Seguidores

30.3.11

(Autoia da foto: Edmilson Borret - 30/12/2009)


A MORTE DA POESIA


A poesia erguia-se no fim da rua
desafiadora... a mão no ar
Tinha descido da laje
aos pulos
e ziguezagueado nos becos
A poesia tinha dentes brancos
na noite negra sem lua
A poesia arfava
tentava uma saída
Nenhuma porta
nenhum barraco
nenhum latão de lixo
para dar guarida à poesia
Eles vieram
arrastaram a poesia
levaram-na pro descampado
barbarizaram com a poesia
e deram-lhe 10 tiros na cara

Ninguém viu, ninguém ouviu
Era noite alta – dizem
Melhor não falar da poesia!

O que se sabe é que era linda...

No dia seguinte tinha uma poesia
estampada no jornal
Lindos dentes brancos
em meio à tinta preta...


(Edmilson Borret – 30/03/2011)

25.3.11



A Carne

a carne crua, nua
a carne sua - e freme
a carne sua (quisera minha)
tão jovem a carne pura
tão firme a carne dura
dura a carne horas no olhar
some a carne em segundos
ante o desejo de tocar
morre em meus lábios o delírio
pulsa na carne meu martírio

aguardo vencido
em visível palidez senil
o momento único, certo
de cingir a carne
de trazê-la ao perto
de fugir às regras
na trágica certeza do grilhão
face a juvenil tentação

evita no entanto a carne
a mácula do meu abraço
esvai-se risonha e fresca
e deixa-me nos olhos cansaço

minha alma de artista
pode quase nada
diante da carne
senão louvar a carne
jamais traduzir da carne
aprumada e exata beleza
em enfadonha existência
assumem meus nervos esta saudável tristeza

e como nas horas em que o sol agoniza
o que mais se quer é a lâmina da gentileza
é fugir à ilegal vergonha que nos humaniza
ganhar os mares... ir morrer em Veneza

(Edmilson Borret)

Related Posts with Thumbnails