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21.11.06

Quero ser Divina Scarpim!


Sim... mais do que John Malkovich, queria ser Divina Scarpim. E antes que o nêgo dela me olhe estranho e me entenda mal, apresso-me a me explicar. Lá naquele mesmo andar sete e meio, onde todas pessoas andam encurvadas, queria descobrir também uma tal porta que levasse direto à mente dela e onde pudesse permanecer por bem mais do que quinze minutos. Mergulhar fundo no universo (ou seria um buraco negro) dessa mulher que é a um tempo "professora, casada, mãe, que adora ler, rabiscadora em tempo livre, que odeia falta de educação, que não entende religião, chocólatra assumida", cervejeira das boas e com um domínio da palavra de fazer inveja a qualquer um...






UMA NOVA LICENÇA POÉTICA
a Divina Scarpim

licenciosamente poética
todas as adélias e clarices e hildas
acampam em seu ventre
e para o alento quando muito
chutam o pau na barraca
colhões em dor pela
puta que pariu santa
você inaugura é linguagem
e lendo-a menos que menino
me revejo homem e invejo
seu atavio de Afrodite
divina feita na escuma
do nosso corte atirado às vagas –
para o bem de toda humanidade...
sim, somos coxos sim
para muito além de todos os botticellis
de uma beleza que se nos brota
perante seu verbo de sina
de mulher desdobrável
por saber-se ser

(Edmilson BORRET – 21 de novembro de 2006)

De punheteiro a Dama das Camélias... Caráio, véio! Que viagem!... Ou será "Que viadagem" ???!!!!


Puta que pariu!Parece que apenas um dia sem blogar me fez perder a facilidade de escrever. Ou de começar, pelo menos. Vocês podem até não acreditar, caros leitores atônitos, mas tenho tantas coisas para partilhar. Não riam: é sério. Digo isso do fundo d’alma. O foda é que às vezes nem sei por onde começar. Mas uma coisa é certa: tenho de parar de tocar punheta por um tempo: vou escrever um livro. Não importa o título, não importa a qualidade, a temática ou o enredo muito intricado. Escrever uma coisa má, só para variar. Tenho que usar as mãos para algo mais produtivo, além do quotidiano e religioso “cinco contra um”. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo: isso está claro... hehehehe.. Mas é sério: se não escrevo por muito tempo, é como se algo me comprimisse o meu lobo frontal quase ao extremo e uma dor daí se irradiasse para todos os meus músculos, a espasmos. É como se as idéias desordenadas ficassem bombardeando meu cérebro, ricocheteando nas paredes do crânio. Aí, quando eu começo a escrever, parece que os pensamentos se alinham e o meu corpo se acalma – os músculos retesados retornam ao repouso inicial. Só que muitas vezes eu não tenho a mais mínima idéia de onde tudo isso vai dar. Não raro, acabo enveredando por caminhos totalmente diferentes daquele que eu havia pensado tomar no início. Mas foda-se! Pelo menos eu escrevi. E a dor passou. Adio assim o estado de choque pós-convulsão.
Por falar em convulsão, lembrei-me agora das minhas febres de quando tísico (olha aí o que eu falava há pouco sobre as idéias fugidias!). Tem umas almas por aí que odeiam quando digo que sou (ou melhor... fui) um tísico. Hoje em dia acredita-se que toda a gente é saudável, até que se prove o contrário. Desde há muito tempo, aboliu-se o uso de expressões como "fulano é um leproso ou morfético" ou "beltrano é tísico" por ser ofensivo aos portadores da lepra e tuberculose, respectivamente. Mas num tempo anterior a essa nova mentalidade “politicamente correta”, ser tísico era sinal de doença grave. Como o é hoje em dia ter câncer ou Aids. Eu, particularmente, sempre achei essa história de ser tísico não um sinal de maldição, mas um sinônimo de beleza. Sei lá, algo assim meio Dama das Camélias, meio poeta romântico, meio Manuel Bandeira. Por mais que racionalmente eu soubesse que aqueles “numerosos bacilos álcool-ácido resistentes” a corroer meu pulmão esquerdo poderiam me levar à morte (e quase o fizeram), mas sempre dentro desse meu ideal estético-fantasioso-patético-imaginário, nas minhas noites de sudorese, febre alta, delírios e hemoptises eu me via assim meio que envolto numa certa aura de poesia e beleza... “Quero morrer em beleza”: lembrava sempre desse verso dum poema do António Botto já postado aqui nesse blog.
Mas não morri. E a beleza foi-se. Por isso continuo me dizendo tísico. Tentativa de disfarçar minha feiúra atual. Puta merda! Nem pra Marguerite Gautier eu sirvo nessa minha vidinha de bosta... Tá bom. Admito. Essa história de Marguerite Gautier é meio coisa de viado. Fiquemos então com o arremedo de Bandeira, ok?


DIAGNÓSTICO

Ai essa febre
essa dor no peito
essa falta de ar
esse amargor na boca
essa vontade de chorar
essa tristeza sem fim
- É grave, doutor?
- Tens o pulmão esquerdo
perfurado
morto
necrosado.
- E o coração, doutor,
o coração, o coração?...
- Ir-re-me-di-a-vel-men-te
perdido, meu rapaz...
Também
quem mandou abusar?
Quem mandou
não lhe saber os limites?

Quem mandou amar tanto?


(Edmilson BORRET – Setembro de 2006)

19.11.06

Sou Macabéa


MACABÉA: Glória, você me arruma uma aspirina?
GLÓRIA: Por que é que você me pede tanta aspirina? Não estou reclamando, mas isso custa dinheiro.
MACABÉA: É para eu não me doer.
GLÓRIA: Como é que é? Hein? Você se dói?
MACABÉA: Eu me dôo o tempo todo.
GLÓRIA: Aonde?
MACABÉA: Dentro. Não sei explicar.

(A hora da estrela, Clarice Lispector)








"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem peso da palavra nunca dita, prestes a quem sabe ser dita. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o peso da solidão no meio dos outros."
(Clarice Lispector)

Virtualidades...


“A meu ver, toda a fragilidade das relações virtuais, ainda que cheias de declarações e juras de amor, se deve à facilidade que as pessoas têm de ser quem não são, ou quem gostariam de ser, mas não têm coragem nem se consideram capazes para tanto...
Daí, as palavras são digitadas, mas não têm alma. Os sentimentos são descritos, mas não têm profundidade. Os encontros são idealizados, mas não têm força de realização, não têm disponibilidade suficiente para acontecerem... porque estão, sobretudo, impossibilitados pelo medo da rejeição, pelos exageros cometidos sem noção, pelas condições reais ignoradas em nome de desejos fugazes e proibidos...
E assim, quem está do outro lado, mergulhado até o pescoço nesta fantasia, fica sem entender... Perguntando-se o que foi que houve, o que deu errado, o que poderia ter sido, vivido, sentido, compartilhado... sem nunca realmente ter ouvido sequer a respiração ofegante do outro em busca de um amor que pudesse ser real.”

(Rosana Braga)



Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada

(Vinícius de Morais)

"Infelicidade é uma questão de prefixo." (Guimarães Rosa)


O amor não é algo que te faz sair do chão e te transporta para lugares que nunca vistes.
Isso se chama avião.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que te faz perder a respiração e a fala.
Isso se chama bronquite asmática.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que chega de repente e te transforma em refém.
Isso se chama seqüestrador.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que voa alto no céu e deixa sua marca por onde passa.
Isso se chama pombo com caganeira.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que tu podes prender ou botar pra fora de casa quando bem entender.
Isso se chama cachorro.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que escondes dentro de ti e não mostras para ninguém.
Isso se chama vibrador tailandês de três velocidades.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que lançou uma luz sobre ti, te levou pra ver estrelas e te trouxe de volta com algo dele dentro de ti.
Isso se chama alienígena.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que desapareceu e que, se encontrado, poderia mudar o que está diante de ti.
Isso se chama controle remoto de TV.
O amor é outra coisa.

(Quando eu souber a autoria, eu posto aqui.... Valeu, Divina, pelo texto!!!)


Isto posto...



Para avião... bateria anti-aérea.

Para bronquite asmática... simpatia da vovó ou arrancar o pulmão.

Para seqüestrador... Divisão Anti-Seqüestro e porrada no filho da puta.

Para pombo com caganeira... espingarda de chumbinho.

