oh! meu bem amado, estrela pura aparecida
Eu te amo e te proclamo
O meu amor, o meu amor
Maior que tudo quanto existe
Oh! meu amor
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
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