Seguidores

5.4.12

Do Dia Que Precede a Noite

(Autoria da foto: Edmilson Borret - 27/09/2009)




Ao amigo Jorge Willian


Acostuma teu peito, amigo
Que a vida tem dessas coisas
Corre ao bar da praça
Pede a cerveja mais gelada
E espera pelo magnífico pôr-do-sol

E quando a noite tiver caído
Noturna e inevitável
Como toda noite sempre será
É disso que te lembrarás:
Que estavas naquela mesa de bar
Que conheceste a novidade do dia
Tiveste a sorte do final de tarde
E assististe ao magnífico pôr-do-sol

Feliz o homem que ainda é capaz
De fazer do dia e da tarde uma novidade
Por isso - só por isso
Exatamente por isso e por mais nada
Acostuma teu peito, amigo!

(Edmilson Borret – 11/03/2012)

1.4.12

Não quero ter hora

(Autoria da foto: Edmilson Borret - 13/06/2009)

Eu não quero ter hora pra nada
Não quero ter hora pra acordar
Nem pra dormir, nem pra sonhar
Não quero ter hora pra nada

Não quero ter hora
Para escovar os dentes
Não quero ter hora pra ser diferente
Não quero ter hora
Pra te quebrar os dentes

Não quero ter hora pra ser gentil
Pra ser canalha, pra ser otário
Não quero ter hora pra você
Nem pra tevê, nem pro noticiário
Não quero ter hora pra nada

Não quero ter hora pra amar
Pra fazer a barba, nem pra comer
Não quero ter hora pra entender
Entender o quê?
Não, não quero ter hora

Não quero ter hora
Pras cartas dos náufragos
Pro almoço em família, nem pras procissões
Nem pra sua revolta, sua mágoa
Não quero ter hora pra fazer concessões
Pra mãe que chorou porque a filha casou
Pro homem sob a marquise
Pro menino no sinal
Pro tédio, pra chuva, pra lua
Pro bloco de carnaval

Não quero ter hora pro meu cinismo
Pra fraqueza do mundo
Pra dor do mundo, pra fome do mundo
Não quero ter hora pra nada
Pra nada, pro mais profundo
E absolutamente nada
Só quero ter hora
Pra minha hora – e mais nada!

(Edmilson Borret – 10/03/2012)

31.3.12

Desuso


É como um corte em evidência
na castidade dos puritanos
na ingenuidade das meninas
na maledicência dos suburbanos

As manhãs são de desmaio
as tardes de calçada e incertezas
e as noites podem doer
como o sujeito que se projeta
do viaduto, no minuto (exato!)
do sangue arder

(Edmilson Borret – 29/02/2012)


(Autoria da foto: Edmilson Borret - 12/01/2012)

29.2.12

POEMA DE QUANDO VOCÊ SE FOI

(Autoria da foto: Edmilson Borret - 21/02/2012)


o som daquela porta fechando
ainda dói no estômago
mastigo e engulo a ranitidina
com a lágrima do entre nós
o azul caído da tua retina
ainda impregna as paredes
ainda ilumina o meu quintal
escorre das fronhas e lençóis

o vidro da lente que te viu
se mistura agora no chão
com o copo que se partiu
onde antes era uma casa
arrumada
e agora não há nada
além de velhas canções e a poeira
ficou o teu cheiro na toalha
ficou a dor no estômago
ficou o colorido da pulseira

How i wish
How i wish you were here

(Edmilson Borret – 21/02/2012)

13.1.12

Inventário


Não sou um homem.
Sou um menino em pele de homem.

Porque o tempo vai apagando
os traços da inocência,
o menino se debate sob a pele,
as unhas arranham
e rasgam a pele -
Os rasgos se cicatrizam.

Às cicatrizes dão o nome
de rugas.

(Edmilson Borret – 08/01/2012)

18.10.11

aquele abril




havia nos muros palavras
e nas palavras silêncio
havia na calçada flores
e rostos emoldurados
e deuses e esperanças
enfileirados na noite
de profetas e jornais



havia nos abraços espanto
e nas vigílias dormência
e nos nomes havia
o cheiro perfurante das memórias
feito pedaços de uma xícara
- uma canção inacabada

havia nos dias um outono
e holofotes e manchetes
e um de repente abissal
nas rugas no canto da boca
nas entranhas inconformadas
feito inverno antecipado
feito café frio e amargo
e doce esquecido no prato

havia o ponteiro do relógio
parado fora de hora
e a esquina absurda do medo
e a poeira dos sonhos de avós
e o espetáculo
e o soluço
e a aspirina

havia as batinas e os coturnos
os ternos e as bíblias
e a voz ritmada do pop star
e havia quem dissesse um
quem dissesse doze
ou quase mil
quem os dissesse anjos
feito se lhes antevissem as asas

(Edmilson Borret – 18/10/2011)

Related Posts with Thumbnails