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14.4.07

Existirmos: a que será que se destina? Parem a Stultifera Navis que eu quero descer!!!!!!!


Pode parecer loucura (e, se parece, certamente o é), mas a impressão que tenho (aliás, eu não a tenho, ela me tem... me persegue até) é a de que estou apenas ensaiando para a grande estréia do meu momento de felicidade. Só que o puto do diretor não estabeleceu nem a bat-hora nem o bat-local da mise-en-scène. Enquanto isso, essa tal de felicidade está por aí, feito uma puta qualquer pelos trottoirs e parques da vida, se entregando a todos, vadia e rameira como sempre; e eu aqui vou pegando uns pedaços de texto aqui e ali (sem rubricas do autor) e me viro com as marcações que eu mesmo crio, apesar da fraca memória.
No mais das vezes, conseguindo disfarçar minha inerente veia canastrona, faço do ensaio o espetáculo. Mas é terrivelmente foda que antes mesmo de cair o pano já foi a minha máscara que caiu. E dá-lhe ovos e tomates!!!! Mas aí me lembro que é só ensaio (e esse puto do diretor que não marca essa data!!!), e continuo na espera do grand finale. Sempre esperando, sempre ensaiando (pra quê, meu Deus?) e sempre me perguntando... Quando, onde, como, quando, onde,como... é agora? tá na hora? é agora que eu entro?... E essa dúvida parece ser o leitmotiv das minhas inquietações (que algum louco mais louco que eu poderia até mesmo confundir com traço trágico-poético). Sinceramente não me lembro de quando nem onde pela primeira vez essa dúvida mal elaborada se insurgiu contra as minhas certezas, mas posso afirmar que ela nada mudou no destino da humanidade... E nem vai mudar, se querem saber. Sou eu comigo mesmo e a minha dúvida: - Quando, meu Deus, quando a Felicidade vai chegar?
E há tempos ando assim, meio a esmo por esse emaranhado de ruas desconhecidas, sem gps, sem combustível e, como na música, "a corda quebra, o carro pára e o riacho fica fundo".... Só que eu tenho medo, ouviu?
E assim eu vou acordando de manhã em manhã, esperando que a felicidade tenha vindo bater a minha porta, ou quando muito deixado um recado. Mas a puta não manda nem um e-mail, nem telefona pra dizer "tô chegando, querido, só peguei um pouco de trânsito no caminho". Decididamente essa filha de uma égua chamada felicidade não está entre os meus contatos, nem é minha amiga no orkut. Ela está por aí (cachorrona, vaca, vadia), num dia de sol, céu azul sem nuvens, correndo, faceira e lépida. E sabem por quê? Porque a felicidade é saudável, é bonita, é malhada, corpo sarado e bronzeado. Aliás, os amigos dela, os que andam com ela pra cima e pra baixo, também o são. Eles, sortudos que são em tudo, não ficam sofrendo pelos cantos, nem chorando ausências, nem se escravizam a coisas em que não acreditam ou não merecem, e nem de longe pensaram algum dia que não merecem o que desejam. Eles são bons em tudo, os amigos dela.
Mas eu espero... sempre espero. Os nós dos dedos tamborilando no tampo da mesa, eu espero, paciente que sou. E fumo mais um cigarro, e mais um e mais um... e lá se vão um maço, dois maços, três maços... e metade do meu pulmão no cinzeiro.
É, meu velho Torquato, e o Caetano ainda te pergunta (tardiamente, é certo, mas pergunta): "Existirmos: a que será que se destina?"... Fosse eu, mudaria o verbo: a que será que se desatina... E eu faço o quê, meu velho, para parar de me sentir um maior abandonado?... O quê? Ah não, isso eu já tentei... O quê? Pra você deu certo? Mas porra, cara, você pelo menos escreveu um livro!! Eu nem isso ainda. E nem plantei uma árvore e nem tive um filho. Meus últimos dias seriam mais paupéria que os seus, pode acreditar... na boa.
Mas, voltando a falar da tal vagabunda da felicidade, teve um dia em que pensei tê-la visto me acenando e gritando lá da rua. Tava ela lá com os amiguinhos dela sortudos em tudo, fazendo um buzinaço do caralho de acordar toda a vizinhança, a mal-educada. E ainda gritava: "- Rápido, ô viado, vem aqui fora. Rápido que você já não está mais em idade de se fazer esperar!" E ainda me sacaneava, a escrota... O foda é que eu não sabia direito se devia ir ou não... E se não fosse mais ensaio? Será que eu estaria preparado? Será que já era o momento de encarar a platéia, de cara limpa, e dizer, como você disse, meu velho, num só ato, sem medo da dona Bárbara:

