havia nos muros palavras
e nas palavras silêncio
havia na calçada flores
e rostos emoldurados
e deuses e esperanças
enfileirados na noite
de profetas e jornais
havia nos abraços espanto
e nas vigílias dormência
e nos nomes havia
o cheiro perfurante das memórias
feito pedaços de uma xícara
- uma canção inacabada
havia nos dias um outono
e holofotes e manchetes
e um de repente abissal
nas rugas no canto da boca
nas entranhas inconformadas
feito inverno antecipado
feito café frio e amargo
e doce esquecido no prato
havia o ponteiro do relógio
parado fora de hora
e a esquina absurda do medo
e a poeira dos sonhos de avós
e o espetáculo
e o soluço
e a aspirina
havia as batinas e os coturnos
os ternos e as bíblias
e a voz ritmada do pop star
e havia quem dissesse um
quem dissesse doze
ou quase mil
quem os dissesse anjos
feito se lhes antevissem as asas
(Edmilson Borret – 18/10/2011)
2 comentários:
Muito bom.Aquele abril precisa ser poematizado precisa ser transmutado para que a beleza se faça dona dor que se apresentou como tragédia.Ao ler o poema Lembrei-me de "As Flores de Abril" do velho Vinícius e do meu "Revoada" sobre o mesmo tema.
VÊ SE ESCREVE, MEU AMIGO, PASSEI AQUI PARA CONFERIR POIS QUERIA LER ALGO NOVO DE TUA AUTORIA. ESTA VIDA DE FACEBOOKEIRO(RSRSRS)AINDA TE MATA RSRSR.
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