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27.7.10

Por que, por quem escrevo... (reload)

Hoje, ao completar 43 anos de idade, senti a necessidade de me reler, de me buscar em tempos passados. Algo assim como para avaliar o processo evolutivo de minhas ideias, meus atos, meus sentimentos... Se processo evolutivo realmente houve, enfim...

Mas acabei por me dar conta que isso me seria uma tarefa ingrata: a mim, como narrador autodiegético desse meu folhetim piegas, falta o distanciamento crítico necessário para tal.

Mas enfim, me relendo redescobri textos pelos quais guardo profundo carinho. São textos que falam muito de mim. Textos que denotam uma certa quietude de espírito, uma ternura, uma paciência... enfim, uma disposição mental e emocional que, não sei por que cargas d'água (sim, eu sei... só não ouso admitir), há muito venho perdendo, se já não perdi totalmente.

Dentre esses textos, permito-me fazer aqui o reload de dois deles que, na data de hoje, apresentam-se como perfeitos e adequados... No meu aniversário, algo de bom ressurge em mim... Parabéns para mim!



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Noite de hotel
Estou a zero, sempre o grande otário
E nunca o ato mero de compor uma canção
Pra mim foi tão desesperadamente necessário

(Caetano Veloso)


E nunca o ato mero de escrever um blog pra mim foi tão desesperadamente necessário!!!!! É catártico. Reinvento-me nas palavras. Refaço-me, descubro-me nelas. E delas me alimento. E, de certa forma, dou de comer também aos outros. É um lindo repasto.

Um antigo copidesque do jornal "O Estado de São Paulo" costumava dizer que uma "lauda em branco aceita tudo". Dizia isso para criticar a quantidade de sandices que se escreveu e que certamente se escreve até hoje, seja lá qual for a intenção. Talvez o meu blog seja mesmo um amontoado de sandices, talvez não... Mas isso a mim pouco importa. A lauda em branco é minha, nela eu escrevo o que eu quiser. E lê quem quiser também. De qualquer maneira, é minha terapia há alguns meses, é o meu tarja preta sem efeitos colaterais.

E aí, vieram me dizer certa vez que pouco visitavam meu blog por eu ser demasiadamente prolixo. Por serem minhas postagens muito longas. Lembrei-me de imediato de uma frase atribuída a Voltaire: "Perdoe-me, senhora, se escrevi carta tão comprida. Não tive tempo de fazê-la curta."

E por que haveriam de ser curtas e concisas minhas postagens? Como exigir concisão de um cara que é um emaranhado louco de ideias? Escrever, pra mim, sempre foi muito fácil. O fluxo vem e deixo a coisa rolar. E quando me dou conta, saiu aquela verborragia toda de sempre. Eu simplesmente não entendo por que me condenam. Sou assim e pronto. Gostem ou não. Que não me leiam então, caramba!

Eu preciso escrever. É vital para mim. Aliás, acho que é a única coisa que sei fazer bem nessa minha vidinha de bosta. É como disse o Neruda: "Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca idéias." E eu tenho tantas ideias... Às vezes nem sei o que fazer delas. Elas me fustigam às vezes, me mordem, me esbofeteiam. E quando finjo que não lhes dou atenção, só consigo piorar as coisas. Uma vez uma ideia me cuspiu na cara; d'outra feita, uma quase me furou os olhos. Elas exigem muita atenção as ideias. Aí a gente tem que parar o que estiver fazendo no momento para lhes ouvir. Na verdade, o ato de escrever é isso: conversar com nossas ideias. Foi Sofocleto, acho, que disse que escrever é simplesmente "uma maneira de falarmos sem que nos interrompam".

Pois é, nunca o ato mero de escrever (um blog, um diário, um poema, um recado) pra mim foi tão desesperadamente necessário. Aliás, acho que para quase todo mundo. Só que poucos se dão conta disso. Para fazer mais uma citação (como as fiz nessa postagem, não???!!!), lembrei-me agora de Saramago: "Somos todos escritores. Só que uns escrevem, outros não." E por que escrevo então? Bom, além dessa minha necessidade quase vital, escrevo porque quero ser lido. E como de muitas citações se compôs este texto...