Para cachorro... coleira, focinheira e enforcador.

Para vibrador tailandês com três velocidades... enfiar no cu do próximo filho da puta que te disser "eu te amo".

Para alienígena... Homens de Preto.

Para controle remoto de TV... lançá-lo na parede ou retirar-lhe as pilhas.

Pronto!! Prontinho... Tudo resolvido!!! Seja qual for a faceta do puto, há sempre uma meneira de botar o cabra pra correr...E não me venham mais falar dessa babaquice toda sobre o amor, ok?

18.11.06

Os dias eram assim...

Vivemos esperando
O dia em que seremos melhores
Melhores no amor, melhores na dor
Melhores em tudo
Vivemos esperando
O dia em que seremos para sempre
Vivemos esperando
Dias melhores para sempre

(Rogério Flausino)





PAX DOMINI

Na matemática das paixões
subtraiu-se-me
o ardor de há tempos
Restou-me o torpor
das tardes cinzentas
A vida através
das páginas
e das vidraças
A calmaria
A espera
A expressão serena
e madura
E essa estranha
sensação de
estar perdendo
o melhor dos meus dias

Viver é perigoso !

(Edmilson BORRET)

Não serei o poeta de um mundo caduco...


E também não cantarei porríssima de mundo futuro nenhum. Nem tenho bola de cristal, cacete!!! Quando muito desafinarei algumas notas a esse velho mundo presente, podre antes do tempo, estagnado como a água das poças das ruas desse subúrbio imundo. Quem quiser levianamente vaticinar alguma luz no fim do túnel, que o faça, mas não conte comigo... Infelizmente, ainda estou preso à vida e olho bestificado meus companheiros. Estão taciturnos e burros, mas ainda nutrem grandes esperanças, coitados !!! Guardam até dinheiro em caderneta os infelizes... Acumulam-se de provisões para uma momento que não sabem qual, mas que lhes disseram que viria... São formiguinhas de la Fontaine a escarnecer a cigarra desafinada aqui... Entre eles, considero a enorme obtusidade, a perversa bondade e repudio sua caridade de sacolinha de igreja... Não nos afastemos muito, seus nojentos !!! Quero tê-los ao alcance da minha mão na hora do soco... Seus hipócritas de merda !!! Vamos de mãos dadas... e sujas !!! Distribuiria, de bom grado, entorpecentes e cartas de suicida... Mas duvido muito que vocês os engoliriam, duvido muito que vocês as leriam...


GRANDEZAS & MISÉRIAS

Nada foi dito.
Pensa-se muito
mas nada é dito.
E teu futuro não espelha
grandeza nenhuma.
No meu coração
sei que a fábula é única.
O tempo passa
a história o enfrenta.
No fundo do meu coração
percebo a miséria de se estar.
No meu coração sei que nada foi dito.
No meu coração - e eu o tenho.
Tu bem sabes, Marília:
eu quase tenho um coração
maior que o mundo.

(Edmilson BORRET)

17.11.06

"Fica boazinha, minha dor..."

É assim algo que não sei dizer... Não é tristeza, nem melancolia... É como disse uma vez minha amiga Daia: é uma saudade difusa...
"Meu coração não quer deixar meu corpo descansar
E o teu desejo inverso é velho amigo
Já que o tenho sempre ao meu lado"

(Renato Russo)


Quer saber? Acho que estou precisando tirar férias de mim...


16.11.06

Quatro poetas diante da dor... Apatia ou estoicismo ?


Apatia provém do grego clássico apatheia.
Páthos em grego, significa "tudo aquilo que afeta o corpo ou a alma" e tanto quer dizer dor, sofrimento, doença, como o estado da alma diante de circunstâncias exteriores capazes de produzir emoções agradáveis ou desagradáveis, paixões. Assim, apatheia tanto pode significar ausência de doença, de lesão orgânica, como ausência de paixão, de emoções.
O termo apatheia foi usado por Aristóteles (384-322 a.C.) no sentido de impassibilidade, insensibilidade, e, a seguir, incorporado pela escola filosófica fundada por Zenon (335-263 a.C.), denominada estoicismo, para expressar um estado de espírito ideal a ser alcançado pelo homem durante a sua existência.
Segundo o estoicismo, o sofrimento decorre das reações despertadas no ser humano por quatro classes de emoções: a dor, o medo, o desejo e o prazer.
“Muitos temores nascem do cansaço e da solidão” (Desideratha)
“Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor” (Buda)

(Apud Renato Russo)

O ideal do estóico é alcançar a apatheia, ou seja, a natural aceitação dos acontecimentos, uma atitude passiva diante da dor e do prazer, a abolição das reações emotivas, a ausência de paixões de qualquer natureza.

Quatro poetas expressam sua atitude diante da dor. Ensaiam domá-la, educá-la, acarinhá-la, iludi-la, ignorá-la ou simplesmente edulcorá-la. Meu amigo de Orkut, Paulino Vergetti, dela escarneceu e agigantou-se. Baudelaire trouxe-a ao colo. António Botto dela maquiou-se e fez-se ainda mais belo. E o poeta menor que aqui vos fala dela fez sua cama.



Independo-me

Educar minha dor faz-me homem
por saber toda a sombra que me amedronta
tirando-me o fôlego,
jogando-me contra os penedos da dor.
Faço o que quero ser
sem medo ou com medo
mas a tudo ser.
Para ser igual a mim,
basta ser assim
encorajado,
dado,
refletido.
O mundo há de aprender comigo
a viver, a amar, a mentir...
a ser doutros mundos.

(Paulino Vergetti)


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Recueillement

Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille.
Tu réclamais le Soir; il descend; le voici :
Une atmosphère obscure enveloppe la ville,
Aux uns portant la paix, aux autres le souci.

Pendant que des mortels la multitude vile,
Sous le fouet du Plaisir, ce bourreau sans merci,
Va cueillir des remords dans la fête servile,
Ma Douleur, donne-moi la main; viens par ici,

Loin d'eux. Vois se pencher les défuntes Années,
Sur les balcons du ciel, en robes surannées;
Surgir du fond des eaux le Regret souriant;

Le Soleil moribond s'endormir sous une arche,
Et, comme un long linceul traînant à l'Orient,
Entends, ma chère, entends la douce Nuit qui marche.

(Charles Baudelaire)


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A fatalidade,
Várias vezes,
No meu caminho aparece;
Mas,
Não consegue perturbar
A minha serenidade.

Somente,
No meu olhar,
Poisa e fica mais tristeza.
Não me revolto,
Nem desespero.

- Quero morrer em beleza.

(António Botto)


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CONFISSÃO

Deixo às feminis fraquezas
e aos corações traídos
a patética atitude
de morrer de amor.
Na disputa impiedosa
entre vida e morte
meu amor vai passar ileso
e vai buscar no espaço mesmo
do sonho e da ausência
a matéria com que tecer
seu corpo junto ao meu.

(Edmilson BORRET)



Ninguém me expulsou do paraíso
Eu simplesmente decidi ir embora...
Por que às vezes escolhemos o que não queremos e o Destino lava as mãos.

"Se eu pudesse, eu o faria..."


Bad
U2

If you twist and turn away
If you tear yourself in two again
If I could, yes I would
If I could, I would
Let it go
Surrender
Dislocate

If I could throw this
Lifeless lifeline to the wind
Leave this heart of clay
See you walk, walk away
Into the night
And through the rain
Into the half-light
And through the flame

If I could through myself
Set your spirit free
I'd lead your heart away
See you break, break away
Into the light
And to the day

To let it go
And so to fade away
To let it go
And so fade away

I'm wide awake
I'm wide awake
Wide awake
I'm not sleeping
Oh, no, no, no

If you should ask then maybe they'd
Tell you what I would say
True colors fly in blue and black
Bruised silken sky and burning flag
Colours crash, collide in blood shot eyes

If I could, you know I would
If I could, I would
Let it go...

This desperation
Dislocation
Separation
Condemnation
Revelation
In temptation
Isolation
Desolation
Let it go

And so fade away
To let it go
And so fade away
To let it go
And so to fade away

I'm wide awake
I'm wide awake
Wide awake
I'm not sleeping
Oh, no, no, no

15.11.06

Fumando espero...


