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19.11.06

Virtualidades...


“A meu ver, toda a fragilidade das relações virtuais, ainda que cheias de declarações e juras de amor, se deve à facilidade que as pessoas têm de ser quem não são, ou quem gostariam de ser, mas não têm coragem nem se consideram capazes para tanto...
Daí, as palavras são digitadas, mas não têm alma. Os sentimentos são descritos, mas não têm profundidade. Os encontros são idealizados, mas não têm força de realização, não têm disponibilidade suficiente para acontecerem... porque estão, sobretudo, impossibilitados pelo medo da rejeição, pelos exageros cometidos sem noção, pelas condições reais ignoradas em nome de desejos fugazes e proibidos...
E assim, quem está do outro lado, mergulhado até o pescoço nesta fantasia, fica sem entender... Perguntando-se o que foi que houve, o que deu errado, o que poderia ter sido, vivido, sentido, compartilhado... sem nunca realmente ter ouvido sequer a respiração ofegante do outro em busca de um amor que pudesse ser real.”

(Rosana Braga)



Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada

(Vinícius de Morais)

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