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15.8.07

O voyeurismo canalha do gauche


É interessante observar pessoas sem que elas nos vejam. É quase doentio isso, eu sei, mas é algo a que tenho me dedicado há algum tempo. Não diria que chego ao extremo de um L.B. Jeffries hitchcockiano (até porque não tenho o charme do James Stewart), mas observar aqui do meu cantinho me dá um prazer meio estranho... Sei não, mas tô sentindo um cheiro de uma sociopatia qualquer no ar... Alguém aí me indicaria um bom analista? hehehehehe

Ok, ok. No filme do mestre do suspense tinha um puta binóculo, um puta apartamento, uma puta janela numa puta sala e um puto numa cadeira de rodas observando a vizinhança... De tudo isso, acho que só tenho o tanto de puto e a imobilidade das pernas... não por estar também numa cadeira de rodas, mas por conta dessa letargia que parece ter se apoderado de mim. Há meses que fiz do espaço pouco do meu quarto o meu mundo. Daqui vejo tudo, espio tudo, ouço tudo, rio de tudo e choro por tudo. Meu quarto fede a cigarro e a esquecimento (eu ia falar "esperma", mas me contive por achar que isso chocaria aqueles que ainda não conseguem ligar o nome à coisa)... e nem a poeira dos móveis eu ouso retirar: faz parte da ambientação. E devo avisar que já estou de antemão mandando tomar no cu o primeiro filho da puta que vier me falar de síndrome do pânico, depressão, morte em vida ou coisa que o valha, ok? Não, não é nada disso. É só recolhimento mesmo. E ponto final. A única coisa que poderia me preocupar seria se essa imobilidade que se verifica no corpo atingisse as idéias. Aí sim, meus caros, vocês poderiam mandar vir o carro fúnebre, caixão, coroa e uma banda de rhythm‘n’blues (que eu vou querer um funeral como aqueles bem tradicionais de New Orleans... pois vamos combinar: o Ed aqui gosta é de pompa mesmo!!!!). Mas não, não é ainda o caso. No fundo, estou bem. Recolhido, é certo. Mas bem. Quando muito, os amigos (os verdadeiros amigos) poderiam me dizer a título de exortação as famosas palavras de ordem "vai à luta", "sai dessa lama, jacaré", "solta a franga" "volta pro reduto, luana" ou, para ser mais moderninho, uma que o Selton Mello usa numa propaganda de um banco veiculada atualmente na tv e nas rádios: "sai de trás dessa pilastra, se joga, criatura!"

Feito esse enoooooooorme parêntesis, volto ao tema do início: o meu voyeurismo atual. Muitos acham, por exemplo, que ando afastado do orkut e do MSN. Nada. Estou tão presente quanto antes. Só não interajo tanto quanto antes. Enquanto fico aqui baixando meus filminhos e meus mp3, observo as pessoas desfilando pelo orkut, pelas comunidades e, sobretudo, pelo MSN. Adoro, por exemplo, observar as mensagens pessoais que os amigos colocam logo após o nick no MSN... é cada coisa bem interessante mesmo! Sem falar nas músicas que as pessoas estão ouvindo! Dia desses, por exemplo, minha amiguinha Bel estava ouvindo "Another brick on the wall"... eu a via, ela não me via... cruel, não? hehehehehe

Just another brick on the wall... Só mais um tijolo no muro. That’s it! Somos apenas mais um tijolo na porra do muro, essa é a verdade. E fico aqui pensando que, enquanto passo meu tempo a observar pessoas, a vida corre lá fora, queira eu ou não. Meu peso, enquanto tijolo, será mensurado e considerado como algo significativo nesse processo todo? Ou será preciso que eu, enquanto tijolo em falso, despenque desse muro e caia na cabeça do passante desavisado para que se perceba que, ainda que tijolo, continuo por aqui? De qualquer maneira, haverá algum barulho (tijolo se espatifando em queda faz um estrondo do caralho) ou alguma fúria (tijolo nas fuças tem o poder de liberar muitos palavrões) na pequena história deste pobre idiota aqui?
"A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre cômico que se empavona e se agita por uma hora no palco, sem que seja, após isso, ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de som e fúria, que nada significa."