"Junto a La cieguita, cuja fama se verifica na versão de Gardel e da qual não se têm muitas gravações, Fumando espero é, com certeza, o tango mais famoso composto na Espanha. Foi escrito para uma peça teatral, a revista La nueva España, que estreou em Barcelona, no teatro Victoria em 1923. Foi levada para a Argentina e Firpo o gravou em versão instrumental.
O tango foi gravado pela primeira vez em 1926 pela cupletista Ramoncita Rovira, por Rosita Quiroga e Ignacio Corsini em 1927, e então foram feitas diversas excelentes versões. Entre as mais famosas estão as de Argentino Ledesma com Hector Varela em 1955. Em 1956, com Di Sarli; Libertad Lamarque com Victor Buchino e Carlos Dante com Alfredo De Angelis. A atriz Sarita Montiel tornou-a imortal no cinema, no filme “El último cuplé”, de 1957.
Viladomat nasceu em Manlleu (Barcelona) em 8 de fevereiro de 1885. Primeiramente aderiu à pintura, mas depois aprenderia música em sua estada no seminário de Vich. Em 1899 já é flautista na banda de sua cidade e, já em Barcelona, faz concurso para o conservatório do Liceo (1906).
Em 1910 abre uma academia, que edita suas próprias obras musicais. Durante a época de esplendor do fox-trot, Viladomat compôs continuamente, sendo suas obras interpretadas pelas cantoras mais famosas, como Raquel Meller, Mercedes Serós, Pilar Alonso, Elvira de Amaya, Amalia Molina, Adelita Lulú, Consuelo Hidalgo, Eugenia Roca, etc. Algumas canções: Al sena, Carrer avall, Catalunya plora, El beso, El pintor cubista, El primer tango, El regreso, El 6 d’octubre, El vestir d’en Pasqual, Empordá lliure, Hoy, Julieta (tango), L’orfaneta, La canción de Margot, La catalanista, La expulsada, La golondrina, La mesonera, La puntaire, La sardana republicana, La Verónica, Niní, Palabritas amorosas, Porque era negro, Una mujer, Ven a mi país, Zenga (tango).
Viladomat atingiu o triunfo em vida mas também teve tempo de assistir à decadência dos gêneros que lhe deram fama. Depois da guerra civil espanhola, os teatros de variedades começaram a decair ante o crescente vigor da comédia americana, a canção folclórica ou o esporte. Juan Viladomat i Massanes as acompanhou em seu óbito. Em 29 de dezembro de 1940, morria em Barcelona sem que sua ainda recente fama alimentasse nenhuma crônica jornalística. A guerra tinha feito passar a segundo plano tudo que não fossem suas sinistras conseqüências."

Javier Barreiro (Publicado na Revista Club de Tango – maio de 1994 – trad. RM)


FUMANDO ESPERO
Música: Juan Viladomat Masanas & Felix Garzó
Letra: Juan Viladomat Masanas

Fumar es un placer, genial, sensual…
Fumando espero a la que tanto quiero
tras los cristales de alegres ventanales
y mientras fumo mi vida no consumo,
porque flotando el humo me suelo adormecer.

Tendido en el sofa, soñar y amar
ver a mi amada feliz y enamorada
sentir sus labios besar con besos sabios
y el devaneo sentir con mas deseos
cuando sus ojos veo sedientos de pasión.

Por eso estando mi bien
es mi fumar un eden,
dame el humo de tu boca
dame que en mí, pasión provoca,
corre que quiero enloquecer de placer,
sintiendo ese calor del humo embriagador
que acaba por prender
la llama ardiente del amor.

14.11.06

Poeticamente violento. Instigantemente atroz. Sedutoramente repulsivo.


Transpondo Os 120 Dias de Sodoma, do Marquês de Sade, para os últimos dias da ditadura fascista italiana, Salò não podia deixar de ser um filme violento, atroz, repulsivo. Poeticamente violento. Instigantemente atroz. Sedutoramente repulsivo. O sexo é agora um castigo; uma introdução às torturas finais, de que são merecedores todos aqueles que mereceram uma referência no livrinho de apontamentos dos detentores do poder. O sexo além de ser a metáfora da relação sexual (obrigatória e pavorosa) que a tolerância do poder consumista nos faz viver nos dias de hoje, todo sexo que aparece em Salò (e do modo como aparece) é também a metáfora da relação de poder entre aqueles que a ele se submetem. Em outras palavras, é a representação (talvez onírica) daquilo que Marx define como a alienação do homem: a redução do corpo à coisa (através da exploração).
Salò ou os 120 Dias de Sodoma, filmado em 1975, é o testemunho último – Pasolini é assassinado neste ano - da poética mais radical do cineasta.


E aqui, cabe citar uma declaração de Hilda Hist feita num depoimento ao Jornal da Tarde:

"No momento em que eu ou qualquer outro escritor resolve dizer-se, verbalizar o que pensa e sente, expressar-se diante do outro, para o outro, o leitor que pretende ler o que eu escrevo, então o escrever sofre uma transformação essencial. Uma transformação ética que leva ao político: a linguagem, a sintaxe passam a ser intrinsecamente atos políticos de não-pactuação com o que nos circunda e que tenta nos enredar com seu embuste, a sua mentira ardilosamente sedutora e bem armada"
(Hilda Hilst)

Entre a estética e a ética onde me coloco ???? Quer saber ? Calígula e Sade sempre me fascinaram... Bonito, mas bonito mesmo é o circo romano, é o sangue a encharcar o solo, o camarada urrando de dor, os soldados de pau duro com a cena e o povo nas arquibancadas aplaudindo, quase gozando...

Odeio gente certinha demais...


Sim... Odeio. Sabe aquele tipo de gente muito comportadinha, certinha, bom filho, boa filha, bom marido, boa esposa. Que vai à missa regularmente. Que sempre tira boas notas. Que não fala palavrão. Que mantém o quarto sempre arrumadinho, com cada coisa em seu devido lugar: nas gavetas, as meias enroladinhas de um lado, cuecas do outro, shorts e camisas ordenados por cores, tudo isso com uma linda e reluzente pedra de naftalina para dar o arremate final. Gente que parece estar sempre usando polvilho anti-séptico Granado entre os dedos dos pés. Que sempre foi motivo de orgulho pra pai, mãe, pra toda a família e vizinhança. Que não enfia o pé na jaca. Que não transgride. Que faz sexo comportadinho, com horário marcado, com cartão-de-ponto ("Agora ainda não, meu bem, não estou preparado[a]. Venha outra hora."). Se rapazes, o cabelinho arrumadinho, alinhadinho, divididinho e penteadinho para o lado; se moças, as perninhas sempre cruzadinhas ao sentar. E os dentes, meu Deus !! Religiosamente escovados 4 vezes ao dia... Sei lá. Essas pessoas não me parecem reais: parecem arremedo de gente. Saídas diretamente de um comercial de sabão-em-pó ou de creme dental. Causa-me ânsias de vômitos gente assim...
Caríssimos leitores, DESCONFIEM SEMPRE DAS PESSOAS MUITO CERTINHAS !!! Hitler sempre foi um exemplo de bom rapaz... hehehehehe
É tipo assim: entre um Kaká sem sal, bom moço e comportadinho e um Edmundo animal, brigão e arruaceiro, acho que vou optar sempre pelo bad-boy... na boa. Essa gente muito certinha, muito boazinha, muito "inha" em tudo, parece não ter sangue nas veias. Parece não saber o que é chorar de verdade. Parece não saber o que é gargalhar de verdade. É assim como dizia o Cazuza, saca ? Parece "que já nascem com cara de abortadas", parece um ser errante que "vê a luz, mas não ilumina suas minicertezas, vive contando dinheiro e não muda quando é lua cheia", parece que "não sabe amar e fica esperando alguém que caiba no seu sonho"... Eu hein !!!!

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

O mundo gira, a roda gira, a pomba-gira...


Umbigo com piercing é muito bonitinho, é sensual demais, é um tesão, é uma gracinha mesmo. Mas onde está escrito que o mundo deva girar em torno dele ??? Olha a vertigem ! Olha a vertigem ! Hehehehehe... Labirintite pouca é bobagem para aqueles que estão se achando, não? Olha a roda-via !!! Olha a roda-viva !!! Né não, Chico ?

Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração



Olha o moinho a girar !!! Olha o moinho a girar !!!! Né não, Cartola ?