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim


Caguei no pau, cara. Não fui. Ou fui, mas num passinho de bebê engatinhando. Quando cheguei, já era tarde. A puta já comia pneu na esquina e os amiguinhos sortudos em tudo gargalhavam da minha cara de pastel. Não era ensaio. Só que não prestei atenção ao terceiro sinal... Diretor mais filho da puta também que nem me avisou que era a hora!
Mas, cara, na boa, qualquer dia eu desisto desse ensaio insano, ponho fogo no figurino, arrebento o cenário a marretadas, rasgo os cartazes e o texto. Alopro de vez. Porque, mesmo que eu assim por um acaso da vida (é, dizem que eles ocorrem) estreasse finalmente, quem me garante que a crítica me seria favorável? Você sabe, né, dona Bárbara é foda! E quer saber? O outono já chegou aqui no Rio. Tá tudo assim meio cinza mesmo. O que é um pé no saco mesmo é essa certeza das horas que precedem a aurora, quando me dou conta que não haverá mais noite dormida... quando muito, mal dormida. São horas indubitavelmente de solidão. Mas uma merda de solidão cheia de ruídos e vozes entrecortadas que me dizem a todo momento, numa torrente pavorosa de avisos, recadinhos babacas e conselhos do tipo "eu te disse, eu te disse, eu te disse". Vou ficar, cara, na tua Navilouca... me acomodei à Stultifera Navis. Mas não vou pular na correnteza como você. Fica para uma outra hora, valeu? Vou tentar dormir um pouco agora... A berceuse já até escolhi.. Espero que você me perdoe a obviedade, mas não resisti...

Cajuína
(Caetano Veloso)

Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina



Em tempo: A puta da minha felicidade, que eu pensava que tinha ido dar uma volta na esquina com os amiguinhos dela sortudos em tudo, me ligou dizendo que está na fronteira com a Nicarágua. Está esperando a balsa pra ver se consegue asilo político em Cuba. Pode? Piraaaaaaaanha!

13.4.07

Ainda há vida inteligente (e de bom gosto) no youtube

Pois é. Há.
Perambulando por lá, é bem verdade, a gente acha um amontoado de porcarias, de colagens mal-feitas, de vídeos caseiros que nos fazem querer repensar mesmo o sentido da palavra "amador"... E é um tal de homenagens pra cá e tributos pra lá que puta que pariu... é de doer as vistas e os ouvidos. Mas vá lá... com um pouquinho de paciência e muita garimpagem, a gente consegue descobrir coisas muito boas também. Nem tudo está perdido. HÁ VIDA INTELIGENTE NO YOUTUBE, AMIGOOOOOOOOSSSSSS!!!!!!!
Prova disso é esta pérola que achei por acaso: uma linda voz de,cuja dona chama-se Cristina Motta, cantando "Mais um adeus", de Vinícius e Toquinho. E mais: além de cantar e tocar um violão muito bem, ela ainda desenha!!!!!!!!! E é modesta a ponto de dizer: "Não sou desenhista nem tampouco uma exímia violonista. Mas acho que deu pra enganar..."

Então fica assim combinado: quem souber quem é Cristina Motta me avisa, ok? Quero dar um beijo nessa mulher... na boa.

Segue a letra da música abaixo e, em seguida, o vídeo.


Mais um adeus

(Vinicius de Moraes / Toquinho)

Mais um adeus
Uma separação
Outra vez, solidão
Outra vez, sofrimento
Mais um adeus
Que não pode esperar

O amor é uma agonia
Vem de noite, vai de dia
É uma alegria
E de repente
Uma vontade de chorar

Olha, benzinho, cuidado
Com o seu resfriado
Não pegue sereno
Não tome gelado
O gim é um veneno
Cuidado, benzinho
Não beba demais
Se guarde para mim
A ausência é um sofrimento
E se tiver um momento
Me escreva um carinho
E mande o dinheiro
Pro apartamento
Porque o vencimento
Não é como eu:
Não pode esperar

O amor é uma agonia
Vem de noite, vai de dia
É uma alegria
E de repente
Uma vontade de chorar




Agora, me digam: é lindo ou não é?