Cito Macbeth de propósito: quero assim mostrar a degradação da minha natureza humana, o lado obscuro da minha alma, as conseqüências últimas da minha entrega total ao pecado. O delicioso pecado de espiar os outros. Pois hoje cedi mais uma vez a esse vício. Mas não foi no virtual. Foi bem real. Gargalhei intimamente ao observar a mediocridade e a pequenez humana disfarçada de tenacidade moral. Não sou nem nunca fui muito adepto de termos pejorativos como "vadia" ou "cachorra" para se referir às mulheres. É algo que não parece condizer muito bem com meu jeito meio feminil de ser. Mas a observação minuciosa das atitudes de uma certa mulher hoje me deu ganas de lançar mão de tais adjetivos. Pela primeira vez em muito tempo me deu vontade de ser meio troglodita, canalha e filho da puta com uma mulher. Continuei, porém, na minha observação das atitudes e reações da infeliz e quase que acabei por sentir pena da dita cuja. Observando-a, deleitei-me. Senti um prazer imenso ao vê-la se debater para querer mostrar retidão após ter tão descaradamente deixado cair a máscara da pretensa pureza. Não que eu seja moralista a ponto de achar relevante a pureza numa mulher. Mas coerência e honestidade, isso sim eu acho muito relevante. Caetanamente, não vou querer falar da malícia de toda mulher. Mas até para se ter malícia é preciso coerência, inteligência e honestidade, caramba!

A pobre passante desavisada foi vítima do meu tijolo em queda franca, coitada... Também, quem mandou esbarrar no muro? Não se esbarra impunemente num muro introspectivo e observador. Eu tava aqui na minha imobilidade e esquecimento, lembram? E muro é sempre muro. Rima com duro. Se não vai encarar que passe ao largo. Mas não me venha com falso puritanismo babaca porque eu, recém-chegado aos 40, degradado e degradante, obscuro e pecador, observo e observo sempre... É meu vício, é meu prazer calhorda. Sou um voyeur da alma humana. Perspicaz quando necessário. Fútil quando assim me convém. Sentimental quase chegando às raias do existencialismo (como observou minha amiguinha Cristiane) quando me sinto sufocado. Mas sarcástico, ácido e cruel quando instigado. E tudo isso, fruto desse voyeurismo a que venho me dedicando...

Coitada mesmo da passante desavisada de hoje! Se eu tivesse o charme inocente do James Stewart talvez ela tivesse tido mais sorte... Mas ela teve o azar de esbarrar com o sociopata esquisitão, sórdido e doentiamente observador do Ed aqui... Por mais que ela tenha tardiamente tentado se camuflar, eu a vi nua em pêlo...



"Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro."

(Mario de Sá-Carneiro)

2 comentários:

Teté M. Jorge disse...

Caraca, bicho!!! Isso aqui tá bom demais! Você ainda pergunta se "alguém aí me indicaria um bom analista"? Você se basta,meu amigo! Eletrizante essa postagem. Fiquei a mil por hora... Tô sem jeito, mas vou falar:
Ed, você é fodão mesmo???
Beijos enlouquecidos.

Fernanda cerdeira disse...

Nossaaaa...bem antigo,mas amei...estou chegando aos quarenta e as vezes gostaria de ficar assim...estou fora da minha cidade(Rio)e perto de tanta gente desinteressante,que a minha vontade e enclausurar-me ,mas não dá...sempre escuto um manheeeeeeeeee ,aí tenho que sair da minha introspecção...e cair na real mesmoooo.
Agora venho aqui e me liberto da futilidade desta província chamada Sarneylândia ops São luis...
Bjos meu querido!!

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