Ouça-me bem amor,
preste atenção, o mundo é um moinho,
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos,
vai reduzir as ilusões à pó.

Presta atenção querida,
de cada amor tu herdarás só o cinismo,
quando notares estás a beira do abismo,
abismo que cavastes com teus pés.



Olha a roda da Fortuna !!!! Olha a roda da Fortuna !!! Né não, Carl ?

O Fortuna
velut luna
statu variabilis,
semper crescis
aut decrescis;
vita detestabilis
nunc obdurat
et tunc curat
ludo mentis aciem,
egestatem,
potestatem
dissolvit ut glaciem.

Sors immanis
et inanis,
rota tu volubilis,
status malus,
vana salus
semper dissolubilis...


E assim, meus caros, caminha a humanidade... Tonta, tonta, tonta...

13.11.06

Miriam, eu te aaaaaaaaamo !!!!!!!!!!!!


O revoltadinho aqui estava cheio de idéias revoltadinhas para postar aqui hoje. O Instituto Butantã ia ter que fazer hora-extra para produzir o soro anti-ofídico necessário... Mas aí, de uma hora pra outra, fui desarmado. Há poucas horas atrás, bati um longo papo com minha amiga Miriam no MSN. Meu Deus ! Que poder essa mulher tem de me acalmar !!!!! Suas tiradas fantásticas, seu humor inigualável, sua autenticidade, sua postura cool diante dos fatos da vida, tudo isso me transmite uma sensação de bem-estar que não sei explicar. Nunca nos vimos: conheci Miriam de há pouco. Ela chegou de mansinho lá na "Ame e dê vexame" e foi se instalando, nos cativando a todos... linda, linda, linda !!!! Temos uma sintonia legal. Trocamos assunto dos mais variados, literatura e música sobretudo. Mas também falamos da vida real. De amores e temores... Hoje ela me enviou uma poesia da Adélia Prado que é a cara dela e que reproduzo a seguir:

Casamento
(Adélia Prado)

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.


E me falou mais coisas bonitas também. Para esse meu momento de luto amoroso, de exílio do imaginário (isso é Barthes, tá?), ela me enviou os versos de uma música do Chico, que dizem assim: "mesmo sendo errados os amantes, seus amores serão bons". Reproduzo também essa letra do Chico. Acho que vale a pena.

Choro Bandido
(Chico Buarque)

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim

Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão

E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim

Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons


Pois é, minha amiga. Nós podemos ver na escuridão. O romance até foi falso, o amante até foi errado, mas o meu amor foi tão bom !!!! O meu amor foi cego ???? Talvez. "O amor é cego, Ray Charles é cego, Steve Wonder é cego e o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem". Pena que do outro lado os olhos estavam abertos demais. Ou então, era só um aprendiz de poeta a tatear na escuridão...
Sinto decepcioná-los hoje, caros leitores. Hoje não tem revolta não. Deixarei para rasgar o verbo outra hora, ok? Hoje só vim aqui pra incensar essa linda amiga. Assim ela se descreve em seu perfil no Orkut, citando Clarice Lispector:

Tenho várias caras.
Uma é quase bonita, outra é quase feia.
Sou um o quê? Um quase tudo.

E como nasci?
Por um quase. Podia ser outra. Podia ser um homem.
Felizmente nasci mulher.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.



Miriam, eu te aaaaaaaaamo !!!!!!!!!!

12.11.06

"Somos pássaro novo, longe do ninho..."


É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há

Me diz por que o céu é azul
Explica a grande fúria do mundo
(...)
Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia

(Renato Russo)

É lugar-comum pra caralho, reconheço. Mas absolutamente verdadeiro e certo como dois e dois são quatro... Categórico e radical demais? Pura desesperança, alguns diriam? Foda-se! Não perguntei nada a ninguém...

Acrilic on canvas


É saudade,então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre:"Não foi por mal"
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não ficaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz,então,pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre:"Não foi por mal"
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez

E era sempre,sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito,ela não mora mais aqui"
Mas então,por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"

(Renato Russo)

Guerra "das" estrelas - Episódio II: O ataque (de pelanca) dos clones... Muita complexidade dá nisso...


- Pô, mas vc tinha dito que isso, que aquilo, que pererê pão duro... Vc esqueceu?
- Ué, mas vc tb tinha dito que isso, aquilo e aquilo outro. Esqueceu tb?


Pois é, você me disse muita coisa. E eu também te disse muita, mas muita coisa mesmo. E não me arrependo de nada do que disse. Estaria até mesmo disposto a repetir tudo o que eu disse, se eu achasse que você ainda merecesse ouvir. Mas antes que eu seja tachado mais uma vez de hipócrita e que você me mande de novo ir tomar bem profundo naquele lugar, é preciso que te diga: TÔ PULANDO FORA!!!!!!! E coloco isso em letras garrafais, caixa alta e negrito, para que você mesmo leia isso, para que não seja preciso que ninguém vá te chamar para vir aqui ler (se bem que já posso imaginar de antemão o prazer que isso traria ao arauto em questão). É como você mesmo dise: essa porra dessa história toda não nos vai levar a parte alguma. Seus medinhos, suas certezas calcadas em belas fantasias de contos de fadas não te permitirão jamais enxergar o que está na tua cara há muito tempo. Porra, acorda Alice! Isso aqui não é Hollywood não, caralho! É quando muito uma novelinha água com açúcar reprisada no "Vale a pena ver de novo" da Globo. "I swear" é o cacete, baby!!!!!! Quem vive de passado é museu. Amar mais o sentimento amoroso em si do que a pessoa que o despertou não tem nada a ver. Cai na real!!! E depois ainda vem me acusar de ser eu o neurótico que fico criando idéias na minha cabecinha doente... ah, me poupe, tá legal? Então fica assim combinado: você escolheu seu caminho (a família tá até crescendo... hehehe), eu escolhi o meu. O triângulo de dois vétices (onde o terceiro deveria ficar na penumbra) volta a ser uma linha reta: a menor distância entre dois pontos. Isso mesmo, bem retinha, sem desvios, sem sustos, sem surpresas... Vidinha calma, bem pacata, onde todo mundo sabe o que todo mundo sabe, mas prefere se manter por trás de mesagens cifradas, códigos hipócritas e máscaras quotidianas. Eu não. Eu dou a cara a tapa, meu bem. Ainda que isso signifique me foder de verde, amarelo e fúcsia. Sempre fui assim e sempre serei. Você diz que não se auto-censura???!!! Hahahaha... faz-me rir... Mas, de repente, você tem razão: não é auto-censura, você simplesmente deixa que te censurem. O que, a meu ver, é muito mais grave. Nem por todo amor do mundo eu permitiria que me fizessem isso, ah isso não. E o hipócrita sou eu... tsc tsc tsc tsc...
Sim, você reclama e pergunta se eu esqueci as coisas bonitas que eu te disse um dia. Não, eu não esqueci. E só mais por uma vez, vou te refrescar a memória. Eu já te mostrei isso, mas como de repente não houve o terceiro alguém para te chamar a atenção, talvez a coisa tenha te passado meio que despercebida. Presta atenção desta vez, tá?

CLONES EM TODOS OS SENTIDOS
"A lágrima não é só de quem chora."
(Ana Carolina)


Achas mesmo que não sinto
o que arde em teu peito?
Bem sabes que nada tens
que em mim não reconheças
Sou teu espelho que anula a distância
Mares, fronteiras, línguas desaparecem
quando me olhas assim com ternura
E nesse reflexo, objeto e imagem
se anulam e se refazem -
positivo e negativo que se encontram...

Achas mesmo que não escuto
teu grito de dor?
Bem sabes que de meus pulmões
também o lanço na noite
e em uníssono o entoamos...
Somos feitos do mesmo molde
da mesma carpintaria
erguidos do mesmo concreto
torres gêmeas despencadas
no mesmo onze de setembro...

Achas mesmo que não vejo
teus olhos marejarem?
Bem sabes que te permiti
secá-los nos meus
e, assim, molhá-los também.
Sou o eco de tuas palavras
Sou a legenda do teu som
Nesse filme de opostos que dialogam
E o olho dessa câmera
em conexão cotidiana e duradoura
não permitirá a ninguém –
nem a mim, nem a ti, meu amor
mudar o roteiro que escrevemos juntos.

