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25.3.11



A Carne

a carne crua, nua
a carne sua - e freme
a carne sua (quisera minha)
tão jovem a carne pura
tão firme a carne dura
dura a carne horas no olhar
some a carne em segundos
ante o desejo de tocar
morre em meus lábios o delírio
pulsa na carne meu martírio

aguardo vencido
em visível palidez senil
o momento único, certo
de cingir a carne
de trazê-la ao perto
de fugir às regras
na trágica certeza do grilhão
face a juvenil tentação

evita no entanto a carne
a mácula do meu abraço
esvai-se risonha e fresca
e deixa-me nos olhos cansaço

minha alma de artista
pode quase nada
diante da carne
senão louvar a carne
jamais traduzir da carne
aprumada e exata beleza
em enfadonha existência
assumem meus nervos esta saudável tristeza

e como nas horas em que o sol agoniza
o que mais se quer é a lâmina da gentileza
é fugir à ilegal vergonha que nos humaniza
ganhar os mares... ir morrer em Veneza

(Edmilson Borret)

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