11.4.07

Sem medo das gentilezas do coração... Feito louco pelas ruas...

Há exatos 90 anos, no dia 11 de abril de 1917, nascia José Datrino, o "amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento", ou simplesmente o Gentileza. Anos depois, no dia 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, houve um grande incêndio no circo Gran Circus Norte-Americano, o que foi considerado uma das maiores tragédias circenses do mundo. Neste incêndio morreram mais de 500 pessoas, a maioria, crianças. Na antevéspera do Natal, seis dias após o acontecimento, José acordou alegando ter ouvido "vozes astrais", segundo suas próprias palavras, que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual. Pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio. Plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo em Niterói. Aquela foi sua morada por quatro anos. Lá, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido e Gentileza. Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Daquele dia em diante, passou a se chamar "José Agradecido", ou simplesmente "Profeta Gentileza".
Após deixar o local que foi denominado "Paraíso Gentileza", ele começou a sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970, percorreu toda a cidade. Era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para te amar e louco para te salvar".
A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju que vai do Cemitério do Caju até a Rodoviária Novo Rio, numa extensão de aproximadamente 1,5km. Ele encheu as pilastras do viaduto com inscrições em verde-amarelo, propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização. Durante a ECO-92, colocava-se estrategicamente no lugar por onde passavam os representantes dos povos e incitava-os a viverem a gentileza e a aplicarem gentileza em toda a Terra. Seu lema: "Gentileza gera gentileza."

Nesses tempos estranhos, de sentimentos estranhos, de atitudes estranhas, pode soar estranho um sujeito estranho numa túnica estranha, de cabelo estranho falando de uma coisa tão estranha quanto gentileza. Estranhos, entretanto, somos nós que fazemos desse estranhamento a regra, e não a exceção. Estranhos somos todos nós para os outros. Estranhos são todos os outros para nós. E assim vamos nos estranhando, nos desconhecendo, nos perdendo nas terras estranhas do nosso dia-a-dia, estabelecendo as fronteiras do nosso metro quadrado diário, exigindo passaporte e visa de quem nele ousa penetrar. Estranho e equívoco é o contato esboçado e não realizado, é a palavra ensaiada mas reprimida... De qualquer maneira, não sei se a estranheza do mundo tem jeito. Nós temos. O pronome "nós", nesse mundo estranho, compreende, quando muito, o núcleo familiar. Como esperar, então, que haja gentileza para com o outro, se o pronome "nós" não consegue nem perceber o outro? Aí então, deixa de ser um pronome para virar um substantivo plural. Substantivo esse cada vez mais difícil de se desatar... e daí todo o estranhamento. Proponho, como forma de anular tal estranhamento, a palavra franca, o toque, o abraço... O que me fez lembrar do meu amigo Othoni que, na comunidade Ame e dê vexame, faz um jogo de palavras com "abraços" e "há braços"... Ao que eu respondi:

Há braços. Há pernas. Há bocas. Há olhos. Há nervos e músculos e sangue e suores e sêmen. Há de certo sentimentos. Há palavras a traduzi-los. Há equívocos a interpretá-las. Há dores, portanto...
Há dias sim, há dias não... Adias o quê no coração?


Há braços, há todos!




Feito louco
Pelas ruas
Com sua fé
Gentileza
O profeta
E as palavras
Calmamente
Semeando
O amor
À vida
Aos humanos
Bichos
Plantas
Terra
Terra nossa mãe.

Nem tudo acontecido
De modo que se possa dizer
Nada presta
Nada presta
Nem todos derrotados
De modo que não dê pra se fazer
Uma festa
Uma festa.

Encontrar
Perceber
Se olhar
Se entender
Se chegar
Se abraçar
E beijar
E amar
Sem medo
Insegurança
Medo do futuro
Sem medo
Solidão
Medo da mudança
Sem medo da vida
Sem medo
Das gentileza
Do coração.

Feito louco pelas ruas...

(Gonzaguinha)

6.4.07

O flower power do gauche... Beads, flowers, freedom, happiness

Uma coisa é certa, isso tenho que admitir: este blog não é mais aquele, olha a cara dele!!!! De revoltadinho e desbocado no início a filosófico e zen nos últimos tempos.... Putz! Que mudança, caro Ed!!!!!
Sei lá, estou lendo um livro sobre os ’70 e talvez esteja impregnado do flower power da época. Estou aprendendo a não levar a vida tão a sério e a manter minha cabecinha e meu coraçãozinho tranqüilos... Totalmente bicho-grilo!!!!!!