Achas mesmo que não sinto
teu hálito alcoolizado de pranto?
Bem sabes que nos embriagamos
do mesmo copo tantas vezes
Quando na madrugada me chamaste
e a ti corri obediente
És meu vício – I’m addicted to you
Estás nas minhas veias
És minha doença e minha cura.

Achas mesmo que não sinto
o sabor da tua lágrima?
Bem sabes que teus líquidos e humores
me são todos conhecidos.
Tu me desnudas, me invades
me destróis e me recompões
E o amálgama que usas
nos consolida – eis teu ofício!

(Edmilson BORRET – 24 de setembro de 2006)

Eu te disse, eu te disse, eu te disse!


Hahahahaha... Calma, gente! Não é uma crise de saudosismo não. Se bem que "Carangos e motocas" era show de bola, não?
Mas o título dessa postagem deve-se tão somente à advertência que eu havia feito quando lancei o convite para que viessem conhecer meu blog. Lembro que falei que os mais sensíveis e susceptíveis ficassem longe. Não acreditaram... Eu te disse, eu te disse, eu te disse.... Hahahahahaha
Mas vocês sabem como é, né? Curiosidade matou o gato... E todo mundo quer ter seu dia de gato (ou gata)... hehehehehe
E não é que tem neguim que nem fala direito comigo e que veio aqui no blog vasculhar e foi correndo bater pra outras pessoas: "Você viu o que o Ed escreveu lá no blog dele?"... kuákuákuákuákuákuá... Tô adorando algumas reações!!!!!
Ah sim, não sei se vocês perceberam, mas tô ficando famoso. Até a cantora belga Viktor Lazlo (é cantora mesmo, apesar do nome) andou visitando meu blog. Deixou comentário e tudo lá na postagem sobre o Aznavour... Não tô falando??!!! Não é pouca merda não, é um balde cheio.... Hahahahaha
Quer saber? Pra esses que andam por aí visitando o blog em surdina, sem a coragem necessária de vir me questionar o verdadeiro sentido das minhas postagens (se bem que nada garante que eu o direi... hehehehe) e que saem por aí falando " você viu o que ele disse", só tenho dois recadinhos a dar:

Que importa que o mundo fale?
Responde com um sorriso,
- Um sorriso, e nada mais.

Quando alguém
Só por suposições
Afirma
Alguma coisa má de nós
É porque tem a consciência
De que posto no mesmo caso
Nele seria uma verdade
O que em nós é aparência.

Um sorriso - e nada mais:
Sim, faz o mesmo que eu faço.

(António Botto)



POEMINHA DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

(Mario Quintana)

11.11.06

Dinheiro na mão é vendaval...


Um pai, bem de vida, querendo que seu filho soubesse o que é ser pobre, levou-o para passar uns dias com uma família de camponeses. O menino passou 3 dias e 3 noites vivendo no campo. No carro, voltando para a cidade, o pai perguntou:
– Como foi sua experiência?
– Boa, responde o filho, com o olhar perdido à distância.
– E o que você aprendeu? Insistiu o pai.
O filho respondeu:
– Primeiro: que nós temos um cachorro e eles têm quatro.
– Segundo: que nós temos uma piscina com água tratada, que chega até a metade do nosso quintal. Eles têm um rio sem fim, de água cristalina, onde tem peixinhos e outras belezas.
– Terceiro: que nós importamos lustres do Oriente para iluminar nosso jardim, enquanto eles têm as estrelas e a lua para iluminá-los.
– Quarto: nosso quintal chega até o muro. O deles chega até o horizonte.
– Quinto: nós compramos nossa comida, eles cozinham.
– Sexto: nós ouvimos CDs... Eles ouvem uma perpétua sinfonia de pássaros, periquitos, sapos, grilos e outros animaizinhos... Tudo isso às vezes acompanhado pelo sonoro canto de um vizinho que trabalha sua terra.
– Sétimo: nós usamos microondas. Tudo o que eles comem tem o glorioso sabor do fogão à lenha.
– Oitavo: para nos protegermos, vivemos rodeados por um muro, com alarmes... Eles vivem com suas portas abertas, protegidos pela amizade de seus vizinhos.
– Nono: nós vivemos conectados ao celular, ao computador, à televisão.Eles estão "conectados" à vida, ao céu, ao sol, à água, ao verde do campo, aos animais, às suas sombras, à sua família.
O pai ficou impressionado com a profundidade de seu filho e então o filho terminou:
– Obrigado, papai, por ter me ensinado o quanto somos pobres! Cada dia estamos mais pobres de espírito e de observação da natureza, que são as grandes obras de Deus. Nos preocupamos em TER, TER, TER, E CADA VEZ MAIS TER, em vez de nos preocuparmos em SER.

(Autoria não declarada)

Recebi isso de uma amiga, num dos muitos arquivos .pps que recebo diariamente. Alguns eu leio até o fim. Outros, abro o primeiro slide, vejo do que se trata e, não raro, deleto sem ter lido até o final. Mas esse, em particular, chamou-me a atenção. Tá bom, tá bom, é meio piegas, meio "bicho-grilo", meio "eu quero uma casa no campo" à la Zé Rodrix. Mas tá servindo de recado para uns e outros aí que pensam que grana é tudo na via... Ah, isso com certeza... Meu camarada Sílvio lá da comunidade "Furalhos pra cadido" é que diz: "A grana que a gente deixa no farmacêutico e no médico é diretamente proporcional àquela que a gente ganha a mais, se matando de trabalhar feito um burro de carga em horas-extras."
Então, vai lá, Paulinho! Solta o verbo!

Quanta gente aí se engana
E cai da cama com toda ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou
Mas é preciso viver
E viver não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão

Tensão no Rio - part II : habibi


Finalmente, após quase 11 horas de tensão, o homem foi finalmente dominado e conduzido a um furgão do BOP (Batalhão de Operações Especiais). E parece que, dessa vez, ninguém foi asfixiado no caminho. Nossa puliça tá evoluindo!!!!!!
Excetuando a ex-esposa que sofreu agressões físicas, nenhum dos 38 reféns saiu ferido. Menos mal...

Ironicamente, toda a negociação se deu em frente a uma filial de uma grande rede de fast-food chamada Habib's.

"Habibi" significa "amor" em árabe.

10.11.06

Tensão no RJ: revolta e desiquilíbrio emocional levados ao extremismo passional


A polícia negocia desde o início da manhã desta sexta-feira a libertação de passageiros de um ônibus mantidos reféns por um homem armado, cuja ex-mulher está na mira da arma, na rodovia Presidente Dutra.
Parentes do homem, a mãe e irmã, além de um pastor evangélico foram ao local para tentar ajudar a resolver o impasse.
O seqüestrador, segundo alguns passageiros já libertados, estaria revoltado por ter sido traído pela ex-mulher e ameaça matá-la e depois se suicidar. Os passageiros contaram que a mulher foi agredida algumas vezes pelo seqüestrador.
No momento em que o homem anunciou o seqüestro, pouco depois das 8h, o ônibus estava lotado, mas os reféns foram liberados no transcorrer das negociações.
O incidente lembra outro seqüestro em um ônibus no Rio de Janeiro. Em junho de 2000, Sandro do Nascimento - um sobrevivente da chacina da Candelária, de 1993 - seqüestrou o ônibus 174.
O seqüestro, que durou 4 horas, culminou com a morte de uma das reféns, Geisa Gonçalves, com quem Nascimento, ao resolver se entregar, havia descido do ônibus. Um policial, tentando salvar a refém, atirou na direção do seqüestrador, mas errou o tiro e Nascimento, conforme havia ameaçado, atirou contra a passageira.
O seqüstrador acabou sendo morto por asfixia, na viatura policial, depois de ser rendido.


Espero que nossos mui bem preparados policiais tenham mais tato nesse episódio.

