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5.5.08

Hier encore...

Sabe aqueles momentos em que a gente fica assim achando que a vida passou, está passando, e a gente andou desperdiçando o melhor de nossos dias? Tipo ficou na janela vendo a banda passar... Pois é, aí a gente pega algumas fotografias antigas do tempo da facul, uma música até bonita (mas bem cafoninha) e faz um vídeo para o Youtube... And that's all, folks!
Só isso, nada mais que isso o motivo desta postagem...


Andorinha lá fora está dizendo: — "Passei o dia à toa, à toa!"
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa...

(Manuel Bandeira)





Ah sim... se alguém se interessar em baixar o vídeo, é só clicar aqui.

3.5.08

Perdoem a cara amarrada, perdoem a falta de abraço...


Perdoem por tantos perigos... Aos meus possíveis filhos, aos nossos filhos todos, só resta a minha cara de tacho, a minha inoperância e incompetência em apontar caminhos... Mais do que o buraco na camada de ozônio ou o degelo da calota polar, mais do que o desmatamento da Amazônia ou o terremoto em São Paulo, mais do que o sacrifício dos joãos e isabellas ou o sadismo de pais encarcerando filhas em porões, mais do que tudo, me assusta o rumo da nossa História. Já disse Maiakóvski que "nestes últimos vinte anos nada de novo há no rugir das tempestades" e que "o mar da história é agitado", mas então refutaria Pompeu dizendo que "navegar é preciso" (e nem ouso completar o restante da frase do general romano).

E o que eu mais tenho tentado fazer nesses últimos tempos é navegar, mas falta a angulação apropriada à minha quilha ou a envergadura correta às minhas velas talvez... Só sei que por vezes fico à deriva... mesmo que eu mande, em garrafas, mensagens por todo o mar... Olho assustado para o extrato da minha conta bancária e percebo que estou sendo assaltado da forma mais sórdida e, paradoxalmente, mais institucionalizada possível. E não há nada que eu possa fazer quanto a isso: o dinheiro é meu, o salário é meu, como também é minha a inadimplência, como também é deles o amparo da lei... Dura lex, sed lex... Sou obrigado a concordar com meu velho e falecido pai que dizia que quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro. E o que me assusta é perceber que não sou o único a ter essa compreensão das coisas. Mas parece que essa compreensão coletiva e nada são a mesma coisa.

O principal movimento que se observa nesses últimos anos (pelo menos até onde minha memória consegue retroceder), e que seria o responsável por este estado de coisas, foi um desmerecimento do mais humano (e, portanto, sagrado) fator de produção, o trabalho, pelo seu rival e expropriador, o capital. Mais propriamente o capital financeiro, especulativo, pouco produtivo. Sempre se acreditou que o fruto do trabalho seria a via principal para se chegar a uma desejada e melhor distribuição de renda. Contrariamente ao esperado, nos dias de hoje, a renda do fator trabalho situa-se no patamar mais baixo da história, na composição das rendas nacionais. E vejam bem que nem vou considerar aqui os milhões de desempregados pelo mundo afora.

Estou tentando ao máximo evitar o lugar comum, mas não tem jeito: o neoliberalismo veio mesmo para foder com tudo! Enquanto isso, os yankees continuam a ser a força hegemônica mundial, a despeito da miséria que se vê pelas ruas de suas grandes cidades, a violência que daí advém e os constantes atos terroristas de que são vítimas os cidadãos americanos, civis e militares, em sua própria terra e em todas as partes do mundo. É... o neoliberalismo veio mesmo para foder com tudo!

Fico aqui pensando que George Orwell nunca poderia imaginar que sua fictícia economia planificada e policiada seria substituída, no século XXI, por outra de regime democrático distorcido, usado para oprimir os povos e levá-los à estagnação através da expropriação dos frutos de seu trabalho. Se bem que, no fundo, acho que era mais ou menos isso o que Orwell denunciava. E se não me engano também, essa apropriação indébita tinha um nome; se me lembro bem era conhecida por "mais valia".

Alardeando os mais nobres motivos e as melhores intenções (e eles nem vão para o inferno por conta das boas intenções, porque para eles "l'enfer c'est les autres"), o império hegemônico passou a dominar econômica e militarmente todo o mundo que lhe interessa. Até mesmo a democracia, a guerra ao terrorismo, a defesa do meio ambiente, o combate ao narcotráfico, todos esses "santos nomes" são usados em vão para justificar o status quo. Mas deus é americano e, além de tudo, é astro de Hollywood! E isso explica e justifica tudo...

Décadas de recessão e atraso para a maioria da população mundial e enriquecimento deslumbrante de uma minoria enriquecida pelo modelo "democrático", capitalista e liberal que vem dominando o planeta. Sem contar as mazelas sociais que daí advêm! Mas tudo bem: as esperanças não morreram por completo se compararmos esse período relativamente pequeno (algumas décadas) com o milênio que a humanidade perdeu, sob o obscurantismo religioso (terá ele realmente terminado junto com a Idade Média?!).

O historiador Eric Hobsbawn ainda acreditava, nos estertores da morte, na salvação da humanidade. Em seu testamento intelectual, ele acreditava piamente que a sobrevivência da espécie humana dependeria de sua vontade coletiva e que ela, a humanidade, seria capaz de transpor os inevitáveis acidentes de percurso. Juro que invejo os homens e mulheres, meus irmãos, que um dia farão valer a visão do velho historiador. Mais uma vez cito Maiakóvski que também dizia: "O século XXX vencerá!" Oxalá!

O que resta a mim (um sujeito intelectualmente pessimista, mas otimista nas atitudes) é admitir a possibilidade de reversão de minhas próprias expectativas funestas e clamar aos meus possíveis filhos: "E quando colherem os frutos, digam o gosto pra mim"... e esperar que esses sejam mais doces. Porque hoje, até onde minha mão alcança no pomar, o que tenho recolhido é de um gosto muito amargo. Espero que meus possíveis filhos e possíveis netos saboreiem coisa melhor.

1.5.08

A náusea

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
(Ana C. César)



Madrugadas de compaixão infinda
por todos os homens
Na manhã seguinte,
enjôos de puta velha
sonrisal e boca seca pelo dia afora

Espio da janela
e o que ouço é o hino berrado
do vizinho evangélico -
(o dedo em riste de deus não me apavora mais!)
ou a andorinha de Bandeira
cantando a vida à toa à toa
Cerro a cortina entre os dedos
e um presságio de grito
entre os dentes

Melhor mesmo é voltar a dormir
e ancorar na alma a ânsia de vômito:
a tarde vem de passifloras...

O intragável irritante do sentimento
é a ausência de meio-termo:
ou é um caldo ralo
ou é um angu de caroço.

(Edmilson BORRET )
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