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24.11.06

Aulinha nº 1: sobre prefixos



-falaê prof
- Fala aí, rapaz!
- td blz?
- Tudo na paz.
- ae fui lah no seu blog
- Verdade? E aí? O que achou?
- pow manero
- [emoticon de surpresa]
- mas tem umas parada lah q naum intendi mto naum, tipo akela parada da infelicidade e do prefixo
- Uhum
- vc tava querendo falar do amor neh naum?
- Mais ou menos... Quer dizer: sim e não
- mas como assim eh uma questão de prefixo?
- [emoticon de espanto]
- tipo assim esse tal de guimaraes eh professor de port tb neh?
- [emoticon de espanto] [emoticon de espanto] [emoticon de espanto]
- sei lah, me lembrei dakelas suas aulas chatas sobre prefixo, sufixo, radical, akelas paradas toda lah
- Poxa, rapaz! Legal que vc tenha lembrado. Ao menos algo ficou, né não?
- pode cre, mas ae akele papo sobre amor, vc deve sacar legaw sobre essa parada de amor neh naum?
- Saco não, rapaz.
- pow mas vc diz lah q vc ta apaixonado
- Tá, cara, eu digo. Mas e daí? Quem foi que disse que o fato de alguém estar apaixonado ou amando lhe confere sabedoria ou conhecimento de causa sobre o assunto AMOR?
- ??????????
- !!!!!!!!!!!!!
- rsrsrsrsrsrs vlw mas voltando a parado do prefixo...


E aqui encerro a transcrição dessa insólita conversa no MSN. Se eu continuasse, seria uma puta dupla sacanagem: com vocês, caros leitores, e com meu estimado e anônimo ex-aluno. Aliás, ex-aluno é foda, não? É igual ex-mulher, ex-marido, ex-caso, ex-qualquer porra... Quando a gente pensa que foi, volta. Parece aqueles filmes e suas múltiplas continuações: tem sempre a parte II, a revanche, sei lá mais o quê. Mas eu gosto muito dos meus ex-alunos, na boa. Meu Orkut e meu MSN estão repletos deles. Tem jeito não: professor uma vez, professor sempre. Quem foi rei não perde a majestade... hehehehe
Mas dessa conversa surgiu material para essa postagem. Espero que meu ex (tô falando do aluno, ok) leia isso aqui: vai me economizar algumas horas no MSN...

Com relação aos prefixos e a postagem à qual ele se referia, veio-me a idéia de discorrer um pouco mais sobre o tema que eu já havia decidido não mais abordar: o famigerado AMOR. De início, o que é um prefixo? O Aurélio diz o seguinte: "Sílaba(s) que antecede(m) a raiz de uma palavra, modificando-lhe o significado e formando palavra nova". Isso posto, vamos ao AMOR. Essa babaquice que nos assola de vez em quando decorre de dois prefixos que, invariavelmente, induzem qualquer pessoa menos avisada ao erro, a saber: os prefixos mal- e sub-. Toda e qualquer busca de entendimento (ou não entendimento) do AMOR advém da adição bizarra desses dois prefixos ao objeto dessa busca. Daí, teremos o surgimento das palavras “subentendido” e “mal-entendido” (emprego do hífen é papo pra outra aula, ok?) Pois é, tudo pode começar com os subentendidos, os joguinhos de sedução, as palavrinhas doces, o papo cerca-lourenço. Aí então, o indivíduo, pouco versado nessas questões mais metafóricas do que metalingüísticas, acaba por desestruturar seu próprio discurso interno. E , quando vê, já é tarde: mergulhou de cabeça nesse reino da palavra, do logos, do verbo – e o VERBO se faz CARNE. Mas então, ocorre também que o interlocutor seja não só um grande mestre no domínio do verbo e da carne, um grande sedutor, mas também versado em outra língua. Ou seja: o indivíduo achava que se falava uma única língua, mas havia uma segunda, anterior e mais presente em seu interlocutor. Não um substrato, mas a língua oficial mesmo. E é aí que entra o segundo prefixo. Quando o interlocutor vem e diz que tudo não passou de um grande mal-entendido. Resumindo: o que começou com lindos subentendidos resultou num insolúvel mal-entendido e o indivíduo apaixonado que se foda para tentar entender como ele se deixou levar por esse papo furado de AMOR. E agora eu pergunto: quem foi que disse que a Gramática está dissociada da vida real? Vejam aí como a Gramática pode explicar um amor não-correspondido, caros leitores!
E você, meu querido ex-aluno, aproveitou bem a aula?


Caralho! Sem querer, acho que essa aulinha serviu não só para ex-aluno como para ex-qualquer porra também...



Andrea Doria

Às vezes parecia que, de tanto acreditar
Em tudo que achávamos tão certo,
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro.
Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente,
Quase parecendo te ferir.
Não queria te ver assim -
Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.
Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.
Eu sei - é tudo sem sentido.
Quero ter alguém com quem conversar,
Alguém que depois não use o que eu disse
Contra mim.
Nada mais vai me ferir.
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei.
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,
como sei que tens também...

(Renato Russo)
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