Aznavour: o pequeno grande homem


Situada no Cáucaso, fazendo fronteira com o Azerbaijão e a Geórgia, a Armênia é um pequeno país, metade do tamanho da França em termos de área, com uma população menor que a do interior de Paris. É também um país com uma passado complicado. Colonizado pelos romanos, invadido pelos árabes, saqueado e pilhado pelas invasões turcas e mongóis e conquistado em parte pela Rússia, a Armênia foi vítima de um genocídio feito pelos turcos em 1915, em que um milhão e meio de pessoas foram exterminadas. Incorporado depois disso pela URSS, finalmente o país conseguiu sua independência em 1991.
Foi durante o período em que a Armênia ainda era uma das peças de jogo da URSS, e quando a memória dos massacres turcos ainda era uma ferida aberta, que Misha e Knar Aznavourian decidiram deixar o país para buscar um futuro melhor. Para eles, como para a maioria daqueles buscando emigrar para outras partes do mundo, o sonho de uma vida nova tinha um nome: América.
Esse foi o início de uma longa viagem pela Europa para chegar a um dos portos de saída para a Liberdade, em uma cidade cuja embaixada pudesse lhes dar o visto abrindo caminho para o embarque. Foi então ao acaso que Varenagh Aznavourian nasceu em Paris em 22 de maio de 1924, em uma clínica na rue d’Assas, onde uma enfermeira lhe deu o nome de Charles porque não conseguia pronunciar seu primeiro nome. E, como a cota máxima de imigrantes armênios já havia sido atingida, as autoridades americanas nunca deram à família o visto que desejava, e eles ficaram, para melhor ou para pior, na capital francesa, em um hotel mobiliado na rue Monsieur le Prince.
Um dos mais extraordinários artistas da chanson francesa, Charles Aznavour também destacou-se como um dos maiores astros internacionais, conquistando palcos mundo afora com persistente energia e gravando em inúmeras línguas.
Eleito Artista do Século – à frente de Elvis Presley e Bob Dylan – em uma pesquisa feita na Internet pela CNN e revista Time EUA, Aznavour tornou-se conhecido como o brilhante exemplo de um talento universal artístico de determinação inabalável. Ele é apaixonado pelo mundo (mundo esse em que teve que entrar pelas mais difíceis vias enquanto criança) e precisou trilhar um caminho também nada fácil antes de finalmente chegar ao topo, que nunca abandonou desde então.
Mesmo assim, diferente de muitos que às vezes têm bem menor popularidade, Aznavour ainda manteve as qualidades de um grande coração e o entusiasmo que não diminuiu nem com idade nem com o sucesso. E essa é sua verdadeira grandeza, apesar da pequena estatura.
O que eu gosto no Aznavour é aquele "e" final bem marcado, a voz diferente. Aliás, embora possuidor de uma forte coragem, seu físico e sua voz muito especial não eram bem aceitos pela crítica, nem pela imprensa, que não o poupavam de zombaria e escárnio. Mas vá lá entender a cabeça desses merdas que se julgam conhecedor de alguma coisa, né não?
Mas por que fui lembrar de Aznavour agora, meu Deus? Ah sim... porque ele escreveu algo que, nesse exato momento, eu gostaria muito de ter escrito. Ou, quando muito, de ter berrado a plenos pulmões:

Un beau matin, je sais que je m'éveillerai,
Différemment de tous les autres jours,
Et mon coeur délivré enfin de notre amour
Et pourtant.. Et pourtant..

Sans un remords, sans un regret, je partirai
Loin devant moi, sans espoir de retour
Loin des yeux, loin du coeur,
J'oublierai pour toujours
Et ton corps, et tes bras, et ta voix,
Mon amour

Et pourtant..
Pourtant, je n'aime que toi

J'arracherai, sans une larme, sans un cri
Les liens secrets qui déchirent ma peau
Me libérant de toi pour trouver le repos
Et pourtant.. Et pourtant..

Je marcherai vers d'autres cieux, d'autres pays
En oubliant ta cruelle froideur
Les mains pleines d'amour,
J'offrirai au bonheur
Et les jours, et les nuits, et la vie
De mon coeur

Et pourtant..
Pourtant, je n'aime que toi

Il faudra bien que je retrouve ma raison
Mon insouciance, et mes élans de joie
Que je parte à jamais pour échapper à toi
Et pourtant.. Et pourtant..

Dans d'autres bras, quand j'oublierai jusqu'à ton nom
Quand je pourrai repenser l'avenir
Tu deviendras pour moi
Qu'un lointain souvenir
Quand mon mal, et ma peur et mes pleurs
Vont finir

Et pourtant..
Pourtant, je n'aime que toi




O que dói mesmo é saber que existe o tal do "et pourtant"... Meeeeerda!!!!! Oh vida, oh dia, oh azar...


Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....

9.11.06

In & Out


Aí vieram me perguntar: “por que essa história de blog agora, Ed?”
Ah... sei lá por quê. Porque tá na moda. É isso: porque tá na moda. Pronto! Já tenho a resposta na ponta da língua quando vierem me perguntar de novo. Inclusive, já até postei lá na minha comunidade do Orkut (para aqueles que não sabem, eu tenho uma comunidade... segue abaixo o link) algo nesse sentido:

Canalizarei from this moment on toda minha revolta e insatisfação para o blog que acabei de criar. É, essa história de blog virou moda mesmo... E como não gosto de ficar Out em nada mesmo, resolvi me tornar In: insatisfeito, insensível, intransigente, inergúmeno, inconseqüente e, por que não, inbecil, inpaciente, inprovável e inpossível.
Aos mais sensíveis e susceptíveis aconselho nem passar perto, ok?


Ah sim...
Aumentando a listda do IN: incrédulo, insosso, intragável, insurecto, insano, insone, indecente, insuportável, insolente, insólito, insolúvel...
What else? Quoi encore? O que mais?...hehehehehehehe


Aí, alguém lá da comunidade que criei sugeriu o seguinte:

Ed, que bom que vc tá IN e não OUT.
Já pensou nesse ângulo?
Outra coisa, se vc tá Yin, coloque um pouco de Yang que equilibra!
Beijos desputecidos. Desputece aê!


Não é que eu gostei desse lance do yin e yang? E, de certa forma, essa papo de blog está justamente me ajudando a promover esse tal equilíbrio...

Então, meu outro amiguinho de comu, o arruaceiro do Alysson, disse que essa história de blog não lhe agradava muito. Que era coisa de “barbie”. Aí criou-se uma situação bastante paradoxal. Explico: tá ok, admitamos que é coisa de “barbie”! Então eu estaria fazendo meu “out”, certo? O que poderia significar o caminhar na direção de uma certa feminilidade latente, o despertar da änima, ok? Mas “out” também seria o yang, o exteriorizado, o viril, o fálico. Cheguei a um impasse, amigos... Tirem-me dessa, please! Pois eu decidi que agora quero ser “in” e, portanto, como me sugeriram, yin... É paradoxal ou não? Ah... deixa essa porra pra lá!
Oh Alysson, seu muquirana, quer dizer que é coisa de “barbie”, né? Tão tá intão! Cantarei... Prepare os ouvidos!

Sou a Barbie Girl
Se você quer ser meu namorado
Fica ligado, presta atenção
Na minha condição
É diferente, sou muito exigente


Durma-se com um barulho desse!!!!! Hehehehehehe

A propósito: a comunidade da qual falei chama-se Ame e dê vexame. Para aqueles que estão no Orkut e só clicar aqui: "Ame e dê vexame"

Sexo, drogas e rock’n’roll...oh yeah!!!! A santíssima trindade...


Diálogo travado agora há pouco com uma figura no MSN:

- Bom dia, Ed.
- Fala aí.
- Tudo bem?
- Tudo blz, e vc?
- Blz. Poxa, cara, fui lá ver seu blog.
- Sério? E aí, o que achou?
- É né...
- Como assim “é né”? Gostou ou não gostou?
- Ah sei lá, esperava mais.
- Mais? Como assim?
- Axo que esse blog não vai dar muito ibope naum.
- Porra! E eu lá sou candidato pra dar ibope, meu querido?
- Ah naum sei cara, algo mais emocionante, mais radical, mais chocante.
- Meu querido, se vc quer algo mais chocante, enfia o dedo numa tomada de 220 Volts.
- Hahahahahahaha... só vc Ed.
- É... sou eu.
- Blz... vou lá então, vlw?
- Vlw.
- Nos falamos depois então.
- Ok... vai lá.
- Fuiiiiiiiiiiiiiiii.