"Escrevo para que meus amigos me amem ainda mais."
(Gabriel García Márquez)

"Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."
(Clarice Lispector)



Evohé, amigos!


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Adoro nomes

Nomes em ã
De coisa como rã e ímã...

(Caetano Veloso)



De novo o Caetano. Ele diz gostar dos nomes em ã... Eu já gosto dos nomes em ente... Não sei por que, essa terminação me fascina. Uma palavra que adoro é premente: o que não permite demora, o que é urgente. Premente rima com gente. Gente pra mim é premente... Adoro gente. Amizade pra mim é premente. Consideração pra mim é premente. Premente é o afeto, o companheirismo, a dedicação ao outro. Disse em outra postagem que escrevo para ser lido e para que meus amigos me amem ainda mais, citando García Marques. Quem escreve descreve-se, é bem verdade. Mas também descreve outros. Descreve os seus pares. Esse retorno ao mesmo tema é para dizer que os entes que fazem a minha escritura é que me dão a minha verdadeira dimensão. Aproveito para pedir desculpa por não estar escrevendo nada tão premente assim nessa postagem. Não que o tivesse feito antes. Mas neste momento menos ainda. Vim aqui hoje mesmo só para comentar sobre os entes queridos. E isso pra mim já é muito...
Nas últimas 48 horas, cedi ao premente de rimar gentes. Já fazia algum tempo que tava querendo escrever esses entes, mas não sabia por onde começar. Havia o desejo, mas faltava a iniciativa, a motivação, o conteúdo… E sobejava a preguiça. No entanto o premente se impunha. Era preciso me dividir. Isso! Escrevo para me dividir... e para me multiplicar. Dividir para multiplicar. Escrevo para dividir com os entes coisas nem sempre tão prementes que vivencio, sentimentos, fatos marcantes, e muitas outras coisas… Enfim, para dividir com e nos entes algo do que eu sou… Nesse dividir-me, nesse partilhar de mim mesmo, espero que esses entes também se sintam motivados a dividir algo de si mesmos, efetuando-se assim a multiplicação da divisão… Sinto que uma onda de gozo me preenche quando me divido em entes… Me preenche tanto, que simplesmente não cabe só em mim… Também quero que o máximo possível de entes possam ter esse gozo premente de serem preenchidos desse jeito, ou de algum outro jeito parecido… Vamos aos entes!!!! Presentes... sempre...

17.7.10

CAMPANHA PELA VIDA: Eu cuido da minha, você cuida da sua!



"Compensando a anatomia, o povo fala sem ter dó
São dois olhos, dois ouvidos, mas a boca é uma só
E fala, o povo fala mesmo

O povo fala, o povo fala mesmo"

(Ana Carolina)



A ideia desta campanha não foi minha. Ela já rola pela internet faz tempo. Mas, muito embora seja uma campanha que aponte humanisticamente para atitudes nobres, fidalgas e dignas, não logrou surtir efeitos mais abrangentes. Há que se considerar, infelizmente, que a internet nunca foi campo fértil para se estimularem atitudes nobres, fidalgas e dignas...

De qualquer maneira, cá estou: mais um a se apropriar da boa intenção da campanha e tentar fazer a minha parte. Quem sabe um ou dois leitores desse ilustre desconhecido blog decida pôr em prática a ideia: reproduzir em bottons, camisetas, capas de caderno, outdoors... sei lá, algo que chame à atenção as cabecinhas mais toscas e limitadas.