My body
Is walking in space

My soul is in orbit

With God face to face

Floating, flipping

Flying, tripping



Tá bom, tá bom... continuo meio gauche e maladroit, mas mudanças ocorreram nesse percurso de alguns meses. Entretanto, toda mudança pressupõe certa angústia. Mudando, tenho tantas coisas pra fazer e vontade de fazer tantas coisas... Espero, do fundo d’alma, encontrar disposição pra fazer tudo e ter tempo pra conjugar planos e realidade. Só não consegui ainda descobrir um jeito de ser feliz. Preciso resolver isso...

Enquanto isso, vou escrevendo... ou tentando arremedos de escritos... Se alguém me perguntasse não saberia dizer se continuo escrevendo por pura falta do que fazer ou por teimosia vaidosa, ou porque não aprendi outra coisa, ou ainda por perplexidade diante da vida, por amor à verdade, por insônia ou indignação, da mesma forma que não saberia dizer se continuo escrevendo para ficar mais sábio ou mais louco. O fato é que talvez a gente sempre perca um pouco da clareza de visão na exata medida em que nos debruçamos sobre nossa própria obra, e por isso mesmo a gente costuma confundir essa complexidade de nossos esforços intelectuais e literários com um avanço de conhecimento. Mas vou escrevendo... e tentando manter o equilíbrio e a calma... Aquietai vossos corações, caros leitores!!!! O blog do Ed ainda tem muito a vos dizer... Só está um pouquinho mais reflexivo... Como falei, estou impregnado do clima make love, not war dos anos 70. Ando tendo uma nostalgia danada deste tipo de clima. Estou mesmo pensando em fazer yoga, ouvir mais vezes Ravi Shankar e Os Novos Baianos, reler Timothy Leary e Allen Ginsberg... O perigo é alguém me pegar atracado com uma cuia de arroz integral, botando banchá na orelha e falando com planta. Se pegarem isso, podem me internar que o bicho grilo passou do ponto... hehehehehe


Tudo é uma questão de manter
a mente quieta, a espinha ereta
e o coração tranqüilo


Boa Páscoa a todos!

2.4.07

Use filtro solar

Muita gente conhece o discurso musicado “O Filtro Solar”, na voz de Pedro Bial, lançado no Brasil no último programa Fantástico de 2003, na Globo, e mais recentemente lido pelo mesmo boçal na não menos boçal última edição do Big Brother Brasil. Mas o que pouca gente sabe é que a origem desse texto remete ao jornal americano Chicago Tribune, em uma crônica de autoria da colunista Mary Schmich, publicada em 1º de junho de 1997 e originalmente entitulada “Advice, like youth, probably just wasted on the young” [Conselhos, assim como juventude, provavelmente desperdiçados pelos jovens].

A crônica inocente se espalhou pela Internet e pelo mundo, gerou até boatos e confusões, e ainda em 1997 acabou ganhando uma versão musical na Austrália através do diretor de cinema Baz Luhrmann, que estava preparando um álbum de coletânea com reinterpretações de músicas de seus filmes e produções de palco. Com as palavras da crônica lidas na voz do ator Lee Perry ao som de uma batida suave, o trabalho gerou a inspiradora trilha musical entitulada “Everybody's Free (To Wear Sunscreen)” [Todos São Livres (Para Usar Filtro Solar)] naquele álbum. Em 1999, uma adaptação da faixa, editada de 7 para 5 minutos, se espalhou pelas rádios dos Estados Unidos e se tornou um grande sucesso. Em 2003, Pedro Bial gravou no Brasil a declamação de sua tradução deste texto para o português, tendo ao fundo a mesma música da versão americana.

Eis a versão integral em português do texto.



O Filtro Solar


Nunca deixem de usar filtro solar.

Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: use filtro solar. Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência. Já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante. Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês...

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude. Ou então, esquece. Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado. Mas pode crer, daqui a vinte anos, você vai evocar as suas fotos e perceber de um jeito que você nem desconfia hoje em dia quantas, tantas alternativas se escancaravam à sua frente. E como você realmente estava com "tudo em cima". Você não está gordo, ou gorda.