E foi mesmo.
Depois tem gente que não entende por que eu quase não apareço no MSN e que, quando o faço, me coloco no status de “Aparecer offline”. Ter que travar um diálogo desses logo de manhã é como uma foda mal dada. O que será que a figura quis dizer com “dar ibope”? Com algo “mais emocionante, radical e chocante”? Parei pra pensar nas várias possibilidades, não sem antes me lembrar dos vários blogs que rolam por aí na net. Tem para todos os gostos. Tem os relatos e diários de putinhas e ex-putinhas, tipo Bruninha Surfistinha e cia. Aliás, o www.putinhas.com.br está invadindo nossas comus e nossos perfis no Orkut. Mas como não sou uma putinha (ainda não atingi esse nível de perfeição), eu poderia inventar umas memórias de ex-michê. Seria legal: nada mais emocionante e chocante, não? Mas aí, eu seria desmascarado no primeiro minuto. Com esse corpinho ridículo que Deus me deu, ninguém ia engolir a lenda. Poderia ser também um blog de um viciado ou ex-viciado, narrando todas as vicissitudes e agruras do mondo canis. Putz! Essas coisas costumam agradar e muito. Parece que quanto mais submundo é a coisa, mais interesse desperta no leitor. Uma forma de catarse, entende? O que dá um ibope legal também são aqueles blogs que pegam o leitor pelo que lhe é mais caro: a piedade. Nesse sentido, proliferam os blogs de pessoas que vivem ou viveram alguma doença bem cabeluda, tipo câncer e Aids.
Genteeeeemmm!!!!! Isso aqui não é um filme do Babenco não, valeu? It’s just a blog! Um blog meio “rebelde sem causa”, mas ainda assim um blog. Não esperem grande coisa. ok?
Bom, mas uma coisa é certa: depois dessa postagem aqui, provavelmente a figura vai ficar puta da vida comigo e não vai mais me procurar no MSN. Quer saber? Foda-se!
Eu hein, Rosa!

Que porra de escola é essa que nos adoece?

Não sei se todos sabem, mas sou um professor de língua portuguesa da rede municipal do Rio de Janeiro. Bom, quando digo "sou" é porque ainda não fui educadamente convidado a me afastar definitivamnete da rede, uma vez que da sala de aula já estou ausente pra mais de 2 anos. É isso aí: sou mais um que engrossa a tão famosa lista de professores licenciados (aqueles, sabem, que muitas vezes são vistos como meros vagabundos que acharam uma maneira de ficar em casa sem fazer nada, mamando nas tetas do governo). Pois é, eu achei uma maneira bem eficaz mesmo: contraí uma tuberculose. Quase morri, é bem verdade, mas pelo menos posso me orgulhar de estar aqui coçando o saco enquanto meus colegas estão lá dando o sangue pelo magistério... Ai ai, como eu fui esperto!
Estava conversando hoje ao telefone com uma colega de profissão e ela me dizia:
- Ed, fica por aí mesmo. Não volta não. A coisa aqui tá feia.
- Como assim, tá feia? Pior do que estava quando entrei de licença?
- Pior, muito pior. Não sabemos onde isso tudo vai parar.
- Caralho! Assim, você até me assusta!
- Que bom! É pra assustar mesmo. Assim você não entra numa de brigar com a Perícia e insistir para voltar. Se eles quiserem te aposentar, aceita. Conselho de amiga...

Desliguei o telefone mais arrasado ainda do que já estava. Já tava puto com uma série de coisas que vêm me acontecendo nos últimos dias, e agora mais essa bela notícia. Então me veio à mente um artigo que li não sei onde sobre o tal do burnout, essa porra desse mal que anda assolando algumas categorias profissionais, sobretudo a dos professores. E então as idéias começaram a fervilhar nessa minha cabecinha de vagabundo, doente e licenciado. Depois do que essa colega me disse, comecei a pensar na fila interminável que tenho que enfrentar toda vez que tenho que ir lá na bendita Perícia do Município: putz! é professor a torto e a direito (sem trocadilhos, ok?). Mas, por que, afinal, tantos de nós adoecemos? na minha costumeira e conhecida prolixidade, tentarei expressar o que eu acho de tudo isso.
Para o senso comum, o conceito de saúde é a ausência da doença.
Mas, afinal o que é a doença? Podemos defini-la como alteração no corpo e na mente, causada por diversos fatores. Existem, é claro, inúmeras causas de doenças, mas, vamos nos reportar a algumas mais comuns da vida moderna e a razão pela qual somos acometidos com tanta freqüência por elas. A saber, as doenças relacionadas à atividade do trabalho, por exemplo: LER, decorrentes dos esforços repetitivos; pneumonia dos trabalhadores das minas de carvão; etc.
Antes de qualquer coisa é preciso gerar um grau de clareza e objetividade, para que o entendimento seja acessível a qualquer pessoa que queira se aplicar em saber um pouco além do que as situações atuais normalmente permitem. Somos todos semelhantes no Físico, todos temos uma Mente como instrumento que permite que a Inteligência enfoque pontos de referência (idéias) no cérebro, mas primordialmente somos uma Consciência que pode ser atuante em qualquer idade. Quando o organismo, como um todo, apresenta um estado de equilíbrio em suas reações químicas e em seus níveis de energia, experimentamos uma sensação agradável que corresponde à perfeita harmonia no funcionamento dos conjuntos de órgãos como Sistemas e Aparelhos. Temos então uma condição que poderíamos denominar de uma experiência de saúde. Se tomamos consciência de situações que provocam emoções conflitantes e que resultam em sensações desagradáveis de desconforto, como tristeza, amargura, medo, incerteza, insegurança e que geram estados de tensão na consciência, experimentamos um desequilíbrio energético que pode ou não evoluir para uma sensação ou sintoma desagradável como uma dor de cabeça, uma gastrite, uma colite, e essa é uma experiência não saudável. O importante é perceber que se a nossa consciência não passa por tensões e se permanece em um estado de equilíbrio que podemos denominar de um estado de paz, seja superficial ou mais profunda, não há desequilíbrio energético nem desequilíbrio nas reações químicas e a experiência de saúde permanece. Inversamente, se tensões na consciência mantém o desequilíbrio, mantém-se os sintomas e estes evoluem para uma doença declarada. Experimentamos então um estado de doença.
Esse início de texto pode parecer para alguns uma digressão meio sem sentido, mas é a partir dessa discussão que deveríamos questionar o quanto as situações conflitantes do magistério (nos níveis municipal, estadual, federal e, por que não, particular) estão contribuindo para esse desequilíbrio que caracteriza a doença.
Vivemos a tensão do dia-a-dia em sala de aula, onde nos deparamos com a falta de condições de um trabalho digno: o despreparo de nossos alunos; a superlotação das turmas; os baixos salários; a insalubridade do ambiente de trabalho; a falta de perspectiva de crescimento devido à ausência de um plano de carreira; o corte de benefícios e conquistas; as leis, decretos e resoluções que nos deixam de mãos atadas, vendo nossos alunos aprenderem cada vez menos em nome de um desempenho virtual e irreal que mascara suas reais deficiências.
Tudo isso nos cala fundo e nos marca justamente lá: na consciência – onde o desequilíbrio se instala e degrada. Mas, para os padrões da nossa Perícia na rede municipal de ensino, ainda não estamos doentes, uma vez que esse desequilíbrio no emocional ainda não evoluiu para os males acima descritos (dor de cabeça, gastrite, colite, etc.). Mais uma vez o senso comum impera: saúde = ausência de doença. E assim nos afundamos e nos atolamos cada vez mais em nossas idiossincrasias na maioria das vezes imperceptíveis mas já irremediavelmente indeléveis.
A pergunta do título deste texto, então, torna-se cada vez mais de fundamental importância: que porra de escola é essa que nos adoece? Que ritmo de trabalho é esse que provoca esse desequilíbrio nas reações químicas de nosso organismo e em seus níveis de energia, comprometendo a perfeita harmonia de seu funcionamento? E isso se quisermos nos ater somente a essa visão subjetiva da doença de que estamos tratando. Porque se partimos para a questão objetiva, aí a coisa piora sensivelmente. Em termos absolutos, podemos citar os males da insalubridade a que o professor está sujeito na sala de aula: os calos nas pregas vocais, os problemas de coluna, as varizes, a má circulação dos membros inferiores, os problemas de visão, além das doenças que muitas vezes nossas crianças trazem para o nosso convívio: as meningites viróticas, as tuberculoses, etc.
Finalizando, quantos de nós, professores, estamos doentes pelo exercício de nossa profissão e ainda não sabemos? Devemos esperar que as várias e prováveis patologias se instalem em nosso organismo para que possamos gritar por socorro? Será que essa nossa profissão tem que significar tal sacrifício e “sacerdócio” a ponto de não reagirmos a essas ameaças, por vezes latentes, mas muitas vezes mais do que evidentes?
Quer saber? É foda!