Já perdi algum tempo aqui mesmo neste blog alertando para o perigo viciante que consiste em se dedicar à vida alheia. Numa postagem de 07/01/2007 intitulada “Alteridades”, eu já tinha cantado essa pedra. No texto cito, inclusive, um pequeno diálogo de autoria desconhecida para mostrar que, geralmente, a falha ou a falta que apontamos nos outros são nossas próprias falhas ou faltas projetadas. Ou, como diria Sartre, em uma de suas frases magistrais (e minha preferida) na peça Huis Clos, “l’enfer, c’est les autres” (“O inferno são os outros”). Transcrevo aqui o diálogo citado na postagem de 2007:



Olhar o defeito do outro

A mulher olhou através da sua janela, apontou para o quintal da vizinha e disse ao marido:
- Há dias venho observando como é encardida a roupa da vizinha. Eu teria vergonha de pendura no varal uma roupa tão mal lavada. Isso é relaxamento, um desleixo... Na verdade, acho que é preguiça.
O tempo passava... e, cada vez que ela voltava a observar, as roupas tinham um aspecto pior. Certo dia, uma surpresa! Ao reparar nas roupas da vizinha, ficou abismada. Estavam brancas, limpinhas, as cores vivas.
- Criou vergonha, disse ela. Perdeu a preguiça e esfregou mais, ou então trocou a marca do sabão.
- Nada disso, replicou o marido. Fui eu que lavei.
- Lavou a roupa da vizinha?
- Não, mulher. Lavei o vidro da janela. Era ele que estava encardido.



Há também uma outra postagem de 12/07/2007 intitulada “Contra a maledicência e o sarcasmo, use a abundância de ideias, de amores e de risos”, onde pego mais leve com os fofoqueiros e até revelo uma certa complacência paciente e alguma generosidade. Algo realmente espantoso para minha natureza cáustica e cínica!

O fato é que não há como ser complacente nem generoso com os fofoqueiros e maledicentes de plantão. E essa é a uma grande verdade. Para eles, de agora em diante, limito-me a proferir em alto e bom som um grande F.O.D.A.-S.E.

E digo mais: pelo que observo nos fofoqueiros e maledicentes que me rodeiam, cada vez mais me convenço de que a origem e motivo desencadeador dessa prática mesquinha só pode residir numa puta falta de sexo de qualidade. Pessoas que não trepam com frequência, ou trepam sem tesão, costumam dedicar boa parte de suas vidas a tomar conta da vida alheia. É sintomático isso. Prestem atenção na cara dos fofoqueiros: a pele é feia, sem viço, o sorriso é raro. E isso não tem nada a ver com o fato de, na maioria das vezes, tratarem-se de baiacus ou barangas. Não, não é a ausência de beleza exterior que condena essas pessoas a uma aridez sexual, mas sim de uma beleza interna que elas mesmas nunca conseguirão experienciar; porque seus corações e almas são assombrosamente medonhos, verdadeiros retratos de Dorian Gray. Essas pessoas são como aquelas retratadas no “Blues da piedade” de Cazuza, sem tirar nem pôr:


“Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada”


E agora, para os fofoqueiros e fofoqueiras: limitem-se a buscar suas satisfações (não só as sexuais) perdidas há tempos e larguem do meu pé! Porque eu, caros maledicentes de plantão, estou cagando para todos vocês. Porque tenho como missão justamente isso: incomodar todos vocês, chocar, escandalizar, perceber o mal-estar de vocês diante da minha cagada homérica no centro de suas salas assepticamente arrumadas e sem vida. Portanto, trepem mais... e fofoquem menos!




PARES CUM PARIBUS CONGREGANTUR


Quando nasci
não nasci torto
nem feio.
Como bom leonino
saltei na vida
e pedi a palavra
— Gauches são vocês, meus caros!

Onomástico sete
cabra no chinês
elemento fogo
incomodo antes
por ideologia
depois por aparecer.

Que me juntem aos pares
que me apontem na rua
que me lancem maldição!...
mas não me peçam
moderação ou paciência.

Não serei menor que meu mundo,
meu tempo, minha boca.
E além do mais
acredito na possibilidade
de se recuperarem os povos.

Fujo do igual
e no diferente
me encontro com o igual.

Vão lá vocês entender isso!

(Edmilson Borret)
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