Não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que "pré-ocupação" é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade em sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, que te pegam no ponto fraco às quatro da tarde de uma terça-feira modorrenta.

Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.

Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros, não ature gente de coração leviano.

Use fio dental.

Não perca tempo com inveja. Às vezes, se está por cima; às vezes, por baixo... A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo.

Não esqueça os elegios que receber, esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine.

Guarde as antigas cartas de amor. Jogue fora os extratos bancários velhos.

Estique-se.

Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que conheço não sabiam aos 22 o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.

Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos: você vai sentir falta deles.

Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos 40, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. Faça o que fizer, não se auto-congratule demais e nem seja severo demais com você. As suas escolhas têm sempre metade das chances de dar certo. É assim para todo mundo.

Desfrute de seu corpo, use-o de toda maneira que puder mesmo. Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.

Dance... Mesmo que não tenha onde, além de seu próprio quarto.

Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois. Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio.

Brother and Sister
Together we'll make it trough

Someday a spirit will take you

And guide you there

I know you've be hurting

But I've been waiting to be there for you

And I'll be there just helping you out

Whenever I can


Dedique-se a conhecer os seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez. Seja legal com os seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e, possivelmente, quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.

Entenda que amigos vão e vêm. Mas nunca abra mão de uns poucos e bons. Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e destinos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem.

More uma vez em Nova Iorque, mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer. Viaje.

Aceite certas verdades inescapáveis: os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você também vai envelhecer. E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes e as crianças respeitavam os mais velhos.

Respeite os mais velhos.

Não espere que ninguém segure a sua barra. Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada, talvez case com um bom partido, mas não esqueça que um dos dois pode, de repente, acabar. Não mexa demais nos cabelos, senão quando você chegar aos 40, vai aparentar 85.

Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.

Mas no filtro solar, acredite!

1.4.07

Os silenciosos venenos nossos de cada dia


Na tradição oriental do budismo, há uma condição da natureza humana que poderíamos chamar de uma insustentável ternura. Esta ternura se expressa de dois modos: através do medo e/ou através da coragem. Quando se expressa pelo medo, manifesta-se através do que chamamos de três venenos: a ignorância (ou inércia); o apego (ou prostração); e a raiva (ou interferência).

Estes três venenos são a matéria da qual o medo é feito. Não necessariamente um medo repentino; mas o medo que pode vir a tornar-se algo normal, quase insuspeitável — por exemplo, os sentimentos que nos empurram em direção ao aborrecimento ou à curiosidade.

Então, o que chamamos de obscurecimentos do coração e dos sentimentos, as emoções negativas, existem como efeito destes três venenos. Quando estamos sob sua influência, ocorre o que os budistas chamam de samsara.

Realmente, estar no samsara é simplesmente interpretar esta profunda percepção do modo mais fácil e óbvio, primeiramente com inércia: não temos vontade de nos mexer, de encontrar outro modo de traduzi-la. Não reagimos e, quando nos acostumamos a isso, desenvolvemos uma prostração, que chamamos de apego. É confortável, nos acostumamos a ela, gostamos dela.

Cada vez que algo altera esse estado de coisas, cada vez que há um impulso ao movimento, à não-inércia, há um sentimento de interferência e nos tornamos defensivos. É assim que a maioria dos homens sofre no seu samsara particular.

Pode-se, no entanto, encontrar outro modo de se vivenciar essa insustentável ternura: no contexto da coragem. Trata-se de ter coragem para ir mais longe, para fazer uma interpretação muito mais profunda. Ousar buscar a insustentável ternura requer muita coragem.

A ternura existe nas profundezas de todos nós — mas é difícil pra cacete para nós vermos isso e preferimos interpretar essa ternura como um tipo de fragilidade, ou mesmo de vulnerabilidade.

Assim que sentimos esta vulnerabilidade, desenvolvemos todos os tipos de estratégia para nos proteger, adotando uma atitude defensiva que, não raro, pode se tornar ofensiva. Mas, mesmo neste caso, nas profundezas de cada pessoa, esta ternura estará sempre lá. Sem ela, ninguém pode ser defensivo nem ofensivo. Quando vemos alguém puto da vida, desapontado, triste ou raivoso, sabemos que nada mais há do que um mal-entendido, uma má interpretação dessa ternura. E então a pessoa opta pelo veneno... E pelo silêncio... E corre-se o risco de eliminar o problema errado.


“Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.”


“Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor.”

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