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23.11.06

José revisited


E agora, José?
O fogo acabou

A noite pifou

E você não gozou

E agora, José?

Diante de seus olhos

desfilam em gritarias

algumas bichas em transe

enquanto outras

mais adiante

envaidecem cacetes suplicantes

E você ainda

tenta um negócio

em troca de sua boca

apinhada de murmúrios

com um pederasta

que na confusão

de luzes e faróis

desaparece deixando apenas

o cheiro do talco

E agora, José?

Cadê sua graça?

Seu jeans apertado

sua louca vontade

seu cinismo dosado

sua praça

sua pica de ouro

sua voz - e agora?

Em estado de

degradação pública

você espera, José

E se esconde de

policiais que investigam

seu corpo com olhos

de maledicências

Se você gritasse

Se você uivasse

Se você gemesse

Mas você não geme

Você é burro, José

De madrugada

sem ônibus que

o acolha e o leve

de volta à fantasia

do subúrbio imaculado

você caminha, José

Ora pisando em poças

de esperma despejado

ora esbarrando em

funcionários públicos

disfarçados pelo sono

você caminha, José

José, para onde?


(Edmilson BORRET)
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