8.11.06

Poema em linha reta


Há alguns que me acusaram de copiar um pouco Fernando Pessoa, mais exatamente seu heterônimo Álvaro de Campos, nesse poema que postei logo aí abaixo ("O ocaso"). Será? Pode até ser... Álvaro de Campos sempre foi uma referência e tanto pra mim... Cara sangue-bom tava ali, na boa.
Esse poema está nas Ficções do interlúdio. Mas, embora atribuído ao Álvaro de Campos, essa desconfiança bastante radical, Fernando Pessoa é que a manifesta em relação aos outros, em relação ao que, em outro poema, em outro contexto ele chama “A sociedade organizada e vestida”, e em relação também a si mesmo, à sua vida e à sua percepção da realidade, essa desconfiança aparece em numerosas passagens no conjunto da obra. É um tema recorrente na obra de Fernando Pessoa.
O mesmo Álvaro de Campos, na “Tabacaria”, diz:

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.


e, um pouco adiante, faz uma confissão terrível: “Falhei em tudo”. E mesmo Ricardo Reis adverte: “Nada fica de nada. Nada somos”, já envolvendo os outros também: começa por si, autocriticamente, mas se estende a um âmbito mais crítico, geral, mais abrangente.
Na obra ortônima, assinada pelo próprio Pessoa, também se pode ler igualmente:

Falhei. Os astros seguem seu caminho.
Minha alma, outrora um universo meu,
É hoje, sei, um lúgubre escaninho
De consciência sobre a morte e o céu.


A reflexão autocrítica está presente, portanto, ao longo de toda a obra, do conjunto dos escritos de Fernando Pessoa. E eu acho que o que há de novo e o que há de mais original, mais forte no “Poema em linha reta” é o desdobramento da autocrítica, não mais numa crítica ao outro, mas uma crítica à falta de autocrítica dos outros. Quer dizer, acho que se pode enxergar nesse poema a revolta de alguém que se mostra efetivamente capaz de se interpelar a respeito do seu lado noturno, digamos. Discorre sobre o que ela tem de mais problemático, mais doloroso e mais fracassado, sobre sua própria vileza, e vê essa sua franqueza, essa sua coragem resvalar na muralha hipócrita de um sistema que está alicerçado em uma enfática autovalorização artificial, por parte das pessoas em geral.
Mas vamos ao poema...

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



Mas, sinceramente, acho que meu poema tem mais a ver com o "Cântico Negro" de José Régio... na boa.

Língua solta? Eu? Magina !!!!!!!!!!


Pois é. Volta e meia sou acusado dessa coisa aí: a tal da língua solta... Sabem que até já pensei em providenciar um sutiã de língua!!! Será que existe? Se não, alguém há de se compadecer dessa alma perdida aqui e patentear tal invento. A esperança é a última que morre, amigos...
Mas, fala sério! Por que diabos dizem que tenho a porra da língua solta? Quer saber? Cada vez me convenço mais que o problema não é a minha língua solta, mas o ouvido preso de alguns... Aliás, não só o ouvido, mas os sentidos todos; e, algumas vezes, por que não, cu preso também... É isso: tem gente que tem cu preso. Medinho babaca de ouvir o que se nos mostra, o inegável. Susceptibilidade demais me irrita, saca? Obviamente que sei também que "quem fala o que quer, ouve o que não quer". Mas é isso aí: eu tô querendo é mais!!!! Venham para o embate, porra!!!! Mas não entra nessa de dizer que eu falo demais! Ah, me poupe! Tô legal desse papinho mais ou menos.
A propósito, houve algumas pessoas que se sentiram profundamente ofendidas recentemente só porque enviei uma mensagem automática no Orkut para todos os amigos da minha lista. Explico: como eleitor do Lula, eu nunca fui no Orkut de ninguém fazer campanha pra ele ou esculhambar o Alckimin. Mas a galerinha insistia em vir fazer piadinha contra o Lula na minha página, embora eu já tivesse pedido várias vezes que não o fizessem. Pois bem, quando da reeleição do Lula, enviei uma mensagem automática a todos os amigos, expressando todo meu escárnio e minha gutural gargalhada de vingança para aqueles que tinham me enviado as piadinhas. Só que, nessa mensagem, eu deixei bem claro que ela era endereçada a quem de direito, ou seja, aos que não me respeitaram quando lhes foi pedido. Não é que choveram mensagens em resposta, de alguns que se diziam altamente ofendidos pelo que eu enviei, dizendo-se inocentes e nunca tendo enviado as tais piadinhas pra mim... Mas, porra, será que essas pessoas não sabem ler???? Caralho! Eu deixei bem claro que a mensagem destinava-se aos piadistas, e só a eles. Eita povozinho difícil de entender a própria língua... (olha a língua aí de novo)
Doutra feita, me acusaram de frieza e crueldade quando da publicação desse poema aqui... Ai ai ai... Quer saber? Cansei...

O OCASO
“Par délicatesse, j’ai perdu ma vie.”
(Rimbaud)


Num átimo
despenquei do meu olimpo
e vim dar na terra dos rotos
esfarrapados e patéticos...
De besta que sou
acreditei na fagulha
que nos olhos de toda humanidade
me acenava
A desmedida fez de mim
o Prometeu desusadamente tolo
arrogante e néscio
Nesse sem-fim dos meus dias
a corroer-me cérebro e entranhas
Porra! estou farto da bondade alheia...
E cansei-me de mim
Cansei das repetidas
palavras de amizade
dos homens e mulheres de bem
Quero o vendaval
dos sentimentos torpes e imundos
Quero a poeira dos solos
a queimar-me a língua
Quero a podridão da carniça
a invadir-me as narinas
Sou todo os Riobaldos desse mundo
perdido em sua neblina jagunça
nesse sertão sem vereda
- Ai essa Minas me aniquila !
Não me falem
da beleza das relações
Muito menos da promessa de vida
na aurora dos dias
Não me prometam
amizade eterna
Não vertam suas lágrimas
em minha intenção
Deixem-me em paz, oh bonzinhos de merda!
Que eu quero ir
na direção contrária ao engodo
de seus olhos
de escárnio e piedade
Soltem-se as amarras
do meu barco infeliz e louco
Que eu quero partir desse cais
e ir ser menos que eu
no mar revolto
das garrafas de náufragos...
Antes a frieza das geleiras
dos mares do norte...
Antes as tentações
no deserto escaldante
de minha alma...
Antes as pernas abertas das putas
e o canivete oculto dos michês...
A assepsia do sorriso
e das mãos de todos vocês
me enoja
Causam-me ânsias
suas certezas medrosas
suas felicidades fingidas
seus amores de novela das oito
Oh corja vil de perdedores!
Saiam do meu caminho
Desimpeçam minha sarjeta
Não me estendam a mão
Não me dirijam a palavra
Que os esquecerei
com a mesma violência
com que todos vocês outrora,
em seu canto de sirena,
me levaram à perdição.

(Edmilson BORRET - Setembro/2006)

A propósito do título do blog


Eis aqui o poema que deu origem ao título desse blog. Escrito em 1987, já naquela época, aos 20 anos, o cara aqui era meio chegado a uma rebeldia. E se vocês pensam que esse traço do caráter arrefeceu com a idade, ledo engano, caros leitores... O que me faz continuar vivo é justamente esse meu espírito eternamente contestador... Bem, vamos ao poema então.




"Pares cum paribus congregantur"


Quando nasci
não nasci torto
nem feio.
Como bom leonino
saltei na vida
e pedi a palavra
— Gauches são vocês, meus caros!

Onomástico sete
cabra no chinês
elemento fogo
incomodo antes
por ideologia
depois por aparecer.

Que me juntem aos pares
que me apontem na rua
que me lancem maldição!...
mas não me peçam
moderação ou paciência.

Não serei menor que meu mundo,
meu tempo, minha boca.
E além do mais
acredito na possibilidade
de se recuperarem os povos.

Fujo do igual
e no diferente
me encontro com o igual.
Vão lá vocês entender isso!

(Edmilson BORRET - Abril/1987)
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